Sonhos não envelhecem (mas você envelhece)
“Clube da Esquina Nº 2” é uma de minhas músicas preferidas. Até tatuei o trecho que dá nome a esse post. Algumas tatuagens vêm pra marcar fases boas ou ruins da vida. Meu caso, naquela vez, foi uma ruptura.
Eu estava na metade de 2014 e tinha vivido uma experiência péssima num emprego pior ainda. Eles insistiam que eu não me encaixava. Eu insistia que eram eles que não tinham vez no puzzle da minha vida. Veio a necessidade, fui lá e BAM: tatuei. Bota aí “sonhos não envelhecem”. Porque podem tirar tudo de você. A esperança. A vontade. O tesão. Os sonhos eles não apagam, companheiro.
Meses depois, a empresa que estou hoje me absorveu. E parece que está dando certo a cada dia. Certa vez, numa reunião com um cliente, decifrando os escritos no meu braço, ele perguntou “sonhos não envelhecem?”, e completou: “mas nós envelhecemos”.
Analisando aquela minha antiga experiência, as de amigos e as de amigos de amigos sinto que aceitamos nos encaixar e a forçar a barra em empregos que exigem bem mais do que oferecem. Claro, é a lógica capitalista. Patrão > funcionário. Mas a gente tá falando de abusar de horas extras (e não pagar nada por elas). Cortar horário de almoço. Não pagar vale-transporte ou alimentação. De não oferecer plano de saúde. Em compensação, o auxílio-pizza vai de vento em popa. Um pedacinho pra cada, senhores. Ou amanhã é brotinho.
Aliás, amanhã não precisam mais de você. Muito velho para comer pizza, sabe como é o colesterol. E também já passou da fase camisa xadrez-tênis descolado. Ou, talvez, envelhecer tenha que ficar pra daqui a uns 120 anos. Tem tanto job que você vai sentir o cansaço da velhice, mas não vai ter o direito de vivê-la.
Falta qualidade de vida nesse dicionário cheio de vocábulos estrangeiros. Se a gente trocar pra well-being, será que podem reconsiderar?
Sim, isso é uma briga feroz. Não, a gente não quer envelhecer sem sonhar.