A inteligência artificial pode salvar a criatividade — ou esvaziá-la?

Imagem gerada pela IA do Canva

Por Amanda Paribello Mantovani, especialista em marketing*

Você já se perguntou se a inteligência artificial (IA) vai, finalmente, enterrar de vez as campanhas de marketing mal executadas? A promessa é tentadora: automação, personalização em escala, eficiência. Mas a verdade é que o risco de mergulharmos em um mar de campanhas genéricas e sem alma nunca foi tão alto.

Por décadas, marcas e agências investiram tempo e dinheiro em campanhas que não engajam, não convertem e, pior, não dizem nada de novo. Resultado: ruído, desperdício e uma audiência cada vez mais cética. Agora, com a ascensão das ferramentas de IA, surge a esperança de reverter esse cenário com previsões precisas, criação automatizada e otimização em tempo real. O ciclo dos criativos ruins parece, enfim, ter data para acabar.

Mas será que isso basta?

Ferramentas como ChatGPT, Midjourney e DALL·E estão revolucionando o processo criativo: geram textos, imagens e vídeos em minutos, adaptam campanhas para múltiplos públicos e plataformas, e até simulam resultados antes do lançamento. O marketing ganha em velocidade, precisão e ROI. Casos como os da Coca-Cola e Heinz mostram que é possível, sim, criar campanhas inovadoras, personalizadas e virais com o apoio da IA.

E o que vem por aí promete ainda mais. Em 2026, espera-se que a IA seja capaz de mapear jornadas do cliente em tempo real, ajustando mensagens conforme o humor, o contexto e o canal de comunicação. A hiperpersonalização está no horizonte.

O perigo do “mais do mesmo”

No entanto, se todos usarem as mesmas ferramentas com os mesmos prompts, o que diferenciará uma marca da outra? O excesso de automação pode diluir a identidade das marcas, gerar conteúdo homogêneo e afastar o público pela falta de autenticidade. O marketing, afinal, ainda é feito de conexões humanas, criatividade e ousadia — atributos que a IA ainda não domina por completo.

O futuro é híbrido

O futuro do marketing é híbrido. A solução está no equilíbrio: a inteligência artificial deve atuar como parceira, não como protagonista. Marcas que souberem combinar tecnologia e sensibilidade humana terão vantagem competitiva. Nesse novo cenário, veremos o avanço de campanhas dinâmicas e adaptativas, capazes de reagir em tempo real ao comportamento dos usuários e aos eventos globais. O papel dos profissionais de marketing será cada vez mais o de curadores, garantindo supervisão criativa e autenticidade. A personalização extrema, quando guiada por propósito e sensibilidade, permitirá que as marcas se destaquem em engajamento e diferenciação. Além disso, o uso ético e transparente da IA será indispensável para manter a confiança do público e evitar a armadilha de conteúdos padronizados e superficiais.

A IA pode, sim, ajudar a enterrar os criativos ruins — mas isso só acontecerá se ela for usada com propósito, estratégia e senso crítico. O fim dos criativos ruins não representa o fim da criatividade. Pelo contrário: é o começo de uma nova era, onde eficiência e emoção caminham juntas.

*Amanda Paribello Mantovani é especialista em marketing e eventos, atua no desenvolvimento de estratégias criativas para fortalecer marcas, engajar públicos e potencializar resultados. Com sólida experiência em planejamento, organização e execução de eventos corporativos e campanhas de comunicação, alia visão analítica à paixão por inovação e relacionamento, entregando experiências memoráveis e impacto real para empresas e clientes.

O futuro da área de criação com o uso da Inteligência Artificial

Por Ricardo Tarza*

No final de 2022, viralizou nas redes sociais o uso de ferramentas de inteligência artificial específicas para criação de imagens de diferentes estilos, a partir de fotos pessoais. Por meio de um pequeno e simples descritivo de ações e poucos cliques, os usuários conseguiam transformar suas fotos normais em avatares robóticos, animalescos ou antiquados, representados através de ilustrações de nível artístico bastante alto.

Além de servir como uma prova de como a IA está bastante avançada, esse movimento viral acabou reacendendo um alerta que paira há algum tempo na nossa sociedade: o quanto o desenvolvimento tecnológico se tornará uma ameaça ao mercado de trabalho?

Antes de mais nada, não acredito que o desenvolvimento da IA irá substituir de forma integral a participação humana em qualquer atividade. Creio, por outro lado, que esse movimento inevitável e, porque não, irreversível, irá servir como ferramenta fundamental para que seja possível melhorar o nível de qualidade dos produtos e serviços. Digo isso, pois acredito que existe uma fronteira que, além de não ter sido superada até agora, talvez nunca seja rompida pela tecnologia: a criatividade e a inovação.

Na publicidade, por exemplo, há um contexto muito difícil de ser substituído por algum recurso tecnológico. Trata-se do relacionamento humano entre marcas e consumidores. Entretanto, não podemos esquecer que a IA é uma ferramenta capaz de elevar a entrega e a resposta de uma campanha, além de ser importante para aproximar uma marca de seu público.

Com as demandas de marketing digital cada vez mais aceleradas, produzir regularmente conteúdos de alta qualidade se tornou um passo extremamente importante para se manter competitivo no mercado. É aí que essas ferramentas de IA podem auxiliar como, por exemplo, na produção de um texto. Mesmo que não consiga substituir todo o trabalho feito pelos redatores, a tecnologia contribui com a estrutura e a sintaxe desses materiais, deixando o mais atraente e compreensível, sem comprometer o estilo de escrita do autor. No caso de um designer, softwares como o citado logo no início do texto podem ser importantes para construir as primeiras prévias das imagens que serão utilizadas no case, auxiliando o processo de criação de todo o componente visual do produto.

Além desses fatores, podemos ressaltar ainda que o uso do recurso tecnológico também traz novas oportunidades para os profissionais criativos. Com a automatização de tarefas rotineiras, os responsáveis pelos processos mais inventivos terão mais tempo para se dedicar à criação de materiais de alto nível e à experimentação, testando novas técnicas e formatos para o produto.

Neste caso, a tecnologia pode contribuir também para a distribuição das ações publicitárias por meio de um trabalho de identificação de comportamentos e preferências por parte do público-alvo almejado, melhorando assim a compra de mídia. Além disso, algoritmos de IA podem analisar dados em tempo real e ajustar as campanhas de acordo com a necessidade, permitindo elevar as taxas de conversão e um retorno sobre o investimento mais significante.

Vale ressaltar que não vamos deixar de lado as diversas lutas e transformações na criação ao longo das últimas três décadas, como os avanços nas formas manuais de se produzir uma campanha, passando pelos equipamentos de grande impressão, máquinas de escrever ou vetores de imagem, muito pelo contrário. O movimento tecnológico no segmento a partir dos anos 2000, ajudou a Inteligência Artificial a ficar cada vez mais presente nos processos criativos.

Por isso, acredito que a utilização de IA no processo criativo é uma realidade. O uso correto de ferramentas como Chat GPT, que pode ser utilizado pelos planners e redatores conteudistas, e o trio DALL-E, Midjourney e Lensa, para os diretores de arte, pode ser de grande valia para milhares de agências e profissionais na execução de campanhas de comunicação – deixando de ser vista como uma inimiga, mas como uma aliada no processo criativo. Até porque, por mais avançada que seja a tecnologia, a jornada da criatividade ainda é uma qualidade essencialmente humana. Sugiro que estejamos abertos e preparemos nosso caminho para desfrutarmos da melhor forma as novidades que estão por vir em 2023.

*Ricardo Tarza é sócio e diretor de inovação e criatividade na DreamOne. Pós-graduado em gestão, marcas e produtos de multimídia pela Faculdade Belas Artes de São Paulo, NA agência é responsável direto pela liderança de talentos, gestão, planejamento criativo, marketing digital e coordenação de ações com UX e UI, sempre com intuito de desenvolver estratégias e oportunidades com foco na conversão durante a jornada e experiência do usuário online e offline.

Coluna Propaganda&Arte

Elas “entrarão” em nossa casa, “roubarão” tudo

Imagem criada pela IA do Midjounrey com a minha orientação

Precisei apelar para um meme que brinca com o uso errado do tempo verbal para dizer que o futuro chegou, ele pode até ser mais divertido e bonito, mas não menos complexo e desesperador. As IAs (Inteligências Artificiais) chegaram pra ficar e algumas profissões já correm risco!

Você não ouviu falar do Midjourney? Mas já deve ter visto.

Nos últimos anos, alguns programas de inteligência artificial que cruzam dados textuais e imagens estão sendo desenvolvidos e aperfeiçoados. O mais famoso dele tem sido a IA do laboratório de pesquisas Midjourney. Isso porque ela é de simples utilização (você coloca frases, textos descritivos das cenas, elementos importantes como acabamentos da arte e tudo mais que achar válido) e em poucos segundos vê uma obra de arte de primeira qualidade se formando na sua frente.

Essa inteligência artificial utiliza seu grande repertório para criar obras dignas de prêmio! E isso tanto é verdade que um artista venceu um prêmio de desenho usando essa IA no estado do Colorado-EUA e foi alvo de críticas, pois o trabalho mais complexo da arte é toda feita pela inteligência artificial, dando ao artista apenas a função de testar algumas frases e realizar pequenos retoques finais em programas de edição da imagem (se quiser).

Photo by: KOAA News5

O problema não é apenas sair com as glórias de uma obra bela como essa acima, mas lucrar com esse trabalho fácil. Já pensou nisso?

Uma nova Era da arte: IArte

A linguagem artística trabalha com arquétipos, imagens e o que estes programas fazem é justamente mesclar essas imagens significativas ligando os pontos que são as palavras que você coloca para a IA do Midjourney executar. Os críticos estão falando sobre a ética artística que esse tipo de artifício pode abalar, uma vez que esse novo “artista” acaba apenas se especializando em escolher as palavras certas e fazer uma curadoria depois de centenas de resultados que obteve escolhendo aquela imagem que achou mais bonita. Todo o trabalho conceitual, de técnica e inspiração típicas de um artista tradicional simplesmente são jogados no lixo. Essa é a visão de quem é contra esse tipo de uso e, realmente, é uma revolução!

Inspiração ou atalho preguiçoso

Como o uso dessa ferramenta ainda está em fase beta, acreditamos que muito pode-se evoluir ainda, chegando a resultados estéticos ainda mais surpreendentes. Por ser uma novidade, muitas pessoas estão se aproveitando disso, criando e vendendo imagens geradas pela IA como se fossem os autores, ou ainda, colocando-se como principal autor, mesmo que dando crédito para a IA. Isso poderia gerar lucros absurdos para um trabalho infinitamente menor do “artista” e pode acabar com toda uma gama de profissionais, sejam ilustradores, artistas conceituais, ilustradores de capa de livro, quadrinhos, dentre outros. Fica difícil competir com um novo mercado que cria imagens em minutos, com uma riqueza imensa de detalhes, milhares de imagens de repertório e ainda por preços extremamente baixos, pois a plataforma é free (pelo menos para os desenhos iniciais de teste).

Precisamos acompanhar de perto essa revolução ou ENTRARÃO e ROUBARÃO aquilo que até então nos diferenciava do restante dos animais: a nossa capacidade criativa.