Dê a eles o que eles querem
Por Ricardo Guerra
Propaganda e Arte sempre caminharam juntas, mas ao mesmo tempo estão caminhando para locais opostos. Ou estariam se fundindo em um novo campo de conhecimento? Arrisco dizer que na verdade isso é bem antigo e você nem fazia ideia.
Velha roupa nova
Quem estuda copy, ou seja, textos pensados para o ambiente digital, focados em gerar ações específicas ou conversões, com certeza, já ouviu falar de gatilhos mentais.
Mas essa história de “últimas vagas”, “por tempo limitado” e “outras pessoas aprovaram”, funcionam mais para quem já está dentro do barco. Não vai fazer milagre em uma campanha. Então não tem muito segredo aqui e nada muito diferente da redação publicitária tradicional, exceto que o timing das coisas mudou.
Até porque o estudo do poder da linguagem e da indução é bem antigo, passando pelos sofistas até o próprio Aristóteles e estão muito bem documentado nas famosas três Artes Liberais: Gramática, Retórica e Dialética ou Lógica explícitas no livro O Trivium da Irmã Miriam Joseph (1898-1982).
Quando estudamos, por exemplo, os tipos de indução, temos a indução enumerativa que muito se assemelha ao que ensinam no marketing digital com um novo nome “prova social”: 95% das pessoas aprovaram tal produto. Ou seja, o conhecimento é bem antigo mesmo, só está de cara nova.
A arte comercial e a arte como comercial
Entao, se todo esse conhecimento atual já foi falado lá atrás, pelo menos os conceitos básicos, o que temos de diferente hoje?
Muita coisa. Até porque as pessoas mudam, as gerações mudam a linguagem e as Artes Liberais precisam ser revistas e readaptadas. Uma dessas mudanças está no próprio funcionamento do mercado, que não por acaso, está ligado intimamente ao conceito de propaganda e marketing. O mercado mudou, as formas de valorização e remuneração também, as marcas e produtos também, nós, comunicólogos também precisamos mudar. Os artistas estão passando por uma crise nunca vista com a chegada da Inteligência Artificial e muitos debates éticos estão sendo realizados.
Nessa confusão de contextos e hipertextos, chegamos às grandes questões da propaganda atual e da arte atual. Por um lado, os artistas questionam o que realmente é arte? Os músicos podem ser mais comerciais? Podemos criar produtos artísticos que realmente atendam a uma demanda? Ou precisamos deixar o artista livre para criar sem pensar em formatos ou propostas comerciais?
Já os publicitários estão precisando repensar suas formas de divulgar produtos e soluções. Nunca esteve tão em alta investimentos em outras áreas e em peças que na verdade são verdadeiras obras de arte com grande apelo artístico e refinamento, como documentários, instalações, ações sociais com grande apelo emotivo, questões ligadas a valores etc.
Nessa hora, não sabemos o que é arte e o que é propaganda, pois uma coisa se funde com a outra e isso é bem interessante ao meu ver, pois pode gerar maior envolvimento e verdade.
Artistas e Publicitários: quem somos nós?
De um lado, publicitários que queriam ser artistas. De outro, artistas que não querem se vender e perder sua essência, mas precisam pagar as contas. No fim das contas, precisamos voltar a um tema que os antigos filósofos eram mestres: autoconhecimento. Com isso, um pouco de estudo e interesse em ser útil, você vai encontrar algo que o mercado quer e que você é bom. Quando encontrar, só um conselho que eu lhe darei: dê a eles o que eles querem e seja feliz.
Quer presente de Natal melhor do que ser útil e ajudar as pessoas com seu trabalho?