Coluna Propaganda&Arte

Quanto custa essa arte?

guerraarteDiscutir sobre arte é saber, desde o começo, que estamos certos e errados e que muitas interpretações são possíveis, pois tratamos do subjetivo, do psicológico, daquilo que não se pode medir: a importância da arte para um indivíduo e para a história da humanidade.

Se o assunto é preço essa diferença pode ser gritante (desculpe o trocadilho), como é o caso de “O grito”, obra do norueguês Edvard Munch, vendido por mais de US$119 milhões.

Curta-metragem inspirado em “O Grito”

Se você acha esse preço alto, saiba que ele é só o terceiro no ranking dos mais caros já vendidos no mundo. Isso quer dizer que existem outros fora desse ranking, que nunca foram vendidos e possuem preços gigantes ou “incalculáveis”. Sobre esses casos específicos, falaremos em outra oportunidade.

“Mulheres de Argel” do Pablo Picasso e “Três estudos de Lucian Freud” do Bacon, fecham nosso top 3, respectivamente com primeiro sendo vendido por mais de US$179 milhões e o segundo por mais de US$142 milhões. (Olha que estamos falando em dólares!)

Tudo bem… Que o negócio da arte pode ser lucrativo e movimentar bilhões anualmente, você já deve ter percebido, porém esse reconhecimento (muitas vezes tardio) já ultrapassa o nicho dos especialistas e está chegando até a cultura popular. Nessa hora a propaganda ganha material relevante para trabalhar em suas campanhas e peças interessantes surgem, como o caso dessa ótica que representou o autorretrato de Vincent Van Gogh sendo corrigido pelas lentes do produto.

Vemos então, que a propaganda pode se apropriar de uma obra introduzindo-a explicitamente como um item de argumentação visual, ou inspirar-se no seu conteúdo para gerar um conceito. Como exemplo, lembro as propagandas totalmente malucas que surgiram nos últimos anos, inspiradas em surrealistas, como Salvador Dalí, que brincam com imagens, recortes realistas e ao mesmo tempo impossíveis, com repetições bizarras de cenas e simbologias oníricas. Dessa nova geração, lembro das propagandas e cortes de câmera realmente pirados do Old Spice, um desodorante masculino, que para mim é um exemplo contemporâneo do nonsense em grande estilo.

Mas o que a propaganda tem a ver com o preço da arte?

Parece que tudo. Se pensarmos que a propaganda tem o poder de agregar valores subjetivos a um artista ou a um movimento, ela tem papel fundamental no reconhecimento de alguém. Um exemplo atual é o caso do polêmico Romero Britto, artista brasileiro que mora no exterior e tem grande reconhecimento mundial. Não estou aqui para discutir sobre a relevância ou qualidade de seu trabalho, mas sim reconhecer sua importância na cultura popular, uma vez que suas obras estão sendo compradas aos milhares por famosos e anônimos de todo o mundo.

É observável que suas peças são coloridas, simples e retratam coisas e pessoas sempre de forma irreverente e positiva. Talvez ele tenha conseguido fazer algo que poucos artistas conseguem: transformar seus trabalhos em produtos e seus traços em um tipo de marca registrada. Ele soube criar o seu valor e não precisou morrer para ser reconhecido.

Obras de Romero Britto já foram vendidas na faixa de US$800 mil, apesar de esse não ser o seu foco, conforme disse em uma entrevista. Segundo relatado, sua estratégia é apostar na venda em quantidade para o público em geral, ganhando assim, maior receita. Isso pode ser comprovado com tantos produtos no mercado que utilizam suas obras para ilustrar cadernos, móveis, vestuários, bolsas, etc.

No final das contas, o artista que percebeu o poder da propaganda e usou ela a seu favor, conseguiu criar um estilo, uma tendência e hoje consegue fazer o que muitos artistas sonham um dia alcançar: viver de arte. Agora, se para você essa arte não tem valor, isso já são outros 500s.

Minha obra favorita de todos os tempos? Eu gosto do Salvador Dalí e da obra “Sonho causado pelo voo de uma abelha em torno de uma romã um segundo antes de acordar”.

E você? Qual sua obra de valor incalculável?

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