Como um comunicador deve analisar as eleições 1
Mesmo que quisesse, não conseguiria ficar sem falar de política nesta e nas próximas colunas. Este é o assunto que toma toda a grande mídia brasileira desde o último mês e tende a se arrastar até o final do ano, pois, mesmo após a eleição, ainda teremos um Brasil em ebulição.
Por isso resolvi acompanhar as campanhas de todos os candidatos a presidente, buscando fatos que possam ser relevantes aos comunicadores e leitores deste blog. Minha ideia é analisar os discursos e comparar as estratégias, a fim de entender os bastidores do marketing político e a construção das imagens públicas dos candidatos na captação de votos.
A primeira coisa que precisamos deixar claro é que esta disputa não é entre candidatos, mas sim, entre duas forças que se polarizaram nos últimos anos, a chamada “direita” e “esquerda” brasileira. Há décadas tais forças se enfrentavam dentro do país, mas, foi na última eleição que chegaram ao ponto máximo de partilha, meio a meio para cada lado, e é isso que tem causado tanta disputa e clima quente.
As duas pontas têm seus expoentes comprometidos, o Lula preso em Curitiba e o PSDB fragmentado. Ainda brigam sem muito escrúpulo por aquela pequena parte que pode ser o diferencial do lado, o qual o pêndulo balança. “Esta eleição não é para amadores”, disse Patrícia Pilar ao ser abordada fora do contexto, por um jornalista querendo informações sobre seu ex-marido, candidato novamente. Esta atitude é um ótimo exemplo para ver como esta eleição não será pautada necessariamente no bom nível de discurso e embates de ideias. Esta eleição é guerra!
No entanto, os dois partidos principais buscaram estratégias diferentes, a fim de tentar reagrupar os fragalhos dispersados após a deposição da Dilma. O PT apostou no carisma do seu líder máximo e na narrativa da vítima, de perseguição política, inflamando suas bases e trazendo a eleição para os movimentos de rua, que mesmo sem grandes sucessos em ações isoladas, quando repetidas com frequência parecem ter convertido boa parte a seu entorno, levando o mesmo a aproximadamente 39% de intensão de votos. O que se não fosse impedido pela lei, significaria eleição.
Enquanto isso o PSDB parece ter tido mais dificuldade com o fogo amigo, por isso apostou no silêncio, no deixar a poeira baixar, esperando se beneficiar da falta de representantes da direita. O preço disso foi a impaciência do seu eleitor histórico, que estimulada pela pressão do mercado pulverizou opções e não se apresentou hegemônica ao pleito.
O mercado queria logo um representante com potencial e para isso tentou muitas apostas que foram de Luciano Hulk, passando por uma cisão entre Dória e Alckmin, a aposta obsoleta em Meireles e hoje parece se aglutinar em volta de uma possibilidade do outsider Amoedo.
Mas isso me parece puro desespero, de quem percebe que o candidato do PSDB, o original representante desta linha de pensamento, não descola, e a pior parte é que na estratégia de se manter calado deu espaço para o surgimento de uma aberração de extrema direita que, pelas pesquisas, pasmem, consolida 15% de voto espontâneo.
No entanto, parece unânime aos analistas que o teto de Bolsonaro chegou com 20%, o que é um bom presságio para o eleitor que não quer um Trump brasileiro, mas isso significa que a pedra no sapato da direita é exatamente o voto dos fans do Bolsonaro, que não tendem a migrar nem por voto útil. Dando assim a Alckmin ou Amoedo a necessidade de matar um ao outro e garantir um grande crescimento entre os indecisos para rivalizar os 15% mínimos do Bolsonaro, se quiserem a vaga da direita.
É um amadorismo achar que votos da esquerda passarão para a direita e vice e versa quando o TSE cancelar a candidatura de Lula. Portanto, esperar que sem Lula na disputa, a direita se beneficie com seus votos é no mínimo utópico.
Por isso é importante entender que, quando Ciro e Marina atacam Bolsonaro não é porque desejam os eleitores do pro militarismo, mas para ganhar a simpatia dos que rejeitam o extremista, que não são poucos e que na falta de Lula poderiam seguir para os seus redutos.
O mesmo parece acontecer com Amoedo tentando rebater a proposta de limpar o nome dos brasileiros do SPC, de Ciro. Sua tentativa é angariar votos dos eleitores que acharam populista e aproveitadora a boa estratégia eleitoral do esquerdista.
Por falar em Ciro ele parece ser a pedra no sapato na transferência de votos de Lula para Haddad, e não é à toa, ele seria o candidato natural da esquerda, se não fosse uma clara possibilidade de se tornar o sucessor do Lula, tirando do velho político os holofotes e da hegemonia da esquerda. Por isso o PT trabalhou duro para isolá-lo, sem agredir o candidato. Ciro precisava ser desmontado mas não atacado, isso pareceria renegar os próprios eleitores da esquerda, e este foi o pulo do gato desta eleição até agora.
Já Marina e Álvaro dias são as opções realmente medianas, se os brasileiros repetirem seus padrões das últimas eleições, têm poucas chances, exatamente por não mostrarem o lado em que estão, morreriam com os poucos eleitores que não se encantam com a polarização e com a adrenalina que ela traz.
Por enquanto, a estratégia que sai na frente são as da esquerda com claramente mais votos, mas não chegou ao seu ponto crítico ainda, o momento de transferência dos votos de Lula para o seu candidato. Se falhar, o PT põe em risco a eleição da esquerda toda, pois, pode ter o mesmo problema da direita, de disseminação dos votos, é nisso que aposta Alckmin e companhia, que como um Fred na copa, está parado como um cone, esperando que a eleição caia em seu colo.
Impossível? Não sei!
Por isso essa eleição ainda não está decidida e por isso vale tanto à pena ficarmos de olho nos seus desdobramentos.
Até o próximo mês, já bem pertinho das eleições.