Por Lyse Nogueira*
O uso de dados para entender os consumidores consolidou-se na rotina dos profissionais de marketing. No entanto, o cenário mudou significativamente, com uma quantidade sem precedentes de dados e tecnologias disponíveis para analisar e extrair insights dessas informações, apoiando a criação e oferta de experiências altamente personalizadas aos clientes.
A hiperpersonalização está se tornando uma estratégia essencial para empresas que desejam destacar-se em mercados competitivos. Neste artigo, apresento uma visão sobre o potencial dos dados nesta abordagem dentro do marketing, e como essas tecnologias estão moldando o futuro das interações entre empresas e consumidores.
Existem diversos métodos analíticos que organizações podem utilizar para implementar a hiperpersonalização de forma efetiva. Entre eles, o uso de modelos supervisionados e não supervisionados, análise de recomendações e busca por perfis similares. A ideia é encontrar perfis que se assemelhem a um tipo específico de cliente, seja em termos de comportamento ou aspectos socioeconômicos, e combinar esses insights com novos dados para entregar comunicações extremamente relevantes, que promovam a compra ou a lealdade à marca, entre outros objetivos.
Também é essencial incorporar contexto à hiperpersonalização. Ela vai além de apenas personalizar a comunicação, ao incluir o contexto e preferências específicas de um indivíduo. Isso pode envolver ofertas específicas, mas também ações e até um tom de voz apropriado para aquele consumidor. Não adianta, por exemplo, promover ofertas de roupas de verão se sabemos que a navegação do cliente é focada em roupas de inverno, ou comunicar-se com a Geração Z como se fossem Millennials. Esses detalhes são fundamentais para o sucesso de uma estratégia de personalização.
A capacidade de antecipar os desejos dos consumidores e melhorar significativamente sua experiência é outra grande vantagem da hiperpersonalização. Ao analisar padrões e comportamentos, é possível identificar tendências entre os diversos grupos de consumidores e tomar medidas específicas para atender às suas expectativas. Isso inclui, por exemplo, compreender o tipo de comportamento que geralmente leva uma pessoa a cancelar um serviço de streaming e agir proativamente para evitar essa situação. Essa capacidade preditiva envolve o uso de dados sintéticos para aprimorar a análise, além da geração de conteúdo personalizado como estratégia para reduzir a taxa de cancelamento.
Contudo, a jornada de hiperpersonalização requer atenção a alguns aspectos, principalmente o uso ético dessas técnicas. As organizações precisam considerar fatores como transparência e consentimento, comunicando aos clientes como seus dados serão utilizados. Isso não é trivial e enfrenta a complexidade dos termos e condições de uso, que são apresentados aos usuários, mas raramente lidos. Portanto, simplificar essas informações sobre o rastreamento de comportamentos é importante. Também é válido pensar em oferecer incentivos ou benefícios aos consumidores em troca dos dados fornecidos. Nesse contexto, é crucial lembrar que, se o cliente se sentir enganado, existe um risco significativo de quebra de confiança. Portanto, é crucial avaliar os trade-offs entre o que é recebido e o que é oferecido nesta jornada.
Além disso, é necessário considerar as métricas de sucesso de projetos de hiperpersonalização, que variam de acordo com o foco da campanha e podem estar relacionadas a engajamento, satisfação do cliente ou retorno sobre o investimento. É essencial estabelecer métricas básicas antes de implementar um plano cujo objetivo é oferecer uma experiência altamente personalizada. Definir claramente os resultados esperados da campanha, como mais cliques, visualizações, conscientização, retenção, conversões, ou outros objetivos, é fundamental.
Olhando para o futuro, as organizações que desejam liderar devem adaptar e evoluir suas estratégias de hiperpersonalização, atualizando-se sobre as técnicas em uso. Não é necessário esperar a coleta de todos os dados, de todos os canais, para iniciar a estratégia; é possível começar com pequenas ações.
Por exemplo, se uma plataforma de streaming conhece o time pelo qual seu assinante torce, pode personalizar a tela inicial com informações desse time, partindo do mínimo de informação e incrementando a oferta ao longo do tempo. É útil revisitar periodicamente o que foi construído, com base nas novas informações fornecidas pelo cliente.
Por fim, além de qualquer abordagem tecnológica, as empresas precisarão estar atentas às mudanças nas preferências de sua base para criar campanhas altamente relevantes. Manter uma abordagem centrada no cliente será essencial para garantir a eficácia de uma estratégia de hiperpersonalização.
*Lyse Nogueira é customer advisor do SAS Brasil.