Tendências de marketing digital para 2022

por Bruno Campos de Oliveira*

Toda lista de tendências é um processo desafiador, principalmente quando falamos de marketing digital. Em um mercado onde tudo pode mudar em uma semana, traçar planos para o futuro é percorrer um terreno incerto e há apenas uma certeza: você vai errar alguma coisa. Mas como diz o presidente da Pixar, Ed Catmull: “be wrong as fast as you can”, ou seja, “erre o mais rápido possível”. Antes de partir para a lista, acho importante frisar que, mesmo que as tendências não se consolidem, são temas para ficar de olho. Acompanhe:

1 -Web 3.0

A internet revolucionou o mundo em que vivemos e tudo indica que estamos caminhando para uma nova fase. Antes de falar na versão 3.0 é importante deixar claro quais foram as anteriores. Como web 1.0 entendemos a primeira internet, um conteúdo estático e pouco interativo. Já na 2.0, temos a era social onde emissor e receptor interagem e o usuário pode criar conteúdo. O famoso “user generated content” que faz com que o maior canal de vídeos online do mundo, YouTube, não tenha que se preocupar em gerar conteúdo, como outros veículos, seus irmãos mais velhos, ainda precisam. A web 3.0 joga no liquidificador conceitos como Internet das Coisas, blockchain, descentralização e 5G para permitir uma nova era marcada pela colaboração entre pessoas e plataformas.

Como gestores de marcas, é preciso entender que devemos estar onde nosso cliente está. Por isso, muitas marcas já ensaiam estar em novos espaços, como o metaverso. Recentemente, a Nike comprou uma empresa chama RTFKT. Eles são especializados em NFTs e produzem tênis virtuais. Com a evolução de plataformas e jogos online, por que não vestir nossos personagens com nossas marcas preferidas? Um avatar é a representação de como queremos ser vistos no ambiente online e, para mercados como o de moda, isso abre um novo mundo de possibilidades.

2 – O mundo é híbrido e não há caminho de volta

Os últimos anos foram desafiadores para a sociedade. Experiências que antes eram exclusivamente físicas foram forçadas a migrar para o online. Com isso, o marketing ganhou ainda mais peso no digital. O primeiro impacto foi um crescimento explosivo do consumo de vídeos online e dispositivos móveis, comportamento que trouxe uma grande oportunidade para anunciantes adaptarem seus investimentos. Outro fator importante é que o prime time (horário nobre das 20h às 23h), deixou de vez de fazer sentido. Com rotinas de trabalho mais flexíveis, as pessoas estão consumindo mídia sob demanda, quando faz sentido para elas. Por isso, faz muito mais sentido olhar os dados de engajamento da marca, cruzar dias e horários de maior interação, e criar o seu próprio horário nobre.

3 – As pessoas estão voltando a fornecer os seus dados para publicidade

As leis de privacidade de dados trouxeram uma nova dinâmica para as operações de marketing. Hoje, toda ação precisa de consentimento prévio do usuário. Seja um e-mail, seja a coleta de um cookie. Quando a Apple implementou restrições mais duras no IOS 14, boa parte da indústria de anúncios mobile sentiu o impacto. Em poucos meses, a maioria dos donos de iPhone bloqueou sua rastreabilidade para publicidade. Isso impede que a pessoa receba publicidade direcionada e que os anunciantes saibam se aquela pessoa converteu ou não. No entanto, é algo que parece estar mudando.Segundo a Gartner, até 2023 a taxa de não-aceite de publicidade em dispositivos móveis vai cair de 85% para 60% por que as pessoas estão percebendo que, ao bloquear a inteligência da publicidade, acabam sendo expostas a conteúdos de baixa qualidade ou que não tem ligação com seus interesses. Aqui fica claro que, apesar das questões de privacidade, o consumidor, agora dono do seu dado, entende que vale a pena compartilhar suas informações para receber a mensagem correta, no momento certo, através do canal ideal.

4 – Influenciadores virtuais vão concorrer com celebridades e influencers tradicionais

Segundo a Gartner, até 2026 quase um terço do budget de celebridades e influenciadores será direcionado para influenciadores digitais, personalidades criadas através de ilustração, 3D e técnicas de animação, que dão vida para marca ou para a persona dela. Um exemplo que temos no Brasil é a Lu, da Magazine Luiza. A grande vantagem de influenciadores virtuais é que, a longo prazo, eles se tornam assets de marca e podem valer milhares de reais como hoje um logo ou assinatura como “Just do It”, vale. Outra vantagem desse tipo de influenciador é o controle que as marcas têm. Elas não precisam se preocupar com um eventual deslize do influenciador, uma frase mal colocada e custam muito menos para as ações do dia a dia. Talvez seja uma das maiores disrupções que o mercado de influenciadores pode sofrer nos próximos anos.

5 – Marcas vão ter múltiplas lojas online

Até pouco tempo atrás, as vendas de um fabricante eram divididas entre venda direta e varejo. Com o crescimento do marketplace, o conceito ampliou e tivemos a entrada do 3P no jogo.No entanto, cada vez mais é possível comprar através de múltiplos locais como plataformas de mensageria como WhatsApp e WeChat no que chamamos de Conversational Commerce ou ainda, dentro de redes sociais como Instagram e TikTok, através do Social Commerce.

Segundo a Gartner, até 2026 cerca de 60% dos millennials e da geração Z vão preferir comprar através de plataformas sociais ao invés de lojas de e-commerce como conhecemos hoje. O modelo traz vantagens e desvantagens. Se por um lado perdemos o controle, tracking e capacidade de personalização de uma loja própria onlline por outro lado, ganhamos um universo de possibilidades ao integrar conteúdo e interação social com a jornada de compra. É uma oportunidade para as marcas entenderem que dentro da estratégia de conteúdo teremos cada vez mais espaço para conversão em canais onde hoje focamos em inspiração e engajamento.

Além dessas lojas em redes sociais, o crescimento de mundos virtuais autônomos e paralelos cria a possibilidade de novas e imersivas experiências de compra. Isso pode acontecer no hypado metaverso ou mesmo dentro de um jogo – como o servidor Cidade Alta de GTA roleplay que teve a entrada do iFood, permitindo que os jogadores trabalhem como entregadores. Ou ainda, o Outback que abriu uma loja com missões especiais dentro do game.

*Bruno Campos de Oliveira é CMO da ADSPLAY Mídia Programática. É formado em Marketing pela USP e há mais de dez anos trabalha com planejamento estratégico, campanhas de marketing digital, mídia de performance, e-commerce, aplicativos, além de atuar na criação de novos produtos e tecnologias para empresas do Brasil e do exterior.

Coluna “Discutindo a relação…”

Co criação: cada vez mais necessária e presente

Duas cabeças pensam melhor do que uma. Ouvi isso diversas vezes em situações familiares ao longo da minha infância e adolescência. Confesso que quando bem pequeno não entendia direito, mas depois, convivendo com uma turma de amigos que adorava trocar ideias e pensar junto, entendi de vez o sentido e o valor deste ditado popular.

E o que vemos no momento no mundo do marketing, da comunicação e da propaganda? Vemos o fortalecimento da ideia da co criação. A potencialização da ideia de não duas, mas muitas cabeças podem, juntas, chegar em ideias novas e em soluções eficazes para diversos problemas. Qualquer problema! De qualquer segmento de atuação.

Em marketing e propaganda isso tem se cristalizado, entre outras coisas, no crescimento do melhor uso dos influenciadores. Mas não apenas usá-los como mídia ou como um ou uma garoto ou garota propaganda, e sim atraí-lo para um interessante projeto de co criação. Nestes projetos, as ideias, a maneira de se comunicar e a abordagem ao público do influenciador são partes decisivas da entrega. É co criação na veia! Um dado importante aqui: 55% dos brasileiros on line pesquisam a opinião de creators antes de decidir e efetivar uma compra.

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Outra coisa que tem tudo a ver com a co criação em marketing e propaganda é o uso do U.G.C., ou “user generated content”, ou melhor ainda, o conteúdo gerado pelo usuário. É uma estratégia ousada em que se conclama o público a colaborar com conteúdo para sua marca/produto/serviço.

Neste cenário uma importante mudança acontece: as marcas deixam de ser geradoras de conteúdo e passam a ser curadoras de conteúdo. A possibilidade de atrair pessoas e culturas (visões de mundo, de realidade) diferentes para diferentes projetos de comunicação é sensacional.

Nas agências de propaganda e/ou comunicação a ideia de co criação vem ganhando espaço. Ao invés de equipes fixas, muitas agências de menor porte montam equipes free lancers para cada trabalho ou para cada conta. Deste modo ampliam as possibilidades criativas, pois não ficam restritas a sua equipe apenas. De novo, poder atrair talentos de qualquer lugar para gerar soluções para problemas de comunicação é algo maravilhoso.

Com a pandemia e o distanciamento social trazido por ela, ficou claro que podemos – e até devemos – buscar pessoas para atuar junto com nossas equipes fixas. E estas pessoas não precisam estar na mesma cidade, no mesmo estado e nem no mesmo país. E, claro, não precisam estar em nosso escritório.

Co criar é quase que libertador! É uma ideia que, sem dúvida, devemos por mais em prática no nosso dia a dia.