No Centro do Poder, de Regina Augusto, será lançado nesta quinta-feira 22, às 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo
Fonte: http://www.meioemensagem.com.br/
Por Selma Santa Cruz*
Os milhares de jovens que disputam vagas nas escolas de publicidade ou ingressam na profissão sonhando com salários polpudos, prêmios internacionais e uma carreira glamourosa, não têm ideia de quanto devem a este senhor octogenário e algo sisudo, sempre de cachimbo na boca, cuja trajetória é o tema de No Centro do Poder, da jornalista Regina Augusto, diretora-editorial de Meio & Mensagem, que chega às livrarias nesta semana pela Editora Livros de Safra (o lançamento acontece nesta quinta-feira 22, às 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo; e haverá também noite de autógrafos em Porto Alegre, no dia 29, às 18h30, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country). Isto porque na década de 1950, quando Petrônio Corrêa se associou a Antonio Mafuz e Luiz Macedo, na então provinciana Porto Alegre, para montar a MPM — que durante quase duas décadas liderou o ranking das agências de propaganda do País —, esta já era uma profissão celebrada nos Estados Unidos, onde vivia sua era de ouro, tão bem retratada em Mad Men. Porém, naquele Brasil ainda predominantemente rural e atrasado, onde uma ligação interurbana demorava dias para ser completada, e a televisão começava a engatinhar como mídia, o ofício representava, com frequência, apenas um bico, ocupação transitória de estudantes a caminho de uma “profissão de verdade”. E uma ocupação, por sinal, nada prestigiada: como muitos publicitários atuavam basicamente na venda de espaços em jornais, era comum o uso de placas em estabelecimentos comerciais proibindo a entrada de “pedintes, vendedores e publicitários propagandistas”.
Petrônio Corrêa foi um dos expoentes da geração que trabalhou pela profissionalização e valorização da propaganda no Brasil, porque entendeu seu papel como motor de um sistema econômico centrado na produção e no consumo de massa. Nunca, portanto, um fim em si mesma, mas um meio para promoção de marcas e negócios. O adolescente de origem modesta que saiu de Santo Ângelo, no interior do Rio Grande do Sul, para abrir caminhos na capital, tinha veia de empreendedor. Foi esta sua visão de negócios, além da forte vocação associativa, que acabou por torná-lo a principal liderança do mercado em seu tempo. E quase uma unanimidade, em termos de prestígio, pela capacidade ímpar de construir consensos entre visões e interesses muitas vezes concorrentes — de veículos, anunciantes e agências, por exemplo — em benefício da indústria como um todo.
Esta contribuição ficará consolidada como legado nas três entidades que se tornaram pilares do mercado brasileiro de comunicação, a partir da Lei no 4.680, de 1965, que estabeleceu o comissionamento das agências em 20% da verba de mídia de seus clientes: o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), de 1980, o Instituto para Acompanhamento da Publicidade (IAP), de 1997, voltado ao monitoramento dos investimentos públicos em propaganda, e o Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp), fundado em 1988, que estabeleceu normas de remuneração após a desregulamentação do setor, um ano antes. Parece haver consenso de que todos estes marcos de defesa da indústria foram fruto da habilidade política e da tenacidade de Petrônio, que soube viabilizar acordos aparentemente impossíveis. Gilberto Leifert, que trabalhou com ele na consolidação do Conar, é testemunha deste empenho: “Colocar em funcionamento um órgão de ética baseado em normas de autorregulamentação, em 1980, ainda durante o regime militar, num país conhecido por não levar a sério as leis e dar um jeitinho em tudo, exigiu muito esforço.”