O desafio das marcas em meio à banalização do propósito

A verdadeira força de uma marca não está em seguir cegamente tendências narrativas do momento. É preciso saber quando é hora de desafiar o status quo

Por Mark Cardoso*

A ascensão e capilaridade do conceito de propósito no métier corporativo foi meteórica. O que antes era um processo de busca por uma identidade única e autêntica para as marcas andou se tornando um imperativo estratégico capaz de guiar decisões, conectar com o público e construir marcas fortes e duradouras. No entanto, a popularidade do termo “propósito” trouxe consigo um efeito colateral: sua banalização.

Em uma esquina da Faria Lima, em uma calçada da Vila Olímpia, em um café da Berrini ou da Paulista, hoje, é possível ouvir ressoar a palavra “propósito” como o mantra da vez do mundo corporativo, contextualizada ou descontextualizadamente. E não somente: em uma igreja do interior, nos stories de um influenciador ou nas salas comerciais de um coach, propósito parece ser o “último grito” narrativo para compor sermões, ostentações de estilo de vida e mentoria a empreendedores.

Mas voltemos ao mundo corporativo, que é o que nos interessa aqui…

Em seu livro “A Marca Além do Propósito”, Renato Figueiredo nos alerta sobre os perigos da fixação em um único ponto estratégico, como o propósito, deixando de lado outros tantos elementos fundamentais da construção e do desenvolvimento de marca (branding). Como afirma o autor, marcas se desviam da geração de resultados ao olharem fixamente um único ponto.

Essa busca desesperada por ver um propósito em tudo, muitas vezes desvinculada da realidade e dos valores da empresa, tem levado a um cenário em que o discurso sobre propósito se sobrepõe às ações. A autenticidade, que antes era um pilar fundamental, cede lugar a um discurso vazio e padronizado, no qual todas as empresas parecem dizer a mesma coisa: o Ctrl-C, Ctrl+V de narrativas marcárias. Talvez isso tenha feito o CEO Global da Unilever, Hein Schumacher, dar aquela declaração polarizante em que disse que “devemos parar de encaixar propósito à força nas marcas. Para algumas, simplesmente não será relevante. E isso está bem”.

O Propósito está morto. Viva o Propósito!

Figueiredo propõe uma abordagem mais holística, baseada em três pilares: REI – Reputação, Estilo e Ideia. Segundo ele, “apenas a partir de uma postura menos pretensiosa as marcas poderão ter resultados mais expressivos para os negócios, para as pessoas e para o mundo do qual todos dependemos”. O delírio de algumas marcas quanto ao seu “brand purpose” começa a soar ridículo.

É importante não subestimar o consumidor, entendendo que ele sabe que, apesar de todo o pano de fundo, o que nós queremos mesmo é vender mais. Mais importante ainda é saber – e refletir essa noção na narrativa (brand storyline) – que uma marca não vai salvar o mundo, mas pode transformar algumas realidades; não vai resolver a vida de alguém, mas pode atualizar comportamentos; não vai convencer de imediato, mas pode provocar novos pontos de vista; não vai…

Para as marcas, sabemos: a perda de autenticidade pode resultar em uma diminuição da credibilidade, dificuldade em se conectar com o público e, consequentemente, em um menor engajamento e fidelização dos consumidores. Para eles, inclusive, a saturação de discursos sobre propósito pode gerar desconfiança e ceticismo, tornando-os ainda mais criteriosos em relação às marcas do mercado.

Uma forma de escapar dessa arapuca é olhar também para a Reputação da marca, que é algo construído ao longo de uma jornada. Nessa seara, consistência (!) nas ações de comunicação e, claro, nas entregas com qualidade em produtos e serviços são chave; é a experiência do público com a marca e seus produtos que delineiam a percepção, matéria-prima da reputação.

Outro pilar importante é a zeladoria no que diz respeito ao Estilo, que é a expressão visual e comunicacional da marca, aquilo que a diferencia dos concorrentes e a torna memorável (brand recall). Para isso, o primor de execução na identidade visual, na linguagem, no tom das mensagens e na experiência é essencial.

Tudo isso sem esquecer da Ideia, que é filha caçula do Propósito de Marca: é por meio da ideia que a razão de ser da marca se manifesta, é comunicada e ganha vida. Ela pode ser a materialização de um valor, uma promessa ou uma aspiração. Como a gente sabe: é por causa da ideia, muitas vezes, que o consumidor escolhe uma marca em vez de outra.

Como ilustração, imagine uma marca de roupas sustentáveis… o seu propósito pode ser “reduzir o impacto ambiental da indústria da moda”. A ideia da marca, por sua vez, pode ser “moda consciente e atemporal, que valoriza a qualidade e a durabilidade”. A ideia vai além do propósito, definindo a identidade visual da marca, a linguagem utilizada, os materiais empregados e a experiência final do cliente que vai se relacionar com tudo isso.

A verdadeira força de uma marca não está em seguir cegamente as tendências narrativas do momento, mas em saber quando é necessário desafiar o status quo. Propósito, quando autêntico, é poderoso, mas só é um verdadeiro diferencial quando aliado à preocupação com a reputação, ao primor estilístico e a uma ideia clara, tangível, com pitadas possíveis de genialidade.

Se a Geração Z é a geração da apatia – tendo sido a GenY a da ansiedade – e começa a adentrar a sociedade de consumo com visões e um estilo de vida mais pragmáticos, o mercado precisa, então, de marcas que se atrelem menos às buzzwords e mais à prática de geração de valor real para seus consumidores e para o mundo.

*Mark Cardoso é Head of Brand do Grupo Superlógica. Jornalista e publicitário, com mestrado em Marketing/Branding (Desenvolvimento de Marca) pela Universidade de Brasília (UnB), já acumula mais de 20 anos de experiência com passagens por veículos, agências, marcas e empresas. Com um livro publicado, o psicanalista acredita na pergunta como início do movimento e, talvez por isso, já tenha vivido em cinco cidades diferentes.

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Colinas Fashion mostra o que será tendência na nova estação

Primavera chega com muito colorido e looks que combinam estilo com bem-estar

Um desfile que começa com plataformas super altas, vestidos esvoaçantes, camisas de cetim e paetês, todos em tom de rosa choque, quer dizer o quê? Que a primavera, que começa nesta quinta-feira (22), será marcada por cores fortes. Nude? Preto? Tons que nunca saem de moda, eles se tornaram coadjuvantes no círculo cromático do Colinas Fashion Edição 25 anos, realizado no dia 5 de setembro, no Colinas Shopping, e que apontou o que será tendência nas estações mais quentes do ano.

“A gente teve um inverno colorido, e o verão será mais colorido ainda”, afirma Reginaldo Fonseca, produtor do desfile. “Qual é a proposta da indústria com relação às cores? Nós ficamos presos durante dois anos no escuro, no isolamento. A cor traz alegria! Então, acho que essa é a simbologia. Separadamente ou no formato de monocromia.”

Se há alguns anos combinar laranja com rosa causaria espanto, o look montado para a modelo e influenciadora Sabrina Paiva mostrou a força das composições coloridas – que já estão por aí há algum tempo, se encaixando nas estações como quem diz que chegou e veio para ficar.

“Essa é a mistura de possibilidades: monocromático, branco, laranja, amarelo, verde, abacate, com pouco ou muito brilho. Hoje tem de tudo porque a moda é muito democrática, e as lojas têm muitas combinações”, explica Reginaldo.

Convidado para ser stylist do evento, Ronaldo Gomes deu uma ideia do que veremos nas vitrines nesta estação. “Roupas com muito recorte, fendas, os blazers com microssaias, com saias de cintura mais baixa, que é uma tendência forte. E o mais incrível é a nova alfaiataria, com camisas mais arredondadas, golas mais finas na alfaiataria masculina e a forma mais chique, engomada, de se vestir.”

Enquanto as peças recebem novas cores e modelagens, os acessórios também ganham uma atenção diferente neste fim de ano. “Até o jeito de levar a bolsa se torna um comportamento de moda. Você carrega a bolsa como uma pasta, uma carteira. Essa é uma tendência no comportamento”, conta Ronaldo.

Os looks com paetês, barriga de fora e transparências também ocuparam boa parte da passarela e, segundo Reginaldo, são reflexo de uma sociedade que quer brilhar. “Quem não quer? Todas as pessoas estavam brilhando na plateia também. A passarela é um espelho da gente e nós estávamos batendo um papo sobre moda com 800 pessoas, sem contar com as pessoas que estavam em casa assistindo. A gente informou de forma direta e precisa o que é moda e o que elas podem e devem usar. O futuro é agora, as pessoas estão saindo de casa agora. E as pessoas querem mostrar quem elas são e querem brilhar.”

Tendência, para o Colinas Fashion, é uma mistura do que está em alta com o que faz a pessoa se sentir bem. Por isso, a passarela do desfile nunca foi tão diversificada, seja de corpos ou de estilos.

“Nós somos impactados pela moda porque ela gera desejo, nós queremos ser vistos e elogiados, isso é comportamental. A maneira que nos vestimos expressa, comunica. As pessoas têm preferido se sentir confortáveis, por isso os tênis seguem com força, assim como o jeans, a renda, o curto, o longo”, afirma Reginaldo.

Fonte: CABANA – Ticiana Schvarcz