Shirlei Miranda Camargo (*)
Há alguns anos lembro de afirmações de que as lojas físicas iriam morrer, substituídas pelo e-commerce. Eu nunca acreditei nisso, sempre rebatia que não, mas que certamente elas precisariam se reinventar para sobreviver. E foi o que aconteceu: com o surgimento do Omnichannel (integração dos diferentes canais), a loja física voltou a fazer “parte do jogo”. No Omnichannel, por exemplo, o consumidor compra pela internet mas pode retirar o produto na loja física.
Esta facilidade inclusive ajudou resolver um dos “pontos fracos” das compras pela internet: o fato dos consumidores terem que esperar para ter em mãos o seu tão sonhado produto recém comprado. Agora o consumidor pode comprar no e-commerce da empresa e retirar até no mesmo dia o produto em uma loja física. Perfeito. Enfim, o mundo físico não foi substituído, mas sim integrado com o digital.
Essa integração fez surgir um novo termo do marketing: o phygital, que é a junção de experiências digitais com físicas. De acordo com o estudioso do tema Van Tichelen, o termo phygital nem é tão novo assim. Foi utilizado pela primeira vez ainda em 2013 por uma empresa de marketing australiana, a Momentun, que inclusive patenteou a palavra. Contudo é importante esclarecer que o phygital vai além da junção do mundo físico com o mundo digital: trata-se da fusão destes dois ambientes com o objetivo de criar uma experiência altamente personalizada e envolvente, gerando a fidelidade do cliente.
Vamos a um exemplo diferente de phygital onde a pessoa olha primeiro o produto no ambiente físico e depois compra. A rede de móveis Made tem um showroom onde o consumidor não pode comprar nada. Os produtos ficam expostos apenas para que os clientes possam vê-los e senti-los. Lá eles podem criar uma lista de desejos, usando as etiquetas digitais, e terminar suas compras mais tarde pela internet. Ideia sensacional e que evitaria vários dissabores.
Existem inúmeras possibilidades de como os ambientes físicos e digitais podem ser integrados, e com certeza novas formas surgirão. Outras áreas também estão se apropriando do conceito do phygital, como a educação (aulas híbridas) e a medicina (consultas virtuais).
Apesar de o conceito ser relativamente novo, principalmente aqui no Brasil, podemos seguir algumas diretrizes para criar um ambiente de vendas phygital. A primeira delas é interligar os dois ambientes e transformar o físico-digital em única experiência. Na sequência, as lojas devem buscar otimização e eficiência e abrir novas formas de entretenimento dentro do varejo, como a gamificação na loja (outra tendência). Os produtos deixam de ser protagonistas pois tudo impacta na experiência do cliente, desde a ambientação e design da loja até o suporte técnico. Isto porque o produto não será mais o foco que leva as pessoas a visitarem uma loja, mas sim o conjunto de experiências e emoções que os consumidores esperam viver.
A loja deve ser vista como espaço de comercialização de produto-serviço, um sistema híbrido que coletará dados em tempo real para entregar um serviço sob medida. Uma espécie de loja do futuro, que mais se parece com um lugar de pertencimento, com identidade própria, onde os clientes se sentirão em ‘em casa’. E por último, a era digital traz novas formas de interação homem-homem, homem-espaço, homem-produto. Dentro deste cenário, colaboração, codesign e cocriação serão a base de qualquer processo criativo para a integração de serviços personalizados capazes de melhorar a experiência de compra phygital.
A sociedade evoluiu, aliás, está evoluindo e nós teremos que aprender a conviver nesses dois mundos. Confesso que, para as pessoas que nasceram no mundo analógico, não é uma tarefa fácil, mas é necessária. Bem-vindo a uma nova era que surge: o mundo phygital!
(*) Shirlei Miranda Camargo é Professora Dra. em Estratégia de Marketing da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios do Centro Universitário Internacional Uninter