Falando de criatividade

Estava revendo antigos arquivos e encontrei esse texto muito bom e que eu havia guardado para utilizar em aulas e palestras.

O PODER DA CRIATIVIDADE
Cristina Balerini

“Enquanto continuarem acreditando que a criatividade é um dom pessoal, as empresas não terão acesso a milhares de novas idéias latentes em seus funcionários. Ser inteligente não é sinônimo de pensar bem. A relação entre a inteligência e o uso que se faz dela é a mesma que existe entre um automóvel e seu motorista. Aproveitar ao máximo o potencial do veículo depende exclusivamente da habilidade de quem dirige.”

Com pensamentos como este é que o consultor e um dos maiores especialistas em criatividade do mundo, Edward De Bono, deixou estarrecida a platéia de executivos que acompanharam seu seminário, em São Paulo – SP, no final do mês de abril de 2003, promovido pela HSM.

Para Bono, o enfoque atual sobre criatividade é muito limitado. Muitos acreditam que uma pessoa inibida não pode ser criativa, logo, quando ela conseguir se livrar da inibição, terá libertada toda sua criatividade. “Mas a realidade não é essa. O cérebro não foi feito para ser criativo. O cérebro funciona justamente porque não é criativo. Ele permite que a informação que entra se adapte a padrões rotineiros”, diz ele. Existem ainda outros falsos conceitos sobre a criatividade, como por exemplo, acreditar que ela está relacionada às artes ou que se trata de um talento ou habilidade.

A criatividade é um processo no qual se utiliza um conjunto de habilidades mentais que não são patrimônio exclusivo dos mais inspirados. Um ponto que se deve levar em conta quando se fala em criatividade nas organizações é qual a sua finalidade. “Um problema é como uma dor de cabeça”, diz Bono, “Ela existe e é claramente percebida. Uma necessidade criativa não existe até que alguém a reconheça, até que alguém decida que quer pensar mais criativamente”.

Mas como ser criativo, por exemplo, em um ambiente rígido?

Nas culturas nas quais as pessoas dependem da aprovação dos seus pares, é difícil receber a aprovação de uma idéia. Em uma organização, a criatividade é vista ou como um risco ou uma expectativa. Como expectativa, as pessoas procuram jogar com novas idéias. Por outro lado, se esta cultura não for difundida, ser criativo será considerado um risco.

“A criatividade exige um enfoque muito sistêmico e estruturado, que pode ser aprendido como qualquer outra habilidade. Participei certa vez de uma reunião em um dos principais bancos suíços. Estavam investindo 50 milhões de dólares em novos sistemas de informação. E qual era o investimento na geração de novas idéias? Zero. Isso confirma a crença totalmente errada de que com mais informações todos os problemas serão resolvidos e colocaremos em funcionamento um motor gerador de novas idéias”, avalia Bono.

Bono avalia como sendo três as situações principais que exigem o uso da criatividade:

Problemas e tarefas: a resolução de problemas ainda é onde se usa menos a criatividade, pois as pessoas sempre vão preferir soluções tradicionais a qualquer solução oferecida pela criatividade. Deve-se buscar criatividade em duas situações: quando se estiver bloqueado e não for possível seguir adiante e quando desconfia-se que pode existir uma solução melhor do que a já apresentada.

Aperfeiçoamento: uma vez que é possível sempre fazer melhor, o espaço para a criatividade é imenso. A idéia é, mesmo que algo pareça estar perfeito à primeira vista, parar e pensar como ele pode ser aperfeiçoado. A chave é, segundo Bono, se concentrar em algo e se perguntar como aquilo pode ser aperfeiçoado. “Com o tempo, esse hábito mental nos deixará hábeis no primeiro passo da criatividade, o de focar um alvo. Se não tivermos um alvo, dificilmente seremos criativos.”

Oportunidades: “Eu acredito que em qualquer organização eficiente seja possível aumentar a lucratividade em no mínimo 30% com novas idéias bastante simples.” As boas idéias são um recurso, e elas costumam ser prerrogativa do grupo responsável pela estratégia corporativa. E isso é um erro. Esse grupo tem que exercer discernimento e juízo a fim de elaborar um conjunto de opções e escolher dentre elas. Isso é diferente de fomentar, desenvolver e testar novas idéias.

“Tendo trabalhado no campo da criatividade por muitos anos, devo dizer que pouquíssimas organizações levam a criatividade a sério. Talvez porque os executivos tenham sido treinados como analistas, como solucionadores de problemas e como gerentes de manutenção. Mas é importante que eles se façam algumas perguntas: ‘O que a criatividade poderia fazer para mim ou para a minha área?’, ‘Por que ainda não o fez?’, ‘O que eu estou fazendo a respeito?’ e ‘O que eu poderia fazer a respeito?’. No mundo das novas idéias, intenção e esforço são tão importantes quanto talento e técnica”, analisa Bono.

• Matéria publicada originalmente no jornal Estilo & Gestão RH.
Cristina Balerini é editora da publicação.

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