IA na automatização de campanhas: tendências e impactos

Por Camilla Veiga*

A evolução da inteligência artificial (IA) tem revolucionado diversos setores, e a publicidade não é exceção. De acordo com uma pesquisa da Research and Market, o uso de IA para marketing e publicidade está avaliado em mais de US$ 12 bilhões no mercado global, com previsão de atingir US$ 107 bilhões até 2028. Em um futuro próximo, campanhas totalmente automatizadas, movidas pela IA, não só serão possíveis, mas inevitáveis. A pergunta já não é mais se um dia isso acontecerá, mas, sim, quando.

No presente, a IA já desempenha um papel fundamental na pesquisa de consumidores, segmentação de audiências e direcionamento de campanhas. Ferramentas de IA têm facilitado a identificação de públicos-alvo e a análise de tendências de consumo em tempo real. A capacidade dessas ferramentas de realizar consultas em linguagem natural, simplificando a interface de usuário, já está em desenvolvimento e promete transformar significativamente o setor.

Outro avanço importante é a criação de texto, áudio e imagens com a IA generativa. A tecnologia é capaz de reduzir o tempo e os custos associados à produção de campanhas publicitárias, permitindo ajustes rápidos e personalizados. Modelos generativos avançados podem modificar imagens, criar conteúdos e até gerar vídeos, democratizando o acesso a campanhas em mídias tradicionais e digitais.

Além disso, a IA também está otimizando campanhas, analisando desempenho e gerando relatórios detalhados. Algoritmos de machine learning analisam grandes volumes de dados, ajustam estratégias em tempo real e fornecem insights valiosos. Para 2030, imagina-se um cenário em que um anunciante possa simplesmente comandar uma assistente virtual para criar campanhas específicas e personalizadas em segundos.

Esse processo automatizado permite que os profissionais de marketing se concentrem na elaboração de estratégias e na criatividade, áreas nas quais a intervenção humana ainda é insubstituível. Embora a automatização proporcionada pela IA traga eficiência, escalabilidade e precisão, essa inovação ainda levanta questões sobre a necessidade de um equilíbrio entre automação e intervenção humana.

Enquanto a tecnologia avança rapidamente, é pertinente considerar os aspectos éticos e estratégicos de sua implementação. A discussão sobre até onde a automação deve ir será central nos próximos anos, à medida que o setor publicitário aprende a integrar e equilibrar as capacidades da IA com a expertise humana.

É preciso reconhecer as limitações da IA e complementar seus recursos com o olhar humano. Ainda que a automação total seja uma possibilidade no futuro, é necessário avaliar se isso é realmente desejável. Enquanto aprendemos a trabalhar em conjunto com a tecnologia, o pensamento estratégico e criativo humano continuará desempenhando um papel fundamental na criação de campanhas relevantes e autênticas, assim como na conexão com os consumidores.

*Camilla Veiga é Head of Sales da plataforma global de publicidade MGID no Brasil.

O profissional de mídia 4.0: entre algoritmos, prompts e criatividade

Por Thiago Fernandes*

Recentemente, comemoramos o dia do Profissional de Mídia. É impossível mensurar ao certo quando esta profissão surgiu de fato, porém, o que podemos ter certeza é que ele passou por inúmeras mudanças desde então. Inclusive, a potencial maior delas acontece neste exato momento.

Thiago Fernandes

Antes de mais nada, porém, é preciso avaliar o contexto histórico. Há alguns anos, os profissionais técnicos que operam nas plataformas de comunicação, principalmente Google e Facebook, eram chamados de “traders”. Isso porque havia uma clara semelhança entre a forma de atuação destas pessoas com funcionários do setor financeiro, em um leilão frenético entre publishers vendendo seus espaços e as agências/anunciantes calibrando os lances.

Com a evolução do papel da comunicação no negócio e nos resultados dos clientes, a operação de mídia passou a receber um teor mais analítico e matemático. Não me entenda mal, ser criativo e estratégico sempre foi parte importante do pacote. No entanto, os profissionais mais recentes que ingressaram no mercado passavam mais tempo operando plataformas digitais do que expondo o seu lado inspiracional.

Avaliando o atual cenário, a IA definitivamente chegou e está sendo integrada de forma definitiva na rotina de praticamente todas as áreas. E o profissional de mídia, é claro, não está passando ileso a isso. Em um movimento liderado por essas mesmas grandes plataformas, como Google e Facebook, estão sendo implementadas soluções complexas e integradas ao setor, praticamente unindo a parte criativa à operação de comunicação.

Por meio da integração da IA com as plataformas de mídia, você é capaz de montar sua peça, troca o fundo, adiciona o call to action, muda o copy, integra nas campanhas, testa o resultado, tira insights, otimiza e corre pro abraço. Tudo numa mesma jornada de usuário e sequência rápida de cliques e prompts. Este é o futuro presente da profissão, pelo menos no que depender das plataformas self-service.

Esse novo cenário cria um momento de reflexão – como será o profissional que irá cumprir essa função? Daqui a mais ou menos 2 anos (ou será 6 meses?), quando esse profissional for contratado, como será sua rotina? E qual será a nomenclatura desse cargo? Criatimídia? Midiativo? Criativo analítico? Estrategista de campanhas? Trader criativo?

Apesar de todas essas incógnitas, o que fica claro é que o novo profissional de mídia, ou de criação, ou de marketing em geral, vai precisar adicionar inúmeras novas camadas em uma única função: capacidade analítica, ser bom com números, ter senso estético, criatividade, redação e desenvolver bons prompts. Ou seja, um uso intenso de ambos os lados do cérebro.

A ampliação das atribuições não ocorre sem um contexto propício. Com a IA integrando-se cada vez mais às plataformas, a automação de tarefas repetitivas irá liberar tempo para que os profissionais da área possam focar cada vez mais em estratégias criativas e analíticas. No entanto, isto exigirá novos conhecimentos e demandas por parte dos especialistas. Plataformas como o Google Ads, por exemplo, já utilizam machine learning para otimizar lances e segmentação de forma automática, mas demandam conhecimento, mesmo que básico, em programação básica e compreensão de algoritmos da tecnologia.

Ou seja, a convergência entre departamentos criativos e de mídia sugere uma maior necessidade de colaboração interdisciplinar, com equipes integradas de criadores, analistas de dados e especialistas em IA trabalhando juntas para criar campanhas holísticas. O grande ponto é: será que os departamentos de Criação e Mídia, apartados, porém integrados, como são hoje, continuarão a existir? Aliás, será que departamentos irão existir?

“Ah Thiago, mas os profissionais de hoje já são assim!” São mesmo? Claro que existem profissionais que conseguem alinhar todas essas expertises, seja por talento ou necessidade. Contudo, cada vez mais esse será o default da profissão – e precisaremos aprender na marra a viver dentro desta nova realidade. Estamos num momento de deslumbramento, adaptação, incertezas e novidades. É normal estar apreensivo, mas também é mágico poder participar de tudo isso, desde ajudando a desenhar o futuro ou mesmo experimentando como as coisas acontecerão.

A grande verdade é que a profissão de mídia digital está em constante evolução, e a integração da IA está transformando a maneira como as campanhas são criadas e gerenciadas. O especialista precisa estar mais preparado do que nunca, alinhando uma combinação equilibrada de analista de dados, criativo, estrategista, tecnólogo e adaptando-se continuamente às novas ferramentas e métodos que a tecnologia traz para o campo. O caminho à frente é desafiador, mas também repleto de oportunidades para inovação e crescimento.

*Thiago Fernandes é Diretor Executivo de Canais e Audiências da iD\TBWA, considerada uma das principais agências de publicidade do Brasil que combina dados, criatividade e inovação. Ele é responsável por liderar um time multidisciplinar responsável pela construção de estratégias focadas no crescimento de diferentes marcas e negócios, em setores de alta concorrência, como Automotivo e Telecom.

Coluna Propaganda&Arte

Por R. Guerra Cruz

As propagandas estão mais burras e emocionais? (Spoiler: a inteligência artificial não tem nada a ver com isso).

Na era das propagandas com IAs e das redes sociais, o que não falta são campanhas surpreendentes e controversas que repercutem por muito tempo. Mas será que, no meio de tanta informação, algumas delas estão indo na contramão da inteligência? Vamos investigar essa questão enquanto falamos do caju invertido, do ressurgimento de Elis Regina e nos dados alarmantes sobre a queda do QI.

O Caju de Cabeça para Baixo – Falem bem ou falem mal…

Há alguns meses, a propaganda do caju invertido da L’Occitane deixou muita gente de cabeça para baixo – literalmente. Com a fruta crescendo de forma nada convencional, a marca arriscou perder a cabeça dos consumidores, levando-os a questionar: “Eles realmente acham que somos tão burros assim?” Talvez eles estivessem só tentando dar um nó na concorrência, mas acabaram criando um nó na cabeça do público que “xingou muito no Twiiter” (ou X?) falando da burrice da marca. A questão é: vendeu ou não vendeu mais?

O Legado de Elis Regina – Vale tudo por mais um vídeo clipe

Enquanto isso, a Volkswagen decidiu ressuscitar a inigualável Elis Regina com a ajuda da inteligência artificial e recebeu tanto críticas como elogios. Parece que eles queriam tocar nossos corações, mas será que precisavam nos deixar tão emocionados a ponto de duvidarmos se estamos assistindo a um comercial ou a uma cena de um universo paralelo? Afinal, o grande objetivo disso tudo era ressuscitar nosso desejo de comprar uma kombi nova.

A Queda do QI – Estamos ficando mais burros.

E como se não bastasse, os dados sobre a queda do QI entre as gerações mais jovens chegaram para nos lembrar que talvez não sejam só as propagandas que estão ficando mais burras. Será que é o excesso de telas? A falta de leitura? Ou será que estamos nos tornando tão inteligentes artificialmente que estamos perdendo nossa própria inteligência?

Como diria o neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França: Costumo ouvir que os nativos digitais sabem “de maneira diferente”. A ideia é que embora apresentem déficits linguísticos, de atenção e de conhecimento, são muito bons em “outras coisas”. A questão está na definição dessas “outras coisas”.

Então, amigos, enquanto nos divertimos com as propagandas mais burras e emocionais que o mundo já viu, vale a pena lembrar que, no final das contas, somos nós, o público, que decidimos o que é inteligente e o que não é. E sejamos sinceros, nada supera a inteligência genuína, nem mesmo os truques mais elaborados da inteligência artificial. Que possamos continuar a desfrutar das propagandas mais absurdas e comoventes com o bom humor e a perspicácia que só a verdadeira inteligência pode proporcionar.

IA: Quais os benefícios para a geração de conteúdos?

Por Renan Cardarello

Muitos se perguntam se utilizar a IA para criação de conteúdo é algo ético. Enquanto isso, do outro lado, temos muitas empresas que adoraram a nova tecnologia e já deram sinal verde para a sua utilização, desde que seja para a criação de conteúdos de “qualidade”. O fato é que muito pode ser conquistado pelas marcas que investirem nessa ferramenta internamente, mas, ela precisa ser bem estruturada e manuseada pelos times, para que saibam como incorporá-la estrategicamente para seu bom desempenho.

Recentemente, um dos maiores exemplos vistos no mercado de IA neste objetivo, foi o ChatGPT. Essa tecnologia teve o início de seu desenvolvimento em 2018, sendo lançada para uso público geral no ano de 2022. A partir de sua chegada, houve um “boom” gigantesco em seu reconhecimento, aparecendo em noticiários nacionais e aprofundando suas capacidades de usabilidade no meio corporativo.

Além do chatGPT da OpenAI, hoje também temos o BingChat e o Google Bard para trabalharem exclusivamente com textos, apesar desses dois últimos ainda terem um reconhecimento relativamente pequeno dentro da área inovadora que a OpenAI criou com seu software.

Quando implementadas, essas ferramentas são fortemente benéficas em prol da otimização do tempo de criadores de conteúdo, pois a ferramenta consegue, através de um comando, gerar textos totalmente originais, mas baseados em informações que circulam na web, exigindo ao “cocriador” apenas o trabalho de edição, análise do sentido geral do texto e validação final no que se refere a palavras que podem estar erradas ou que a parte humana da dupla pode querer alterar por algum motivo.

A popularização desses recursos foi tanta que, segundo dados colhidos pela Semrush, houve um crescimento de 42119.2% no número de acessos a essas funcionalidades em janeiro de 2023, quando comparado ao mesmo período de 2022. Hoje, o Brasil é o 5º país que mais utilizou essa tecnologia, isso apenas alguns meses depois de seu lançamento em 2022.

A partir dessa disseminação sobre a utilidade do software, várias pessoas começaram a utilizá-la para a otimização de seus trabalhos, sejam em roteiros para vídeos, conteúdos de blog ou pesquisas gerais. Isso fez, inclusive, com que o Google adicionasse uma nova sigla para o ranqueamento dos sites em sua página de resultados, incluindo um novo “E” e transformando o EAT em EEAT, significando experiência, expertise, autoridade e confiança.

Além disso, o buscados também anunciou, em sua última atualização de posicionamento, que “o uso apropriado de IA ou automação não vai contra nossas diretrizes”. Nesse sentido, temos o sinal verde para podermos utilizar a IA generativa nas estratégias organizacionais, desde que seja direcionado ao modo a produzir, como último objetivo, conteúdo útil para os usuários.

Mas, como uma IA iria apresentar experiências próprias ao gerar textos de conteúdos de artigos ou blogs? Aqui vem a parte de colaboração humana que o Google deseja. Uma forma de fazer isso seria utilizando a IA para fornecer os blocos de conteúdos a serem utilizados e, depois, lapidar aos poucos o texto gerado, adicionando as próprias experiências e palavras ao conteúdo, de forma que resulte em um texto ainda mais útil para o usuário.

Trabalhando dessa forma, temos uma otimização do tempo do profissional responsável pela criação de conteúdo, o que resultaria, consequentemente, em um maior número de trabalhos produzidos dentro do mesmo período em que ele exerceria sua função anteriormente às mudanças que a nova ferramenta trouxe – algo que origina um maior número de conteúdos de qualidade para os usuários.

Não há dúvidas que o boom da IA chegou, apresentando um grande impacto para os criadores de conteúdo, tendo seu trabalho reconhecido até mesmo pelo Google como algo que pode ser de utilidade para todos. Hoje, há cerca de 14 meses desde seu lançamento público, podemos dizer que a IA, principalmente a generativa, chegou para ficar. Agora, resta a nós fazer o que nossa espécie sempre fez de melhor durante toda sua história: adaptar-se ao cenário em que estamos inseridos.

*Renan Cardarello é CEO da iOBEE, Assessoria de Marketing Digital e Tecnologia.