Coluna Propaganda&Arte

“Eu vejo marcas mortas.” Com que frequência? “O tempo todo.”

Por R. Guerra Cruz

O fenômeno do Overbranding é uma realidade incontornável na era da hiperestimulação (reforçado pelo novo formato do Youtube que passa anúncio durante o pause. Isso mesmo!). As marcas estão presentes em todos os aspectos da vida cotidiana, desde nossas redes sociais até momentos mais íntimos que antes eram preservados.

Essa invasão constante gera uma sobrecarga de informações, o que pode não apenas cansar o consumidor, mas também diluir a essência das marcas. Para profissionais de marketing e comunicação, o desafio é encontrar o equilíbrio entre presença e privacidade, garantindo que a marca permaneça relevante sem parecer invasiva.

Com o avanço da inteligência artificial e tecnologias como a realidade aumentada, entramos na era da ultrapersonalização. As marcas têm hoje a capacidade de oferecer experiências altamente personalizadas e sob medida para os desejos de cada consumidor. Porém, ao cruzar a linha da personalização, o risco de invasão de privacidade aumenta.

Usar IA de maneira ética e responsável se torna fundamental para evitar que o consumidor se sinta monitorado ou excessivamente exposto, mantendo assim a confiança e o relacionamento saudável com a marca.

A privatização do espaço público através do naming rights, como estádios e eventos culturais carregando nomes de marcas, exemplifica a crescente apropriação comercial de territórios coletivos. Apesar dessa prática oferecer visibilidade e receita, ela pode impactar negativamente a memória coletiva e a experiência urbana.

O papel do profissional de comunicação é avaliar até que ponto essa exposição comercial interfere na identidade cultural e no uso comunitário desses espaços, promovendo um equilíbrio entre lucro e responsabilidade social.

Além da hiperexposição, temos a questão da “hipercultura da criatividade”, na qual os consumidores são incentivados a serem co-criadores de produtos e experiências, como embalagens customizáveis ou itens que mudam de cor.

Embora essa abordagem possa engajar, ela pode também colocar uma pressão desnecessária sobre os consumidores, forçando-os a inovar constantemente. Profissionais de marketing devem ser cautelosos para não transformar essa expectativa em uma sobrecarga emocional, alienando o público em vez de envolvê-lo.

Por fim, o conceito de branding sustentável vai além da questão ambiental; trata-se de manter a identidade da marca intacta ao longo do tempo, mesmo enquanto ela expande sua presença.

Uma marca que tenta ser tudo para todos corre o risco de perder sua essência. Construir marcas que tenham um propósito claro, autêntico e relevante, enquanto evitam a tentação da onipresença, é a chave para garantir que elas permaneçam sólidas e confiáveis em um mercado cada vez mais saturado e competitivo. A exposição excessiva, se não for gerida com cuidado, pode corroer a percepção de valor das marcas, minando sua longevidade e relevância.

Em um cenário onde todos querem ser vistos, será que apenas ser notado e lembrado ainda é suficiente? Ou o verdadeiro desafio agora é saber quando e como dar um passo para trás, respeitando o espaço e a individualidade do consumidor, sem perder relevância?

O futuro das marcas depende, mais do que nunca, da capacidade de equilibrar o “VIP” do branding: Visibilidade, Inovação e Privacidade.