Marketing Orgânico Fabricado: Quando o espontâneo é roteirizado para viralizar
Por R. Guerra Cruz
Gabriel Nobre e a ilusão do improviso musical
Imagine a cena: um vídeo simples, em um quarto, clima de brincadeira. Gabriel Nobre, músico que soma impressionantes 466 mil seguidores no Instagram, aparece ao lado de uma criança sorridente.
Ele conduz tudo com leveza e carisma: pede à menina que, sem pensar muito, crie uma melodia vocal. Em seguida, sugere que fale uma palavra qualquer. Depois, desafia a inventar um ritmo. Por fim, a criança solta uma frase, como se tudo brotasse assim do nada.
Mas é aí que começa a mágica: Gabriel, habilidoso, pega esse caldo de frases e sons e, diante da câmera, “transforma” tudo em uma música completa.
Em poucos minutos, surge uma canção suave, melódica, com letra sentimental e produção impecável. O clima é de improviso genial. A plateia virtual sente que está testemunhando um processo criativo espontâneo, quase milagroso.
Esse é mais um exemplo do que chamo de “Marketing Orgânico Fabricado” (eu inventei esse termo, viu? rs).
Quebra-cabeça montado, peça a peça
O truque está na condução:
● Gabriel faz perguntas abertas, mas direcionadas — a criança dificilmente dará respostas fora do que ele espera.
● Ele reage com entusiasmo a cada ideia, mostrando que “tudo é possível”, alimentando o clima de improvisação.
● Aos poucos, as sugestões da menina se encaixam perfeitamente na música final, indicando que a estrutura já existia — ela apenas completa espaços em branco com suas respostas.
No resultado final, fica fácil esquecer que tudo foi sutilmente roteirizado. O público embarca na emoção de ver uma suposta criação instantânea, esquecendo dos bastidores. Viralizou, claro
● O vídeo surfou na estética do espontâneo (esse formato de vídeo já existe, sem pegadinhas), mas traz no DNA a esperteza das campanhas modernas: um storytelling que parece real, mas é todo concebido para engajar.
● Gabriel não só expõe seu talento, também cria um espetáculo acessível, afetivo e altamente compartilhável.
● Os números comprovam o sucesso: com 466 mil seguidores no Instagram, quase 60 mil likes e mil comentários só neste vídeo específico, ele provou que de fato é criativo e estratégico.
Improviso para inglês ver (ou pro algoritmo ver)
No palco da internet, tudo é espetáculo. E em tempos de guerra com as AIs, parece que vale tudo mesmo.
Se antes a discussão era sobre a autenticidade dos processos humanos, agora a arena evoluiu. De um lado, a inteligência artificial compõe, canta, roteiriza, cria hits em massa e desafia o valor da arte feita à mão.
Do outro, artistas como Gabriel recorrem ao “marketing orgânico fabricado” para se destacar — encenam uma espontaneidade que, se não é exatamente real, ao menos parece mais humana do que qualquer algoritmo conseguiria.
A disputa é explícita: vale tudo para captar a atenção
Nenhum lado joga limpo — algoritmos manipulam feeds, roteiros simulam improviso, o público oscila entre o ceticismo e o encantamento.
No final, a guerra está aberta. Ganha quem for mais convincente — seja humano, máquina, ou uma mistura esperta dos dois.
Qual lado eu escolho?
Entre o poder infinito da IA e o charme humano, o que importa mesmo é soar autêntico o suficiente para tocar (e viralizar).
Para você não morrer de curiosidade:
● Postagem original aqui
● Música final aqui
