Relembrando
Contei esse “causo”em sala de aula semana passada. E aí lembrei que havia publicado este texto bem no início deste blog. Resolvi publicá-lo novamente. caso já tenha lido, peço desculpas. mas aproveite para relembrar. Se não leu, bom proveito!
Como é ruim o cliente nos apressar…
O cliente era do setor de construção civil. Ele era difícil. Prepotente. Arrogante. Mas era arrojado, tinha visão de mercado e excelente tino empresarial. Mas era difícil…
Certa vez nos encomendou uma campanha de lançamento para um novo empreendimento: um edifício residencial com apartamentos de dois e três dormitórios. Desenvolvemos a campanha, fizemos todos os layouts das peças e apresentamos a ele. Ele não disse nem que sim nem não. Disse que ia pensar.
O tempo passou, fiz algumas ligações para ele e nada de resposta. Nada de previsão de lançamento e nem mesmo de aprovação e/ou desaprovação da campanha.
Numa bela tarde de uma estranhamente calma sexta-feira, por volta das 15h00 toca o telefone da agência. Era ele: o cliente. Chamou-me para o seu escritório para colocarmos a coisa para andar. Fui até lá ansioso para ter a campanha aprovada e colocá-la na rua.
Quando lá cheguei vi nossos layouts todos rabiscados em cima de sua mesa. Ele pediu uma tonelada e meia de mudanças. Explicou tudo de modo professoral. Aí perguntei: tá bom, vamos modificar e aí trazemos de novo para aprovar e veiculamos quando? Como assim??? – respondeu ele. Nem precisava trazer de volta para aprovar. Era fazer as modificações que ele ordenara e veicular a partir de … AMANHÃ!
Fiquei branco. Ele percebeu minha hesitação. Não dá? Dá sim, disse eu.
Não tínhamos celular na época. Fosse hoje já ligaria do meu carro no estacionamento para a agência e detonaria o alarme de pânico total e correria absoluta. Tive que correr até a agência e dar a notícia.
Os computadores da época não tinham a agilidade de hoje. Foi um parto terminar principalmente o anúncio de página inteira para o jornal e entregá-lo dentro do horário. Tínhamos várias coisas para entregar em diferentes veículos. E quem foi levar o material até o jornal? Eu.
Entrei no carro e pus-me a caminho do Jornal Valeparaibano, cheio de pressa e medo de descumprir o prazo. Abusei um pouquinho da velocidade em alguns trechos, admito. Mas justamente num determinado local, já próximo ao jornal, em que eu sabia que havia muito movimento de pedestres, reduzi a velocidade. E essa foi minha sorte.
Um garoto de uns oito ou dez anos desvencilhou-se da mão de sua mãe e resolveu tentar atravessar a rua correndo. E bem na minha frente. Meti o pé no freio e tudo pareceu transcorrer em câmera lenta: o carro deslizando e o garoto cada vez mais próximo. Quando o carro estava quase parado bati no corpo do menino que caiu e sumiu da minha vista. Pensei: matei o menino. Antes mesmo que eu pudesse sair do carro ele se levantou, deu dois passos para trás, bateu as mãos nos joelhos para limpar a calça, olhou para mim dentro do carro e para a mãe que corria em sua direção e disse com um sorriso sem graça: nem machucou!!!
Sai do carro, pedi desculpas à mãe, perguntei se ele estava mesmo bem, voltei para o carro e tentei pensar de novo em só chegar a tempo ao jornal.
Consegui, mas xinguei muito o cliente naquele dia. Não na frente dele, é claro…
E só no sábado de manhã tive cabeça para curtir as primeiras peças da campanha que começavam a ser veiculadas.
Por que cliente tem esta triste mania de deixar tudo para a última hora?