Coluna Propaganda&Arte

Elas “entrarão” em nossa casa, “roubarão” tudo

Imagem criada pela IA do Midjounrey com a minha orientação

Precisei apelar para um meme que brinca com o uso errado do tempo verbal para dizer que o futuro chegou, ele pode até ser mais divertido e bonito, mas não menos complexo e desesperador. As IAs (Inteligências Artificiais) chegaram pra ficar e algumas profissões já correm risco!

Você não ouviu falar do Midjourney? Mas já deve ter visto.

Nos últimos anos, alguns programas de inteligência artificial que cruzam dados textuais e imagens estão sendo desenvolvidos e aperfeiçoados. O mais famoso dele tem sido a IA do laboratório de pesquisas Midjourney. Isso porque ela é de simples utilização (você coloca frases, textos descritivos das cenas, elementos importantes como acabamentos da arte e tudo mais que achar válido) e em poucos segundos vê uma obra de arte de primeira qualidade se formando na sua frente.

Essa inteligência artificial utiliza seu grande repertório para criar obras dignas de prêmio! E isso tanto é verdade que um artista venceu um prêmio de desenho usando essa IA no estado do Colorado-EUA e foi alvo de críticas, pois o trabalho mais complexo da arte é toda feita pela inteligência artificial, dando ao artista apenas a função de testar algumas frases e realizar pequenos retoques finais em programas de edição da imagem (se quiser).

Photo by: KOAA News5

O problema não é apenas sair com as glórias de uma obra bela como essa acima, mas lucrar com esse trabalho fácil. Já pensou nisso?

Uma nova Era da arte: IArte

A linguagem artística trabalha com arquétipos, imagens e o que estes programas fazem é justamente mesclar essas imagens significativas ligando os pontos que são as palavras que você coloca para a IA do Midjourney executar. Os críticos estão falando sobre a ética artística que esse tipo de artifício pode abalar, uma vez que esse novo “artista” acaba apenas se especializando em escolher as palavras certas e fazer uma curadoria depois de centenas de resultados que obteve escolhendo aquela imagem que achou mais bonita. Todo o trabalho conceitual, de técnica e inspiração típicas de um artista tradicional simplesmente são jogados no lixo. Essa é a visão de quem é contra esse tipo de uso e, realmente, é uma revolução!

Inspiração ou atalho preguiçoso

Como o uso dessa ferramenta ainda está em fase beta, acreditamos que muito pode-se evoluir ainda, chegando a resultados estéticos ainda mais surpreendentes. Por ser uma novidade, muitas pessoas estão se aproveitando disso, criando e vendendo imagens geradas pela IA como se fossem os autores, ou ainda, colocando-se como principal autor, mesmo que dando crédito para a IA. Isso poderia gerar lucros absurdos para um trabalho infinitamente menor do “artista” e pode acabar com toda uma gama de profissionais, sejam ilustradores, artistas conceituais, ilustradores de capa de livro, quadrinhos, dentre outros. Fica difícil competir com um novo mercado que cria imagens em minutos, com uma riqueza imensa de detalhes, milhares de imagens de repertório e ainda por preços extremamente baixos, pois a plataforma é free (pelo menos para os desenhos iniciais de teste).

Precisamos acompanhar de perto essa revolução ou ENTRARÃO e ROUBARÃO aquilo que até então nos diferenciava do restante dos animais: a nossa capacidade criativa.

Coluna “Discutindo a relação…”

Redação: capacidade de expressão e repertório

Dentre as diversas características peculiares a um bom publicitário (principalmente os que lidam diretamente com a criação de anúncios) podemos destacar duas: capacidade de expressão (incluindo-se aqui, obviamente, a lingüística, mas passando por toda e qualquer forma de expressão ou linguagem); e um amplo “repertório”.

Chamamos de “repertório” toda e qualquer informação que possa ser acumulada, e também todo conhecimento que a pessoa possa adquirir e desenvolver, não importando sua origem: cultura acadêmica, cultura de massa, cultura popular. Ter “repertório” é ter “assunto”, é ter um universo de conhecimentos tal que facilite, nas mais diversas situações, associar coisas, fatos, referências, idéias que permitam encaminhar uma solução criativa.

Maingueneau afirma que podemos considerar um determinado número de “leis do discurso que regem a comunicação verbal”. Tais leis, que se aplicam a toda atividade verbal, devem ser adequadas às especificidades de cada gênero de discurso. E segundo o autor, o domínio das leis e dos gêneros de discurso (que ele chama de competência genérica) são os componentes fundamentais de nossa competência comunicativa, ou seja, a nossa capacidade para produzir e interpretar enunciados de modo correto nas diversas situações de nossa vida.

O amplo domínio da competência comunicativa não é o bastante para a participação em uma atividade verbal. Outros níveis devem ser ativados para se produzir e interpretar um enunciado. É o caso da competência linguística, o domínio da língua em que se enuncia. Mais do que isso, é preciso possuir um grande número de conhecimentos sobre o mundo, uma competência chamada de enciclopédica.

Maingueneau estabelece três instâncias principais que interferem na dupla dimensão (produção e interpretação dos enunciados) da atividade verbal: domínio da língua, conhecimento de mundo e aptidão para se inserir no mundo por intermédio da língua. O mesmo autor afirma que essas diferentes competências interagem, se completam e não são, em hipótese alguma, excludentes. Ao contrário, o somatório de competências é essencial para que possamos nos adaptar aos diferentes gêneros de discurso, seja para produzi-los ou interpretá-los, podendo uma dada competência remediar as limitações de uma outra.

O nosso conceito de “repertório”, portanto, encontra suporte nas ideias apresentadas por Maingueneau. E é justamente esse “repertório” que vai povoar a produção das mensagens publicitárias de inúmeras vozes diferentes. Ao construir um texto publicitário, o redator, de maneira consciente, escolhe palavras, expressões e construções, buscando persuadir seu interlocutor. Ele faz tais escolhas de acordo com o seu “repertório” e do “repertório” que ele acredita possuir quem vai receber a mensagem.

Sob essa ótica, o ato de criar textos publicitários não é obra de um acaso criativo, de um estalo momentâneo. É fruto das experiências sociais de quem produz, influenciado, e muito, pelas experiências sociais de seu interlocutor. O texto publicitário deve ser trabalhado, estruturado de modo intencional. Levando, ainda, em consideração que todo enunciado é dirigido a um interlocutor, e o fato de o texto publicitário ser mais fortemente, senão totalmente, orientado para o interlocutor em função da intencionalidade com que o produtor efetivo do texto constrói seu enunciado visando a persuasão, podemos afirmar que há (na maioria das vezes) um total apagamento do autor original do texto, o produtor do texto, em prol de uma (ou mais) voz(es) que seja(m) capaz(es) de dialogar melhor com o alvo da mensagem publicitária.

Tal linha de pensamento ajuda a colocar por terra a falsa crença de que o trabalho de Redação Publicitária e de Criação Publicitária como um todo é realizado sem planejamento, que está calcado apenas na “inspiração” momentânea. É o que se costuma denominar de visão “romântica” do processo criativo. É necessário que se veja e entenda a diversidade de vozes presentes nos enunciados publicitários para que se perceba a importância de desenvolver a capacidade de expressão e de se montar um vasto “repertório”.

Coluna “Discutindo a relação…”

Os elementos fundamentais da redação publicitária

A redação publicitária é um tipo especial de redação, com algumas peculiaridades e especialidades. É a busca para dizer o que deve ser dito de maneira original e persuasiva.

É sedução, persuasão e informação.

David Ogilvy disse uma certa vez que “Fazer anúncios perfeitos é um artesanato.” Ele não estava de todo errado… Mas, em contraposição a esta ideia do grande publicitário e criativo, temos a realidade atual de que hoje trabalhamos num ritmo quase industrial…

João Renha, em A propaganda brasileira depois de Washington Olivetto, isnpirado em Olivetto e Ogilvy afirma que: “Escrever bem não é ter lampejos criativos a toda hora. É técnica, é estudo, é concentração.”

Dentro desta visão de técnica e empenho podemos destacar quatro elementos prá lá de importantes para qualquer redator publicitário. Vamos a eles:

1 – Repertório

Repertório é tudo! Tudo que você ouve, lê, escuta, experimenta e vivencia. Dentro do repertório estão o conhecimento formal, a cultura erudita, a popular e a de massa. As besteiras e os assuntos sérios. Quem quer trabalhar com criação e ser um bom redator tem que batalhar para construir um GRANDE repertório.Portanto, vá ao cinema e ao teatro, leia de tudo, veja TV aberta e fechada, maratone séries, viaje, vá a festas, pegue fila, preste atenção às conversas alheias.

2 – Associação de ideias

É a base de todo processo criativo. Buscar estabelecer entre ideias, fatos, histórias, coisas… É aqui que percebemos claramente a necessidade de ter um grande repertório. As ideias não surgem do nada. O original vem do não original, daquilo que já foi feito, que já foi dito, que já foi escrito. Junte, misture, associe! Brinque com ideias e fatos. Aproxime-os.

3 – Ideias

Devemos tentar sempre ter muitas ideias. Muitas! Não ter preguiça. Buscar associações diferentes, estranhas até. Anotar muitas ideias, escrever tudo o que vier em sua cabeça. Deixe a cabeça solta para viajar. Brinque. Faça piadas. Deixe a cabeça leve.

4 – Formulação

É o momento de dar a melhor redação possível para as ideias que você teve. É o trabalho de lapidar os diamantes. Buscar as melhores palavras, a melhor construção da frase, a melhor formulação para que a ideia seja colocada com força, com impacto! Temos que “perder” um tempo na formulação. Esse tempo é fundamental para um bom resultado final do trabalho de redação.

Então, se você deseja trabalhar ou está começando a trabalhar com redação publicitária tenha sempre em mente esses quatro elementos. E mão na massa!

Coluna Antecedentes Verbais

De Lollapalooza a Wando

Isa correta

Referência é tudo em propaganda. Mas às vezes me pergunto se publicitário sempre teve essa mania besta de fugir a todo custo da cultura de massa.

Detestar Jogos Vozares é meu direito. Mas é necessário ao menos saber de que se trata. Afinal, você tem que estar preparado pra jogar os jogos do seu público.

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Aliás, é aí que mora o pecado de muita gente: criar pra si, e não pro outro. Você não é artista. Mas ainda insiste que seu layout é uma obra da Tarsila do Amaral. E o copy é um ensaio da Virginia Woolf. Tudo isso é ego? Existe terapia e livro de autoajuda. Ah é, lembrei que você não considera best-sellers.

Ame o que quiser. Critique o que quiser. Mas conheça tudo que puder.

Enquanto isso, Valesca continua rodando firme na minha playlist.

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Muita coisa na publicidade cansa meu bom-humor.

Uma delas é a hipsterização do ambiente de trabalho – que vai desde o look do dia até o que toca na playlist.
Estaria tudo ótimo se fosse questão de gosto. O problema é que as pessoas estão pobres de referência porque não conhecem nada além do seu mundinho e se importarem muito com a minha Valesca.

Inclusive, eu vou além: tem gente que nunca pegou um ônibus.

Incluí no meu trabalho de conclusão de curso, há três anos, um trecho de uma música do Caetano. Repito a dose:
“Você precisa tomar um sorvete na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto, ouvir aquela canção do Roberto” (Baby, 1968)