Coluna Propaganda&Arte

O Criolo era Doido: as incógnitas do artista que vira pop.

por Ricardo Guerra

“Quando eu conhecia (tal artista) ele nem era famoso. Agora tá todo pop aí, perdeu a essência, não curto mais.” Alguma vez você já se deparou com essa afirmação? Ela pode até estar sendo proferida por você e com razão. Mas a comercialização/popularização de um artista pode nos render belas pérolas, sabia?

Sommelier de bandas indies vs. Fã de ícones pop

Algumas pessoas possuem dons. Por exemplo, descobrir grandes artistas antes de todo mundo. A estas pessoas foram dados vários nomes: o diferentão, que escuta som de doido, hipster musical, vanguardista fora da caixa, sommelier de banda indie e por aí vai. Fato é que a digitalização da indústria musical facilitou a criação independente, tornando o trabalho de nosso sommelier muito mais rápido e diversificado. Hoje, o indie é um termo mais amplo, quase pop (olha o perigo!). Tem até lista no Spotify de banda indie, mas não é mais aquele indie, sabe? – Eles dirão. Sommelier indie que se preze não segue estas listas, ele cria as listas e descobre antes de todo mundo, quiçá até dos próprios caras da banda que estão apenas fazendo um som no fundo do quintal. Mas essa busca pelo diferente, único, incomum e original é o melhor jeito de curtir um bom som? O que diria um fã de Anitta quando dizem que o som é ruim, pois foi feito para vender? Existe música comercial boa ou não? São muitas incógnitas, então baixe o som do seu fone de ouvido e reflita comigo.

O popular não presta? Uma elitização de bom gosto.

A indústria musical vive de nichos. Vive da fama de seus artistas. Antigamente, com a venda de discos, shows, hoje, nem sempre. A fama é relativa e nichada: quantas músicas foram baixadas legalmente? Quantos views no vídeo? Quantos seguidores você tem? Nesse novo cenário, com tantas formas de consumo de música, mais pessoas podem fazer sucesso e chegar ao estrelato sem uma produtora ou selo, o que poderia por si só ser um filtro de qualidade, mas não é. Só porque algo é independente ele merece mais atenção e respeito que algo produzido para agradar mais gente e com altos investimentos? Não. Prova disso é minha relação com o músico e compositor Criolo. Ele é um dos idealizadores da Rinha dos MCs e indicado ao Grammy Latino de 2019. Mas, eu conheci ele antes da fama (ha-ha). Bem antes, com o nome artístico de Criolo Doido, quando era mais um rapper do cenário independente com músicas bem malucas/críticas, inclusive que hoje são censuradas por ele mesmo, por exemplo, ao falar de pessoas trans de forma pejorativa, mas que na época era o jeito que ele falava. Tudo muda. Até o Criolo Doido, que não é mais Doido e virou só Criolo. Muito mais comercial, certo? As gravações caseiras foram trocadas por músicas bem produzidas, com mais influências musicais além do rap, até chegarmos ao famoso álbum: Convoque seu Buda. Aí, ele mostrou todo um repertório passando por rap, samba, reggae, falando de crítica social, anime e cultura pop, religião e tudo que você pode imaginar. Essa eu posso dizer que foi uma bela popularizada, pois ele conseguiu evoluir musicalmente e manter muito da sua originalidade, que no começo, parecia doido, mas era ele. E ele mudou bastante. Agora não é mais um músico pobre que passa aperto. Nem financeiramente e nem musicalmente. Bom pra todo mundo!

Quem é você no rolê? #TEAMIndie ou #TEAMPop

Eu considero que como publicitário preciso consumir de tudo um pouco, mesmo que não goste. Além de ouvir música, eu também escrevo e componho alguns sons e posto na rede. Um dos meus projetos chamado Rick Foraztine (imagem que ilustra esse texto) tem zero intenção de virar sucesso e poderia tranquilamente ser chamado de “indie”, pois sou eu quem faz tudo ali, escrevo, gravo em casa etc. Mas eu lanço porque sei que alguém pode ouvir e gostar, sempre tem alguém que curte alguma coisa no mundo. Então, acho que todos devemos abrir mais a cabeça para sair da nossa zona de conforto musical. E isso inclui ouvir com a mesma atenção a banda desconhecida do Uruguai que é um experimento universitário até a música mais bombada do Xamã, que vai explodir no Verão. Todos deveriam se arriscar um pouco mais, do sommelier indie ao fã de pop. Assim, podemos curtir com todas as tribos, qualquer som e dizer daqui alguns anos: “Eu lembro desse som e tenho boas recordações”.

No final, é isso que importa: encontrar uma banda incrível desconhecida é tão legal quanto curtir um som pop no churrasco com os amigos. As experiências individuais e coletivas em equilíbrio possuem importâncias iguais e nos fazem ser quem nós somos… Doido isso, né?

Indicação musical, Criolo – Convoque seu Buda