Coluna “Discutindo a relação…”

O que vai virar

Na semana passada na esteira da notícia da aquisição da Droga5, uma das maiores, mais criativa e mais competente agências independentes do mundo, pela Accenture Interactive, uma consultoria, escrevi em meu perfil do Linkedin: As consultorias querem ser agências de propaganda. As agências de propaganda querem ser consultorias… Que tempos confusos!

Caso não tenha acompanhado os fatos veja aqui e aqui.

Realmente há muita discussão em torno do fato de as consultorias cada vez mais partirem para cima do mercado sempre ocupado e atendido (muitas vezes mal atendido, aceitemos) pelas agências.  Alguns estudiosos e observadores do mercado de comunicação e marketing acreditam que as consultorias terão grande dificuldade em incorporar em suas estruturas o principal ativo ofertado pelas agências: a criatividade. Daí a enorme repercussão da aquisição.

Explicando: há muita dúvida se o modelo racional das consultorias absorverá de modo correto o pensamento criativo, a liberdade criativa e até mesmo parte do modelo de operação das agências.

Post no Twitter dá a notícia da aquisição

Do outro lado da moeda vemos as agências correndo contra o tempo para mudar seu modelo de negócio e ficar cada vez mais “com cara de consultoria”. Mudanças e acréscimos de funções e departamentos, novos cargos, novas áreas. Também vemos as grandes holdings de comunicação (WPP, Interpublic, Publicis, Dentsu, Omnicom) buscando mais integração entre suas diversas agências e empresas de comunicação e tratando de apostar mais em dados e inteligência de mercado para entregar um pacote mais amplo de serviços e soluções.

Quem vai prevalecer?

Eu creio que os dois modelos de negócios vão conviver por um bom tempo no mercado. Creio que a adaptação e a convivência entre consultorias e modelos baseados em criatividade vão dar certo em alguns casos e falhar em outros. Também creio que muitas agências descobrirão um modelo que equilibre foco em negócios, soluções e consultoria com a expertise da criatividade. Tudo vai depender das lideranças. E também de quem paga a conta: o anunciante.

Costumo afirmar com frequência que quem realmente causa as mudanças no mercado são os clientes. Suas demandas e suas necessidades de solução de problemas de mercado e comunicação são fatores determinantes para as mudanças verdadeiras.

Quem viver verá. E verá um mercado mais amplo e, provavelmente, muito melhor e mais repleto de oportunidades de trabalho para profissionais de comunicação.

Um áudio que ficamos devendo

Falamos sobre a participação brasileira em Cannes

Ficamos devendo nosso último programete de rádio. Estávamos já em época de Copa do Mundo de Futebol e no fim do importantíssimo Festival de Criatividade de Cannes, a copa do mundo da propaganda.

Esse programa foi ao ar no dia 26/06/2018.

Confira:

 

Coluna Branding: a alma da marca

A definição da marca

Costumo dizer aos meus alunos que, ao apresentarem seus trabalhos a mim, definam o que suas criações nos contam. Este é um exercício de síntese que sempre é muito desafiador a todos eles, mas, que para mim diz muito sobre a capacidade do aluno em fazer design de logotipos.

A palavra “definir” por origem é a descrição do completo fim de um assunto (DE- completamente, FINIS -fim, limite).

É possível entender isso em 2 formas: o assunto está completo e, portanto, não há nada mais a entregar ou, o meu conhecimento sobre este assunto está por completo e se limita a este espaço.

É na hora que definimos uma criação, que vemos qual dos dois entendimentos estamos falando, principalmente na criação de um logotipo, e a maioria dos alunos pensa que deve entregar um assunto por completo, pois assim estará mostrando seu grande conhecimento, sendo mais digno de uma boa nota.

No entanto, entendo que o segundo entendimento é mais propício a um designer do que o primeiro.

Foto: Pixabay

Explico: As vezes criamos conceitos visuais que tem formas tão perfeitamente arranjadas que completam o sentido daquilo que se tem a dizer. São imagens cuja representação é sinônima da informação, e que não geram dúvidas a quem lê o seu trabalho. Nesses momentos, em muitas vezes DESCARTO ESTA IDEIA, pois entendo que um bom trabalho de design gráfico é aquele que contém o mistério.

O valor da criação está no mistério, nossa compreensão precisa ser fustigada e estimulada em busca de algo mais. Como já falei em outros textos, é necessária uma certa rebeldia criativa. Aquela vontade de não estar satisfeito, de querer dominar o assunto, sem ter o poder para isso.

O designer precisa ter apenas consciência da limitação da sua criatividade, mas esta precisa estar em expansão sendo ampliada pela interferência e uso do leitor. Deve poder ser retrabalhado, reconstruído e reestruturado com o tempo, por ter ganho mais corpo e mais significado. É como um filhote de pássaro que quanto mais cresce mais colorido fica.

Uma marca com estas características por mais misteriosa que possa parecer é também mais forte e definida, pois, os seus consumidores vão estar ansiosos por compreendê-la, e assim, também mais relacionados a ela.

Nós os designers de marca precisamos estar imersos nestes mistérios quando criamos. Percebendo o encantamento dele, para que este nos diga mais sobre o assunto, e para que seja possível dar novas formas.

Por fim, a resposta para esta prova que sempre faço aos meus alunos é saber que o designer, é aquele que alimenta sua criação como se esta fosse viva, e usa para isso, a poderosa intuição do criativo e a sua capacidade de formalizá-la, assim, aumenta a compreensão e a definição do seu trabalho.

Coluna Branding: a alma da marca

Grandes depressões transformaram a arte

É fato que a criatividade é estimulada na dificuldade, que as limitações fazem o profissional criativo transgredir e com essa rebeldia surge a inovação.
Períodos de grande instabilidade na humanidade deram origem a grandes movimentos artísticos, e se hoje vivemos esta instabilidade social temos grande possibilidade de estar presenciando o surgimento de novas formas de expressão.

Como professor de design gráfico tenho obrigação de estar atento aos movimentos artísticos que influenciam nossos jovens e tenho que confessar que uma influência apresentada por um de meus alunos me incomodou o suficiente a ponto de chamar a minha atenção.

O vaporwave não me tocaria visualmente se não o visse em sua amplitude pelos olhos de meus alunos.

Ao olhar apenas um de seus frutos, seja na música, no design ou no vídeo, acharia feio desconecto, amador e sem sentido. Mas é exatamente esta a proposta da ideia. Me parece que o vaporwave é a porta da juventude fechada aos adultos, um espaço privado aos novos, por onde a nossa sociedade não pode passar, nem estar, é o verdadeiro chillout dos novos.

Se chamamos de movimentos os conceitos artísticos, é por algum motivo. Mover-se de um lado a outro é o caminho natural das coisas. Buscamos o equilíbrio quando há desequilíbrio, mas coisas equilibradas demais cessam seu movimento, sendo preciso recomeçar.

A contemporaneidade tentava dizer que havia um espaço onde tudo é possível estar em harmonia, mas os novos movimentos como o vaporwave e o glitch nos contam outra coisa.

São mausoléus da tecnologia, retalhos das religiosidades, críticas a esse conhecimento dito humano, desse progresso advindo das luzes de neon azuis e vermelhas. É a face do nosso fim de ciclo social, a imagem de um músico que toca após a rendição de sua nação, a sensação de paz no pós-guerra. Dessa forma é como se os nossos jovens já estivessem vivendo a pós-queda da nossa sociedade tida contemporânea.

Por isso que não é fácil de entender, principalmente para àqueles que ainda trabalham na construção desta sociedade. É preciso se sentir tão fora disso, tão desconectado dos valores desse nosso tempo, que ele então não exista e o que será visto é um loop de uma música dos anos 80, repetindo a exaustão, enquanto tudo a sua volta está fragmentado.

Não vejo estes estilos como genial, mas isso não significa que não seja real. 13 reason why, fez sucesso porque apresentou aos pais aquilo que eles não conseguiam ver, e ainda não vêem. Essa sociedade que trabalhamos tanto para deixar para os nossos filhos, não conversa com eles e na visão dos meninos e meninas que amamos não passa de um amontoado de tecnologia velha sem uso e triste.

Acredito que Nicola Tesla explica melhor esta situação ao dizer que “a ciência é, portanto, uma perversão de si mesma, a menos que tenha como fim último, melhorar a humanidade”, o que não parece ser nossa verdade, mas sim uma grande mentira sendo contada e recontada há muitos anos.

Vaporwave faz alusão a um conceito de Marx “vaporware”: um produto que é só anunciado e nunca realmente lançado ao público, instigando a competitividade entre as empresas e o interesse do consumidor.

A onda de vapor que construímos é nosso pensamento capitalista que se esvai em sí mesmo, e se a arte é capaz de prever já entendeu que em algum momento isso não se sustentará.

Se queremos deixar um futuro aos nossos filhos, diferente daquilo que eles estão prevendo, teremos que mostrar a eles algo mais belo do que fazemos hoje. Caso contrário, teremos que nos acostumar com estas vinhetas estranhas da MTV e as referencias que não nos dão grandes esperanças, pois, talvez nosso destino se pareça realmente bastante com um produto que é criado apenas para ser uma jogada de marketing.