Coluna “Branding: a alma da marca”

Uma ideologia presente

Nós comunicadores estamos acostumados a trabalhar com ideologias. Criar símbolos que portem discursos ideológicos é, antes de mais nada, um dos grande objetivos que um profissional desta área deve buscar. Não vejo possibilidade de um publicitário, jornalista ou relações públicas estar fora dessa imensidão, por isso a tamanha necessidade da presença do pensamento ético entre estes profissionais.

Na publicidade, a propaganda ideológica está em exemplos cotidianos, como o Itaú usando discurso do técnico da seleção para motivar o pensamento positivo ao consumo e ao trabalho, ou da Chevrolet tomando para si o conceito de mudança das ruas com seu “find new roads”.

Ideologias são grandes materiais brutos que na mão de bons comunicadores tomam fins diversos, sendo moldadas, encabrestadas ou até manipuladas às necessidades dos objetivos da sociedade.

No entanto, há momentos na história que precisamos prestar atenção para uma construção simbólica, que nasce quase espontaneamente e que aos poucos materializa uma proposta que nem sempre é a imagem do cavalo domável da comunicação social.

Este é o caso do fenômeno midiático de Marielle Franco, ou mais especificamente do símbolo “Marielle Presente”, bordão herdado pela vereadora após um discurso seu na câmara dos vereadores, onde ela respondia a palavra “presente” a chamada de mulheres assassinadas, as quais ela defendia o direito à justiça, e portanto representava.

Desde já, para que não me compreendam mal, deixo claro que não estou analisando o contexto político da vereadora, nem de quem é a culpa pelo ato bárbaro acontecido a ela, o qual repudio muito mas deixo a opinião àqueles que tem mais conhecimento sobre a história da vereadora e sobre como se faz segurança pública.

Trato neste texto apenas da construção comunicacional dos símbolos antes e após o ato da morte da representante popular, e das repercussões midiáticas e das ruas.

Filósofos clássicos gregos como Platão falavam que um ideal nasce primeiro em um mundo incorpóreo, esperando por receptáculos físicos aptos a mostrar seus sinais e aos poucos ir se manifestando. Veja que usei o adjetivo “apto”, mas não necessariamente “certo” pois, como grandes potências simbólicas naturais se mostram em tudo aquilo que tem condições de representá-las, sem fazer distinção de juízo.

Acredito até que este tipo de construção faz parte de uma evolução coletiva de nossa consciência humana, pois, se apoia no nosso papel nesta história.

O ser humano é o único “animal” com possibilidade de fazer este juízo de valores por escolha, o nosso ” livre arbítrio” é o elemento que tem fundamentação na moral. As escolhas que fazemos na condução dos nossos símbolos que representam estes ideais nos levam a construção da nossa História. Se acertamos na condução simbólica costumamos viver períodos felizes, mas se erramos vivemos então grandes depressões.

Estas ideias são “substâncias” tão imensas que não cabem em um contexto de um comercial de TV apenas. Vão se apresentando em oratórias, em comunicações de massa, em atitudes populares, até que enfim, algo se consolide em uma única representação.

Tenho lido a comparação do símbolo Marielle ao de Vladmir Herzeg, jornalista morto durante a ditadura militar que foi o símbolo usado como estopim para o fim deste período. A representação da resistência ao militarismo.

A movimentação de massa por todo Brasil acontecida após essa tragédia da vereadora mostra que a opressão popular chegou ao limite em nosso país e não é mais tolerada pela sociedade brasileira, algo que só é comparável às movimentações durante a ditadura militar realmente, como diz a antropóloga Alba Zaluar.

No entanto, antes mesmo do acontecimento com Marielle, um compartilhamento em massa de uma ilustração do tabloide francês Le Monde havia me chamava a atenção nesse sentido, pois era compartilhado por “gregos e troianos”, pelos dois lados da moeda política brasileira. O que me pareceu ser o retrato de um pensamento unificador.

Por falar em troianos, algo que se destaca nesta imagem é a figura de um pato de Tróia ilustrado pelo jornalista, a clara representação do uso de um símbolo de ideal de um povo voltado para manipular o mesmo povo. Exatamente o que me parece intolerável e que é a causa dos problemas do Brasil.

Marielle, assim como a ilustração do Lê Monde, representam um país cujo a sua liderança, nos três poderes, estão desconectados da população que representa, e isso é a causa da grande revolta!

Veja que o símbolo da Marielle não pode ser transformada no novo pato brasileiro, que é preciso que nossa sociedade compreenda o recado sem cair na manipulação dos aproveitadores de plantão. Se hoje ela é a representante de um povo cansado de ser manipulado, oprimido e deixado a margem, deve continuar sendo seu símbolo legitimo, sem que seja usada para vender carro, banco ou lado político.

Afinal, ela é a imagem de um povo corajoso que quer discursos reais, protagonismo e heroísmo patriótico verdadeiro. Aquele que conseguir realmente ser esta pessoa, leva consigo o direito de sair como representante dessa nação.

A palavra “presente” que Marielle usava e que foi gritada por muitos no Brasil após a sua morte condensa grande importância, pois presente não é estar perdido no passado, nem estar voltado para as disputas futuras, é antes de mais nada estar consciente de suas escolhas, de estar certo que não existem lados horizontais nessa disputa, mas sim uma busca por uma representação melhor no caminho vertical.

Precisamos estar presentes, ligados, pois, estamos chegando muito perto de uma nova rota para o Brasil, que não me parece ser assim tão bonita e segura como na propaganda de carros e nem assim tão palpável e infalível como nas propagandas de um banco, porque na vida real o símbolo não cessa seu movimento ao apagar a TV e o sangue dado pelos idealistas não é produção feita em estúdio.

Coluna Branding : a alma da marca

Não podia ser mais exemplar!

Há exatamente um mês atrás, em minha última coluna, escrevia sobre o papel do argumento simbólico no planejamento. Dizia que atualmente nos preocupamos com as técnicas e com as estratégias, mas aos poucos vamos perdendo a capacidade de ver o cenário mágico, o famoso feeling dos publicitários. Para exemplificar este fato misturei assuntos que pareciam distintos, educação, futebol e planejamento em uma única coluna e pedi comentários.

Percebi pequena aderência ao assunto, nenhuma crítica e poucos comentários. Quando estimulei alguns alunos que sei que leem a coluna, recebi como feedback algo como, ” professor esse assunto é um pouco viajante, não existe um planejamento mágico!”

Não só existe, como ele influencia muito a nossa vida. Só não estamos mais percebendo!

Vejamos a continuidade do exemplo que dei na última coluna.

O campeonato Brasileiro desse ano foi decidido em um evento “mágico” o jogo Corinthians x Palmeiras. Novamente, depois desse clássico, a equipe campeã retomou o caminho das vitórias, emplacando quatro vitórias seguidas e atingindo os pontos que precisava.Depois de campeã uma nova derrota simbólica, como já havia previsto na coluna, um 3×0 que não havia acontecido em nenhum jogo este ano. Como disse na coluna anterior é a famosa faixa “carimbada”.

Mas há uma percepção que não pode ficar de fora, foi uma ação de “marketing” que fez tudo isso acontecer. Trinta e duas mil pessoas assistiram ao treino do Corinthians antes da partida derradeira, quando alguém que lia o cenário percebeu que se levassem os jogadores para o estádio do jogo e abrissem os portões para a torcida a mágica aconteceria antes mesmo da partida. Foi assim que aconteceu! Basta ver como isso aparece em todas as entrevistas posteriores, sejam dirigentes, técnico, jogadores ou jornalistas. Todos foram marcados pelo evento simbólico.

Então não é difícil perceber o quanto isso funciona e é importante para um comunicador? Um comunicador trabalha com a pré-monição, o ver o cenário futuro e se apropriar do mesmo.

Mas como educamos para isso?

Novamente uso as palavras mágicas do momento, com uma competência e uma habilidade.
Devemos estimular a habilidade criativa, o inter-relacionar de ideias. Mas também, precisamos lapidar a competência do pensamento crítico, algo que vem faltando muito a nossa sociedade.

Há algum tempo, postei um vídeo com algumas técnicas da composição no cinema em minha rede social, e chamei a atenção de alunos do curso de design gráfico.

Fui questionado por um grande amigo, se não havia me enganado pois uma coisa era a matéria cinema e a outra, design gráfico. Ele tinha razão quando olhava por fora, mas era exatamente esta separação entre os assuntos que havia nos distanciado do conhecimento “mágico”.

E como já havia falado aos meus alunos em aula, mostrava para eles mais uma aplicação de alguns conceitos que vão para além do cinema ou do design. Um daqueles conceitos que pertencem a todos os tipos de arte e muitas vezes, a outras áreas do conhecimento humano também. É exatamente ali que devemos concentrar o foco do nosso aprendizado. É o aprender por inter-relacionar e ter criticidade.

Mas sobre esta forma de educar, trataremos em nossa próxima coluna, a última do ano, no dia de Natal e também a que completa a trilogia do assunto, afinal trilogias são simbolicamente marcantes e a última coluna desse ano merece um tema especial.

Até dia 25 de dezembro.