A cada ano uma nova emoção

Por Josué Brazil

Como a maioria dos que me acompanham por aqui sabem, faço parte da diretoria da Associação de Profissionais de Propaganda do Vale do Paraíba, a APP Vale.

Realizamos esse ano, o mais extenso calendário de eventos desde que começamos a atuar. Mas um evento em particular é especial e afeta a todos da diretoria de uma maneira diferente: o Fest’up Vale.

Ele é especial porque a APP Vale foi pioneira em trazer de São Paulo capital para o interior (Vale do Paraíba) uma edição desse renomado evento que acontece há quase 40 anos. E por ser especial ele causa um verdadeiro turbilhão de emoções.

E era a vez de fazer a terceira edição. Foram praticamente três meses e meio gestando essa edição.

Eu, pessoalmente, sou fã de carteirinha do Fest’up desde a quarta edição em que fui em SP. De lá para cá nunca perdi uma única, mesmo quando por conta da pandemia ele aconteceu de forma remota por dois anos. Por isso, viver a construção do Fest’up Vale me faz viver, e desculpa o chavão, um vendaval de emoções.

Há expectativa, muita expectativa. Há nervosismo e impaciência quando algumas coisas parecem que não vão acontecer, há ansiedade (que chega a me tirar o sono), há frustração, há esperanças, há vontade e garra e, no final e mais importante: há sentimento de realização e de pertencimento.

Na edição desse ano trouxemos três auditórios simultâneos (um deles era o Espaço Publicitando), 18 palestrantes, 16 palestras e reunimos 220 participantes. Trouxemos nomes muito relevantes no cenário nacional (e até mundial) da propaganda e trouxemos destaques regionais. Tivemos um tema de evento e um conceito de campanha que julgo brilhante e o melhor até aqui. Todo mundo estava falando em “borogodó” durante o Fest’up Vale.

Reunimos um time de patrocinadores e apoiadores que foi recorde até aqui. Deixou a gente vaidoso e orgulhoso!

E, claro, teve muito relacionamento, reencontros, troca de ideias e conversas pra lá de interessantes. Teve a presença do presidente da APP Brasil, o Afonso Abelhão, do início ao fim do evento.

A organização sempre tem falhas, mas eu fiquei muito satisfeito. Tudo funcionou lindamente. O apoio da Universidade de Taubaté através do Departamento de Comunicação e Negócios foi pra lá de importante: foi fundamental!

Nossos embaixadores, nossos voluntários e nossos diretores se envolveram pra valer durante o desenrolar do evento. E foram essenciais para que tudo acontecesse como aconteceu: uma entrega ótima!

Que venha 2026! Que venham as novas edições do Fest’Ideias, do Marketing Day, do Vale Digital Summit e do Fest’up Vale. Que venham outras iniciativas. Da minha parte a vontade de seguir contribuindo para o aperfeiçoamento de nossos profissionais e futuros profissionais segue gigante.

Bora fazer!

Coluna Propaganda & Arte

O Eleitor de Schrödinger: Por que sua opinião política talvez não exista até alguém perguntar

Por R. Guerra Cruz

O que um elétron e um eleitor indeciso têm em comum? Aparentemente, tudo. Na estranha e maravilhosa realidade da física quântica, existe um princípio chamado “Efeito do Observador”. De forma simplificada, ele diz que o ato de observar uma partícula subatômica altera seu comportamento. Um elétron pode se comportar como onda ou como partícula, e o que define isso é o experimento que montamos para observá-lo. A realidade, nesse nível, parece tímida: ela só se decide quando olhamos para ela.

Agora, respire fundo e troque o laboratório de física pelo cenário caótico de uma eleição. O que as pesquisas de opinião pública fazem? Elas tentam “medir” a intenção de voto, a aprovação de um governo ou a opinião sobre um tema polêmico. No entanto, assim como o físico que espia o elétron, o pesquisador, com sua prancheta (ou tablet), não está apenas tirando uma foto da realidade. Ele está, muitas vezes, ajudando a criá-la.

A opinião que nasce do questionário

Muitos teóricos de metodologia, como o sociólogo francês Pierre Bourdieu, foram categóricos ao afirmar que “a opinião pública não existe”. O que ele queria dizer com essa provocação? Que a maior parte das pessoas não passa o dia refletindo sobre a reforma tributária ou a política externa para o Mercosul. Vivemos nossas vidas, e nossas “opiniões” sobre esses temas são, na melhor das hipóteses, um nevoeiro de sentimentos, informações parciais e conversas de bar.

Aí chega o pesquisador e pergunta: “Em uma escala de 0 a 10, qual o seu grau de concordância com a nova política de juros do Banco Central?”.

Nesse exato momento, um universo de possibilidades colapsa em um único ponto. Você, que nunca havia pensado em “grau de concordância”, é forçado a criar uma opinião ali, na hora. Você busca no seu HD mental fragmentos de notícias, o comentário de um tio no grupo da família, a cara do ministro da economia… e pimba: “Acho que… 7”.

Parabéns, você acaba de participar da criação da “opinião pública”. Sua reflexão não existia um minuto antes. A pergunta não mediu uma opinião pré-existente; ela a invocou à existência.

A arte de induzir a realidade: pesquisas como armas

Se o simples ato de perguntar já altera a realidade, imagine quando a pergunta é desenhada para isso. Entramos no campo das perguntas tendenciosas (ou induzidas), a ferramenta quântica preferida de certos estrategistas políticos.

Compare estas duas perguntas:

“Você é a favor do candidato Fulano?”
“Você é a favor do candidato Fulano, que promete aumentar os investimentos em educação e saúde, ou do candidato Beltrano, cujas propostas podem levar a cortes no orçamento?”

A primeira pergunta tenta ser um observador neutro. A segunda é um observador que já chega com um martelo na mão, pronto para forçar a partícula-eleitor a se comportar de um jeito específico. A “experiência” muda porque o método de observação foi alterado. O resultado não reflete a opinião do entrevistado, mas a sua reação à moldura que lhe foi apresentada.

É por isso que diferentes institutos de pesquisa, usando metodologias distintas, podem chegar a resultados tão díspares.

Alguns usam amostras mais aleatórias, outros estratificam por renda e região, e alguns… bem, alguns parecem mais interessados em construir uma narrativa do que em medir a realidade.

A política no multiverso da opinião

A analogia com a física quântica não é apenas uma licença poética. Ela nos leva a uma conclusão vertiginosa sobre o nosso tempo. Se o ato de observar cria a realidade e vivemos na era da observação constante – com pesquisas diárias, trending topics, enquetes de Instagram e monitoramento em tempo real –, então a “opinião pública” nunca foi tão instável e multifacetada.

Ela não é mais uma fotografia, mas um filme frenético. Pior: um filme interativo onde os próprios cineastas (institutos de pesquisa, mídia, campanhas) alteram o roteiro enquanto filmam.

A grande revelação não é que as pesquisas erram. É que, talvez, elas não possam acertar por definição. Não existe uma “verdadeira” intenção de voto a ser descoberta, assim como não existe uma “verdadeira” posição do elétron antes de ser medido. O que existe é um campo de potencialidades, uma superposição de estados – o eleitor é, ao mesmo tempo, pró-candidato A, pró-candidato B e completamente desinteressado, tudo ao mesmo tempo. Ele é o Eleitor de Schrödinger.

A opinião só se materializa quando a “caixa” é aberta pela pergunta de um pesquisador. E, no instante seguinte, ela já pode ter voltado a ser uma nuvem de probabilidades.

Portanto, da próxima vez que você vir uma pesquisa de opinião, não a encare como um retrato da realidade, mas como o resultado de um experimento. Um experimento que, por sua própria natureza, nos diz mais sobre o observador e suas ferramentas do que sobre o objeto observado, esse misterioso e fascinante universo quântico que chamamos de “eleitorado”.

Por que empresas orientadas ao mercado são as que realmente vencem?

Imagem gerada pela IA do Canva

Por Josué Brazil (com aquela mão amiga da IA)

De “vender mais” para “entender melhor”

Durante décadas, muitas empresas operaram sob a lógica de produzir muito, melhorar o produto ou empurrar ofertas ao consumidor. Esse modelo funcionou enquanto a concorrência era baixa e o consumidor tinha poucas alternativas. Mas o cenário mudou — e mudou rápido. Hoje, como defendem Kotler e Keller (2022), negócios bem-sucedidos são aqueles que começam sua estratégia a partir de um ponto simples: o cliente. Empresas orientadas para o mercado entendem que valor se constrói a partir das necessidades reais das pessoas, e não de dentro para fora.

As quatro orientações que moldaram o marketing

Ao longo da história empresarial, quatro grandes orientações guiaram as decisões de marketing. A primeira, orientação para produção, privilegia eficiência e volume, representada pelo clássico modelo fordista. Depois surge a orientação para produto, que aposta na superioridade técnica como diferencial. A terceira, orientação para vendas, foca em convencer o público a comprar, independentemente de alinhamento com suas necessidades. Só então surge a orientação para o marketing, defendida por Kotler (2022) como a mais sustentável: uma filosofia de negócios centrada em identificar e atender desejos do mercado com mais eficácia que os concorrentes.

Cultura organizacional: o que sustenta o foco no cliente

Uma empresa só se torna verdadeiramente orientada para o mercado quando sua cultura organizacional respira foco no cliente. Narver e Slater (1990) argumentam que a orientação ao mercado depende de uma cultura que incentive empatia, escuta ativa e coordenação interna. Exemplos contemporâneos ilustram essa força cultural: o “customer obsession” da Amazon, o empowerment dos colaboradores da Zappos e a eliminação de atritos praticada pelo Nubank. Em todos esses casos, a cultura não é um discurso — é prática diária.

Estratégia centrada no mercado: dados, insights e ação

Empresas orientadas para o mercado se apoiam em três pilares estratégicos, também discutidos por Narver e Slater (1990): foco no cliente, foco no concorrente e coordenação interfuncional. Isso exige uso de inteligência de mercado, integração entre áreas e capacidade de transformar dados em experiências genuinamente valiosas. A Netflix é referência nesse modelo: seu uso avançado de dados guia desde recomendações individuais até a criação de séries originais — sempre a partir de comportamentos reais dos usuários.

Por que essa orientação tornou-se indispensável

No ambiente atual, onde o consumidor compara, avalia e abandona marcas com facilidade, operar sem orientação ao mercado é praticamente um convite ao fracasso. Muitas empresas que se mantêm presas à lógica do produto ou da venda acabam ignorando mudanças culturais e comportamentais — e isso as coloca atrás de concorrentes mais atentos. Segundo Kotler e Keller (2022), o foco no cliente é hoje um imperativo estratégico, e não uma diferenciação opcional.

O cliente como ponto de partida — e não de chegada

Empresas vencedoras entendem que a jornada começa antes do produto e continua muito depois da venda. A orientação para o mercado não é uma campanha, nem um departamento: é uma mentalidade. Como reforçam Narver e Slater, trata-se de uma filosofia organizacional que direciona inovação, atendimento, experiência e relacionamento. No fim, o recado é simples: negócios que colocam o cliente no centro constroem valor; os que não colocam, ficam para trás.

Coluna “Discutindo a relação…”

Publicidade que fala com o Brasil real

Por Josué Brazil (com a colaboração maneira da IA)

Imagem gerada pela IA do Canva

A publicidade brasileira sempre teve um trunfo poderoso: a capacidade de conversar com o público de forma criativa, próxima e emocional. Mas, nos últimos anos, o desafio deixou de ser apenas criar boas histórias — e passou a ser contar histórias que representem de verdade quem somos. Em um país diverso como o nosso, com tantas vozes, rostos, sotaques e contextos, falar com o Brasil real é uma responsabilidade que as marcas não podem mais adiar.

De acordo com um levantamento da Kantar IBOPE Media (2024), 77% dos consumidores brasileiros afirmam que valorizam mais marcas que representam a diversidade do país em suas campanhas. E não é só uma questão de “bonito de ver”: 63% dos entrevistados disseram que se sentem mais propensos a consumir produtos de empresas que valorizam pluralidade e inclusão. A pesquisa mostra o que já se percebe nas ruas e nas redes — a audiência quer se enxergar nas mensagens publicitárias, e não apenas observar um ideal de consumo distante da própria realidade.

Por outro lado, esse movimento ainda caminha entre acertos e tropeços. O Relatório “Publicidade e Diversidade no Brasil”, do Instituto Locomotiva (2023), revelou que mais de 60% das pessoas negras sentem que raramente se veem representadas de maneira positiva nas propagandas. Isso mostra que, embora o discurso da diversidade tenha ganhado espaço, a prática ainda é limitada. Muitos anúncios acabam reproduzindo estereótipos, reforçando papéis sociais rígidos ou usando a inclusão como mero “acessório estético” — o que o público, cada vez mais atento, percebe rapidamente.

O crescimento do conteúdo local

Essa cobrança vem acompanhada de uma mudança cultural mais ampla: o crescimento da cultura de conteúdo local. Plataformas como TikTok, Instagram e Kwai têm mostrado o poder do que é regional, espontâneo e autêntico. Um levantamento da Nielsen Brasil (2024) aponta que vídeos com referências culturais locais — gírias, sotaques, tradições — têm até 35% mais engajamento do que conteúdos “neutros” ou genéricos. Ou seja, o público brasileiro quer ver o Brasil — em toda sua complexidade, alegria e contradições — sendo contado por quem vive essa realidade.

É aí que entra o papel estratégico das marcas e agências: mais do que “incluir”, é preciso pertencer. A publicidade do futuro — e já do presente — é aquela que entende que representatividade não é moda, mas espelho. Marcas que falam com empatia, autenticidade e respeito conquistam algo que vai além do clique ou da venda: conquistam relevância.

Olhar, escutar e traduzir

Em tempos de algoritmos, automação e inteligência artificial, é curioso perceber que o maior diferencial competitivo das marcas talvez continue sendo humano: a capacidade de olhar, escutar e traduzir as vozes do seu tempo. No fim das contas, é sobre isso que se trata a relação entre publicidade e sociedade — sobre quem escolhe falar, quem é ouvido e quem, finalmente, se vê.