Influenciadores e influenciados

Por Marli Gonçalves*

Influenciadores, influenciadoras, influencers. São notícia todos os dias. Para o bem e para o mal. Virou quase uma praga: cuidado que você pode ir tomar banho e encontrar um deles dentro do seu box indicando algum shampoo ou sabonete. Olhou no espelho? Repara que deve ter alguma por perto mostrando um creminho que faz maravilhas. Abriu o armário? Pronto: olha a tendência, com forte acento no ê.

Os influenciadores, influencers, são um fenômeno impressionante dos últimos anos de redes sociais digitais e que a cada dia se amplia em todos os aspectos da vida. Não tem como escapar, embora cada pessoa, parece, tenha os seus, de “estimação”. A cada dia surgem outros, em todos os cantos, em todos os assuntos. Nomes alçados a celebridades e que a gente nunca ouviria falar até que apareçam. Ultimamente, inclusive, nas páginas policiais quando maravilhados com ganhos incríveis se atolam em crimes, como jogos de azar, rifas falsas, golpes amorosos.

Uma nova categoria humana, baseada sempre em números, de seguidores, curtidas, apoio de empresas, vida pessoal mostrada como reality, dancinhas. Se espalham atraindo e reunindo pessoas em torno delas, em geral tudo iniciado com um golpe de sorte, alguma viralização, esse cavalo bravo que ninguém sabe bem exatamente de onde vem, como se monta ou como se doma.

Muitos já são conhecidos, como artistas, jornalistas, cozinheiros, BBBs e quetais, mas uma grande parte dos que ouvimos falar surgem quase que do nada. Pior é quando sabemos que existiam só quando morrem ou se metem em alguma encrenca, o que anda sendo bem comum.

Você tem algum de estimação? Quem é que o influencia? Influência é poder, e o poder sempre pode ser muito perigoso, principalmente quando descamba para a política, para ser dono de alguma verdade, como vimos muito por aqui nos últimos tempos causando controvérsias e crises com a disseminação de mentiras, como as da questão das vacinas e que tantas vítimas ainda podem estar causando.

Marli Gonçalves

Muitos mostram mundos irreais, para a maioria inacessíveis vidas de luxo. Em qualquer evento é comum encontrar alguns e algumas carregando consigo a tiracolo assessores e fotógrafos para que se registrem como se naturais fossem atos absolutamente programados. Pagos. Amo, inclusive, a nova expressão incorporada: “recebidinhos”. Presentes, brindes, etc. que amealham com os números que exibem em posts regiamente pagos, que juram ser de produtos que realmente usam.

Já surgem influencers de tudo. Assim como na internet onde se acha qualquer coisa, esse impressionante tudo. Basta procurar. Você acha; e vai encontrar também alguém especialista que procurará nortear seu entendimento sobre o assunto, por mais local e restrito que seja. Uma forma de comunicação que merece a atenção e uma análise mais aprofundada porque acabam se tornando veículos de transformação, seguidos por legiões.

Não consigo, no entanto, deixar de lembrar, pensar e associar perigos nos influenciadores e suas “flautas” ao incrível e triste conto dos Irmãos Grimm, sobre a lenda do estranho flautista que surgiu na Alemanha, Cidade de Hamelin, em 1284, e que mais precisamente em 26 de junho daquele ano teria sumido com 130 crianças que o teriam seguido hipnotizados pelo som da flauta, pela floresta, de onde nunca mais apareceram. O homem, assim, se vingava da cidade onde havia sido contratado para acabar com uma infestação de ratos que a tudo destruía. O flautista assim o fez, mas como não quiseram lhe pagar o combinado pelo serviço, usou o mesmo estratagema com as crianças, aproveitando quando todos estavam na igreja. Teriam sobrado, segundo a mesma lenda, apenas três crianças: uma era surda e não ouviu a música, outra era cega e não conseguiu ver para onde todas iam; uma terceira, com problemas nas pernas não teria conseguido acompanhar a turma.

Há muitas versões, inclusive de como houve mesmo uma inspiração real para os Irmãos Grimm escreverem muitos séculos depois o famoso conto sobre essa terrível história. As crianças poderiam ter morrido com a peste negra, transmitida por ratos, e o flautista seria apenas a personificação da morte. Com a extrema pobreza, há outras versões, inclusive a de que as crianças teriam sido mandadas embora pelas suas próprias famílias, para que fugissem da fome. A mais terrível: o flautista poderia ter sido um pedófilo. Como a lenda persiste até hoje, a rua onde as crianças teriam sido vistas pela última vez é chamada Bungelosenstrasse (rua sem barulho). Leva esse nome por que ali ainda seria proibido tocar música ou dançar.

Daí lembrar que é sempre bom ver e ouvir com atenção que apito tocam os influencers que seguimos encantados.

*Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Coluna Propaganda&Arte

Os números da campanha podem enganar você e ninguém fala disso

Sempre que vejo discussões sobre campanhas on-line e off-line, fico de olho. Algumas pessoas defendem 100% as novas mídias e outras ainda confiam muito nas tradicionais (TV, Rádio etc.). No meio dessa bagunça de opiniões/resultados, onde você se enquadra? Talvez os números estejam enganando você e ninguém parece querer tocar nesse ponto.

Falsos indicadores

Há pouco tempo atrás (e para algumas pessoas ainda é uma realidade), o sucesso das redes sociais e campanhas on-line só podia ser medido em números e quantidades. Mais curtidas, milhões de seguidores, centenas de compartilhamentos, recorde de leads, mais impressões e por aí vai.

Essa fissura por números astronômicos tem se mostrado ineficiente em longo prazo e está fazendo as próprias empresas e agências reverem seus indicadores relevantes, os KPIs e metas. Afinal, já perceberam que conseguir mais curtidas no post não vende produto, fazer viralizar algum meme não garante fidelidade de marca ou investir em Google Search não é certeza de ficar em 1º lugar nas buscas.

Além do mal-uso dos dados, problemas técnicos nas plataformas e nos resultados dos dashboards podem levar as agências e clientes a terem uma falsa compreensão da realidade. Muitas vezes, até as agências podem fazer (sem querer ou por má-fé) uma divulgação parcial dos números de uma campanha para se chegar a conclusões precipitadas ou até equivocadas. Isso é compreensível, as regras e algoritmos mudam toda hora! Mas isso não é tudo culpa deles, tem culpa nossa no meio.

Na era da internet, todos querem números e respostas imediatas

Números ok, você consegue. Respostas? Nem tanto. Por não saber exatamente o que se passa na cabeça do consumidor, você apenas sabe que ele curtiu, compartilhou, visualizou, converteu, se interessou (no máximo). Daí o trabalho segue para compreender mais esse cara e seus anseios reais.

Não adianta, por mais que você tenha alguns resultados eles não podem gerar interpretações consequentes apenas no achismo. “Esse post teve mais visualização, por causa disso”. Você só sabe que ele teve mais visualizações que outras peças e só.

Falsos usuários

Para deixar esse cenário digital ainda mais caótico (o que muitas agências preferem dizer que é perfeito), ainda temos milhares de perfis e programas sendo usados para criar perfis falsos, vender likes, criar falsos engajamentos e até falsos influenciadores. Isso mesmo.

Já existem pessoas que criam “falsos influenciadores” para conseguir enganar grandes marcas

O Facebook está tentando ao máximo acabar com os robôs, o Instagram está tentando ganhar mais controle de seus usuários, tirando funções e colocando novas. Outros canais como Youtube têm feito mudanças ainda mais duras, forçando usuários e canais a produzirem como loucos, tudo para entregar algo mais relevante e gerar mais interações na sua plataforma. No final, já não sabemos exatamente para onde correr.

Quem disser que sabe de tudo da internet é desinformado ou mal-intencionado

Nos últimos meses, o Instagram mostrou 15 vezes mais interações que outras redes sociais, mas não basta seguir as tendências. Temos que ver o público do cliente. Se ele não está nessa nova onda, esquece. Você vai falar com pessoas que não são seu público. Não dá para vender aquele pack de plataformas pra todos os clientes. Pode funcionar, mas você não vai nem saber o motivo.

Pare de “andar na moda”, fazer o que todos fazem. Comece a olhar pro seu cliente com carinho

Não quero deixar você com uma impressão negativa do mundo on-line. Acredito que é possível sim criar uma relação de confiança com o cliente, mas é preciso abrir o jogo, mostrar que não existem verdades absolutas, mas sim tendências, experiências e testes. Rever seus objetivos e metas ajuda. Busque ser um consultor do cliente para ele buscar as perguntas certas.

Alguns indicativos relevantes para seu cliente podem ser caminhos para se chegar a algo e não o próprio algo, entende? Senão, você vai alcançar seus objetivos digitais e não vai ajudar o cliente mesmo assim. No final, é vendas, fidelidade e lembrança de marca que vão realmente fazer a diferença nas contas de quem paga a sua conta (agência). Vamos ser profissionais mais sinceros e não nos contentar com os primeiros números e as primeiras respostas? Vamos mergulhar nessa loucura do mundo digital com vontade de aprender e acertar muito além dos números? Posso contar com você?

Coluna Propaganda&Arte

Instagram cortou os likes e seu ego pode não gostar disso

Com a nova atualização do Instagram, especificamente no Brasil, a rede social desabilitou a visualização de likes nas postagens. Como isso vai afetar, em longo prazo, na sua autoestima?

O Facebook e o Instagram já são palco de uma inconsciente competição por mais likes há anos. Isso já foi analisado por psicólogos e universidades ao redor do mundo e perceberam que a felicidade, autoestima e sensação de pertencimento do usuário destas redes sociais está intimamente ligada à quantidade de likes que recebe ou que outros recebem (no caso de sentimentos negativos de inveja, por exemplo) em cada postagem.

Com o objetivo de diminuir essa competitividade, o Instagram fez o teste e já está valendo no Brasil: você não consegue ver os likes nas postagens alheias, apenas nas suas.

Como menos likes podem ajudar você a curtir mais a vida?

O Instagram acredita, e experimentos feitos na Universidade de Illinois mostraram isso no Facebook, que tirar o foco da quantidade de curtidas e focar na história em si pode ser mais saudável para o emocional e psicológico dos usurários.

Como nada nas redes sociais são por acaso, eles perceberam que o objetivo da rede social não estava sendo alcançado, criando um ambiente antissocial, cada vez mais observador e menos participativo. Até nas empresas, nas contas de marcas, sabemos que curtidas não resolvem e não vendem produtos. Elas são apenas uma das formas de interações e que está sendo botada em cheque.

Você já pensou nos motivos que te levam a postar uma foto?

Veja, você. Faça uma análise e compare as últimas três fotos postadas no Instagram. Com qual intenção você fez aquelas postagens? De que forma, ter mais likes lhe faria sentir bem? Será que não é mais importante interagir e mostrar algo realmente verdadeiro do que passar uma imagem de algo?

O Instagram percebeu que seu ambiente virou uma grande prateleira de situações quase irreais que, ao invés de unir, está gerando uma competição bizarramente acirrada. Tornando tudo mais fútil e sem movimento real, sem emoções. Virou o ícone do culto à imagem, algo muito antigo na sociedade.

As redes sociais estão presando cada vez mais por qualidade e não quantidade

O Facebook também está trabalhando para diminuir o número de perfis fakes e atrapalhar os boots que dão curtidas em páginas ou em postagens para entregar aos usuários e empresas cada vez mais números reais e testados.

Às vezes, estão até exagerando neste controle e bloqueando usuários normais que trabalham com ferramentas de automação de redes sociais, aquelas que postam em mais de uma rede por vez, os considerando boots.

Estamos em meio a uma guerra de atenção, isso é fato. E, se as redes sociais não se movimentarem para entregar uma experiência cada vez mais real e menos artificial, não sei o que será do futuro das redes sociais. E, consequentemente, do futuro do próprio comportamento humano.

Não dá para separar hoje os sentimentos virtuais dos reais. Tudo é uma coisa só e esse tipo de mudança, como a tirada dos likes aparentes, poderá mudar a nossa forma de interagir.

Será que estamos preparados para mudar o foco das postagens?

As redes sociais, por princípio, querem que a gente interaja. E se for de forma saudável, combatendo a depressão e ações excludentes, melhor ainda. Fato é que pouco se fez para remediar esse comportamento humano de viver de aparências e de inflar o ego até então. E as redes sociais estão percebendo que se não tratar este problema, que já virou um mal do século atual (competitividade e supervalorização da imagem), não teremos pessoas sãs ou vivas no futuro para curtir ou dar likes nas postagens. (Tudo bem. Exagerei, mas foi só para mostrar a gravidade do assunto).

No fim, é uma ação de sobrevivência, em um ambiente que está beirando a superficialidade e tirando das pessoas (e marcas) a sua essência.

Como você está cuidando do seu ego e do ego das empresas que trabalha? Vamos focar mais nas histórias e nos seguidores engajados?

Um flash no fim do túnel

Talvez esse seja um “flash no fim do túnel”, mas eu prefiro esperar para saber o que vai acontecer com os futuros selfies e com esse experimento social que o Instagram está iniciando, aparentemente inofensivo no Brasil.