De Kanye a Scarlett: a busca pela verdade na Era da Irrealidade
Recentemente, o cantor Kanye West chocou o público ao veicular um anúncio milionário durante o intervalo do Super Bowl.
O conteúdo? Uma loja virtual e uma simples camiseta com uma suástica, sem explicação ou contexto. A estratégia de buzz era evidente: gerar polêmica, causar revolta e dominar as discussões nas redes sociais. E funcionou.
Mas seria isso apenas uma estratégia de marketing ou uma provocação artística deliberada?
Kanye West sempre explorou a estética do choque, testando os limites entre arte, provocação e discurso.
A controvérsia levanta uma questão delicada: até que ponto a liberdade de expressão permite a comercialização de um símbolo ofensivo?
Vender uma camisa com uma suástica sem nenhuma explicação pode ser um ato de rebeldia artística ou simplesmente irresponsabilidade calculada?
Se há um mercado disposto a consumir essa provocação, onde está o limite entre arte, opinião e incitação ao ódio?
A internet explodiu em debates, repúdio e defesas, fortalecendo a presença do artista no imaginário coletivo.
No entanto, a reação não tardou a vir. Um vídeo começou a circular, mostrando diversas celebridades judeus, atores renomados e influenciadores fazendo o gesto ofensivo do dedo do meio em resposta a Kanye.
Um ato simbólico de repúdio, uma retribuição de igual intensidade. Mas havia um problema: o vídeo era inteiramente gerado por inteligência artificial, sem o consentimento dos envolvidos.
A discussão tomou um novo rumo. Scarlett Johansson, uma das celebridades presentes no vídeo, se manifestou: “Independentemente da mensagem, é preciso tomar cuidado com esse tipo de uso da tecnologia.”
E ela tem razão. A deepfake não é apenas uma ferramenta de entretenimento ou humor.
Ela carrega consigo um potencial de destruição, manipulando a percepção da realidade e colocando palavras e atitudes na boca de pessoas sem que elas sequer tenham se pronunciado.
Esse episódio evidencia um problema ainda maior: a dissolução das fronteiras entre o real e o fabricado. Se, por um lado, deepfakes exageradas podem ser rapidamente desmascaradas, por outro, aquelas convincentes podem transformar narrativas e distorcer opiniões. O risco?
Vivermos em uma sociedade onde a verdade é maleável e onde a realidade é determinada por quem tem maior controle sobre a narrativa digital.
No mundo polarizado em que vivemos, essa nova forma de “diálogo extremista” se torna ainda mais perigosa.
Não é mais sobre trocar ideias, mas sim sobre criar novas realidades, onde “eu contra eles” se torna a norma.
Direita contra esquerda, religiosos contra não religiosos, aliados contra opositores. Esse jogo de ilusão coletiva nos coloca em um terreno instável, onde as opiniões são omitidas, as narrativas são manipuladas e problemas podem ser gerados sem que as pessoas sequer saibam o que é real e o que é apenas uma projeção da irrealidade virtual.
Outro ponto importante nesse contexto é a postura das celebridades. Frequentemente criticadas por sua falta de posicionamento político, muitos famosos hesitam em tomar partido ou se posicionar diante de temas controversos.
Essa demora pode ser interpretada como conivência, distanciamento ou mero oportunismo.
No entanto, em um mundo hiperconectado, onde a comunicação reina, ser e comunicar o que é pode ser o caminho mais seguro.
O silêncio também é uma forma de comunicação, e se comunicar mal pode gerar problemas adicionais e irreversíveis.
Diante disso, qual é o caminho mais seguro?
Qual rota devem seguir marcas e empresas para evitar armadilhas dos extremos?
O desafio é encontrar um equilíbrio entre autenticidade e responsabilidade, entre expressão e prudência.
Afinal, teóricos como Jean Baudrillard, em Simulacros e Simulação, e Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, já alertavam sobre um mundo onde a representação supera o real, criando uma hiper-realidade onde as simulações se tornam mais influentes do que a própria verdade.
E você? Qual caminho tem seguido para não se perder nesse labirinto da irrealidade virtual?