Artigo trata de inteligência artificial e jornalismo

Inteligência artificial no jornalismo: atravessamos a mais recente fronteira tecnológica, e agora?

por Guilherme Carvalho*

O dilema entre seres humanos e máquinas é, sem dúvida, um dos mais instigantes temas da modernidade. Seja por instrumentos movidos por força mecânica, a vapor, carvão, ondas eletromagnéticas, eletricidade, bytes ou algoritmos, este assunto é motivo de medos e, ao mesmo tempo, fascínio. Filmes como “Blade runner” (1982), “Matrix” (1999), “A.I. Inteligência Artificial” (2001), “Eu Robô” (2004) e “Ela” (2013), além da série “Black Mirror” (2019) não fizeram sucesso à toa. Além dos efeitos especiais, são produções que tocam na ferida e apontam para um futuro possível na convergência humana e tecnológica, geralmente retratada de modo conflituoso.

Como é característica de toda polêmica, este assunto é permeado por um dualismo. Parafraseando Umberto Eco, os “apocalípticos” tendem a traçar um futuro sombrio, no qual o trabalho humano se torna obsoleto. Para muitos destes, as máquinas são inimigas e o discurso soa conservador, percepção que remete aos tempos de ludismo, quando operários resolveram quebrar máquinas de tear no início do século XIX ao notaram que estavam sendo substituídos.

Esta percepção muitas vezes pessimista é confrontada pelos “integrados”, que tendem a ver os benefícios do desenvolvimento científico e tecnológico, sobretudo para o mundo dos negócios. Para estes, o uso de máquinas, robôs, e outras tecnologias é imperativa e um caminho sem volta que deve ser considerado como o futuro da humanidade. Temos então uma visão mais otimista que se referencia nos benefícios que isto pode trazer.

Eu, que não gosto de ditados populares, principalmente aqueles que reforçam o senso comum, me rendo em busca de uma frase que possa explicar de forma simples meu pensamento. “Nem tanto ao céu, nem tanto à terra”, meus amigos.

O jornalismo, atividade profissional como poucas que trabalha no tratamento da informação, vive intimamente uma relação de amor e ódio com as tecnologias. De um lado, acelerou a produção de conteúdos, facilitou o acesso a dados e fontes de informação, diversificou as atividades destes profissionais, expandiu de forma ilimitada a circulação de produtos jornalísticos, comprimiu tempo e espaço aumentando a produtividade. Ninguém negaria que estes são bônus colecionados ao longo dos anos para o jornalismo. Entretanto, vemos também as demissões de jornalistas, o esvaziamento das redações, a explosão de notícias falsas e desinformação, o cenário de hiperconcorrência midiática, o fim do monopólio da informação e as crises do modelo de negócios, entre tantos fatores que impactam negativamente a profissão.

A mais recente fronteira tecnológica atravessada pelo jornalismo é a do uso de inteligência artificial (IA) para a produção de notícias. Acontece que comparado a outras áreas como a indústria, o mercado financeiro, a medicina e a engenharia, o negócio jornalístico está ainda engatinhando. Apesar que devemos reconhecer as iniciativas que já circulam em nosso meio. É o caso da Narrative Science, empresa norte-americana que processa dados e os transforma em textos noticiosos. A agência Associated Press utiliza a ferramenta Automated Insights. O Washington Post, o Heliograf. O Los Angeles Times, o Bot Quake, que produz pequenas notas sobre tremores de terra. CNN, Forbes e The Wall Street Journal também já utilizam estes recursos. Em um nível intermediário, encontramos iniciativas como a Local Labs que opera pequenos jornais regionais e oferece edições locais e outros serviços para jornais de metrôs nos subúrbios. Também a ProPublica, que inspira vários projetos brasileiros, já utiliza um aplicativo de notícias, a Opportunity Gap. Estes exemplos são empregados desde 2009.

No Brasil, tirando alguns poucos casos (um exemplo é o Aos Fatos, que oferece aos leitores um robô checador de informações chamado “Fátima”), o assunto ainda é um tabu entre muitos jornalistas e pesquisadores. Parte deste silêncio se deve ao desconhecimento sobre o assunto. Termos como Machine learning e NLG e mesmo a utilização de algoritmos são pouco tratados no meio. Talvez, seja esta a sina expressa naquela velha máxima jornalística de que o jornalismo fala de tudo, menos de jornalismo.

É o que explica porque notícias que apontam a adoção de Inteligência artificial no jornalismo causem ainda arrepios. O episódio mais recente foi o anúncio da Microsoft Notícias e da MSN e que estaria demitindo 50 jornalistas para substituí-los por IA. Casos semelhantes já haviam sido publicados em outros lugares. A editora portuguesa MotorPress já havia sido denunciada pela demissão de 28 funcionários em 2009 pelo mesmo motivo.

Um dos desafios atuais, portanto, daqueles que vivem o meio jornalístico, seja profissional ou academicamente, é justamente o de entender o uso destas ferramentas e compreender de que maneira podem ser utilizadas para o bem do próprio jornalismo. Se partirmos da premissa descrita pelo pesquisador finlandês Carl-Gustav Linden, ou seja, de que se trata de um sistema regido por “um conjunto de operações autossuficientes a serem desempenhadas passo-a-passo, como cálculos, processamento de dados e raciocínio automatizado – um conjunto de regras que definem precisamente uma sequência de instruções que serão compreendidas por um computador”, perceberemos que a ação humana é insubstituível. Afinal, quem programa estes sistemas, quem define o que é mais ou menos relevante, qual estrutura hierárquica de informações deve ser considerada na elaboração do conteúdo?

Não perceber esta realidade pode relegar os jornalistas a um papel secundário neste processo, enquanto programadores, engenheiros, gestores e tecnólogos da informação, entre outros profissionais, assumirão este posto.

A partir de uma compreensão mais técnica, podemos vislumbrar o uso destas tecnologias no processamento de grande volume de dados, a busca de informações em bases restritas ou segmentadas, o acesso a informações de arquivos históricos, na checagem de informações e declarações de autoridades, na produção de notas complementares que podem ser somadas a reportagens e outros conteúdos. Enfim, são várias as possibilidades.

Estou convencido de que ponto fundamental deste debate deve seguir no sentido de compreender os aspectos técnicos da IA associado aos princípios éticos do jornalismo e seu caráter de interesse público, que incluem a honestidade para com os consumidores de produtos jornalísticos. Nesse sentido, é preciso superar o dualismo entre humanos e máquinas e começar a pensar sobre as aplicações e implicações desta associação, reconhecendo o papel do trabalho humano, crítico, criativo, sensível às condições sociais e aos mais variados contextos.

A superação destas limitações pode não apenas apontar a superação da crise de legitimidade do jornalismo aberta com a difusão da internet, mas colocar o jornalismo de fato no século XXI, associando precisão, volume e rapidez, aspectos que caminham de braços dados com a sustentação financeira e relevância social dos veículos.

*Guilherme Carvalho é pós-doutor em Jornalismo e coordenador do curso de Bacharelado em Jornalismo do Cento Universitário Internacional Uninter.

Fonte: Página 1 Comunicação

A idade mídia

Repercutindo as ideias de Walter Longo

por Josué Brazil

Hoje volto a escrever sobre um conteúdo que tive a oportunidade de absorver em uma das palestras do Fest’up Tendências 2019 que ocorreu no último sábado, dia 28/09. Desta vez quero escrever um pouco sobre o que ouvi do genial Walter Longo, o palestrante que fechou – de forma brilhante – o evento.

O título da palestra de Longo foi “O fim da idade média e o início da idade mídia”. Também é título de seu novo livro lançado – ou a ser lançado – agora em outubro.

Walter começou explicando que tudo até agora era – e ainda em grande parte é – avaliado, medido, pela média. Quase não há individualização. A média dos gostos, a média das preferências etc.

E completa: marketing e propaganda agiam assim!

Com o advento e rápida disseminação do Big Data, da Inteligência Artificial (IA) e do Analytics está acontecendo uma mudança significativa. Cada um de nós passou a ser uma mídia. Cada empresa ou instituição passou a ser uma mídia. Até mesmo máquinas passaram a ser mídia. Isso muda tudo!

Os consumidores atuais, segundo Walter Longo, passaram a ser “mimados” pela internet. Querem tudo a seu tempo, do seu modo, onde estiverem e com facilidade e rapidez. Sem dúvida, um consumidor muito mais exigente e complicado. Com ampla capacidade de escolha e muito poder!

Foto: Divulgação

Em função disso, Walter afirma que a publicidade, a comunicação, deve ser:

  • individualizada no target;
  • sutil na forma;
  • didática;
  • verdadeira;
  • relevante no propósito.

Deve ser assim para atender a demanda de um consumo cada vez mais individualizado, com forte customização de produtos e até mesmo de serviços. Estamos num momento de vida sincronizada, onde vão valer aspectos essenciais como simplicidade, flexibilidade e individualidade.

Já estou louco de vontade de ler o livro!

Os desafios no marketing digital para este ano

O que esperar do marketing digital em 2019?

por Alessander Firmino *

Estamos no início de mais um ano e é hora de entender as oportunidades de marketing digital e o sucesso geral do comércio em 2019. Muitas mudanças dramáticas ocorreram no mercado de dados em todo o mundo ao longo de 2018, mas devemos celebrá-las, porque elas fomentaram a inovação que tornou a indústria mais forte do que nunca.

Foto: Pixabay

Novas oportunidades tecnológicas incríveis estão agora ao nosso alcance. Os avanços no último ano são notáveis e as ferramentas digitais para o sucesso – que esperamos há muito tempo – estão aqui para serem utilizadas. Se você está pronto para usá-las, o potencial de lucro é enorme.

Vejamos então as sete áreas principais de mudança e desafio para o comércio e o marketing digital em 2019:

1.Regulamento Geral de Proteção de Dados

Em 2018, a União Européia (UE) anunciou um conjunto abrangente de mudanças em suas leis para determinar como os dados dos consumidores são processados, armazenados e protegidos. As novas regulamentações de longo alcance repercutiram pelo mundo. No Brasil, também foi sancionada uma nova legislação que define como os dados dos cidadãos podem ser coletados e tratados, prevendo punições para transgressões. Todas essas mudanças devem afetar mais fortemente como as ações de marketing digital são concebidas em 2019 a nível global.

2.Gigantes da tecnologia

Casos de violação de dados têm tomado conta dos noticiários e as revelações não são boas. Soubemos de acusações recentes contra gigantes da tecnologia, incluindo o Facebook, o Google e a Amazon. Os índices de aprovação e a credibilidade destas empresas foram prejudicados. Elas têm agora um foco intenso no que diz respeito aos abusos acerca da privacidade do consumidor, potencial evasão fiscal e pegadas corporativas. Olhando para o futuro, as mudanças que devem ocorrer a partir de 2019, vão permitir que os líderes do setor explorem e implementem maneiras diferentes de controlar os dados de usuários compartilhados com anunciantes, garantindo que eles ofereçam ofertas confiáveis no mundo todo.

3.Maior investimento nos anúncios em vídeo

A demanda do consumidor por vídeo tornou-se quase insaciável e, como resultado, os Private Marketplaces (PMPs) devem observar grandes ganhos com publicidade em vídeo este ano. Os anunciantes estão ansiosos para fornecer anúncios premium no formato em sites de alta qualidade, com ênfase em publicidade dentro dos aplicativos. A popularidade do vídeo cresceu rapidamente e se fortaleceu: o gasto com publicidade digital em dispositivos móveis aumentou 17% no segundo trimestre de 2017 e surpreendentes 46% no segundo trimestre de 2018. Os gastos não param com os dispositivos móveis. A TV conectada e over-the-top TV (entrega de conteúdo de filmes e TV via internet, sem exigir que os usuários assinem um serviço tradicional a cabo ou satélite) têm agora uma demanda crescente. Todos os sinais apontam para um crescimento constante de gastos com anúncios em vídeo em 2019.

4.Dados omnichannel

Os varejistas e as marcas estão fazendo parcerias para manter seus relacionamentos lucrativos com os consumidores. Isso significa que, quando as gigantes da tecnologia protegem notoriamente os dados do consumidor que desejam compartilhar com as marcas, os parceiros de varejo são muito mais promissores. Na verdade, eles agora estão lucrando com a propriedade do relacionamento com o cliente, compartilhando dados de ponto de venda (PDV) e inventário em tempo real com as marcas. Isso fornece acesso oportuno a informações que podem ser incrivelmente valiosas ao planejar promoções e eficiências operacionais. O resultado é positivo para marcas, varejistas e consumidores, que obtêm os melhores produtos e os melhores preços.

5.Inteligência Artificial dominando o marketing digital

A Inteligência Artificial e o Machine Learning estão proporcionando aos profissionais de marketing a capacidade de entregar mensagens relevantes e personalizadas diretamente aos consumidores. A IA fornece uma visão poderosa do comportamento do cliente, resultando em uma segmentação por público e planejamento de campanhas altamente precisos. Como resultado, o gasto com mídia pode ser otimizado. Somente aqueles com recursos avançados de publicidade computacional serão bem-sucedidos, por isso é hora de garantir que seus próprios esforços de IA sejam tão poderosos e benéficos quanto possível.

6.Gerenciamento de anúncios dentro das empresas

À medida que as marcas dedicam mais esforços à proteção e ao gerenciamento de dados do consumidor, muitas delas devem transferir a compra de mídia para dentro de casa. E à medida que mais operações baseadas em nuvem e soluções de Inteligência Artificial estiverem disponíveis, essa movimentação deve ficar mais gerenciável do que nunca. Embora existam muitos benefícios – como economia de tempo e custo, sem mencionar o controle e a proteção de dados preciosos do cliente – quando você pensa no tempo de retorno das agências, isso sem mencionar as cobranças às vezes chocantes, trabalhar com anúncios “em casa” pode ser um golpe para muitos.

7.Tecnologia visual e por voz

Você se lembra de quando a pesquisa de texto foi considerada uma tecnologia inovadora? Pois é! Atualmente, a pesquisa de dados foi superada pela pesquisa visual e por voz. De acordo com o Gartner, aqueles que redesenharem seus sites para dar suporte a buscas visuais e por voz e fornecerem experiências mais interativas e envolventes terão um aumento de até 30% nas receitas do comércio digital até 2021. Quando você é capaz de dar aos compradores a informação instantânea em micro momentos, o resultado é incrivelmente valioso para ambas as partes. Afinal, um consumidor envolvido é um consumidor lucrativo.

Com tudo isso, podemos afirmar que este ano, o sucesso do marketing digital será baseado na estratégia de dados para fortalecer suas parcerias com seus clientes. Ao fazer uma parceria com um provedor de dados que tem relações de trabalho com vários anunciantes e editores, você garante uma vitória em 2019!

*Diretor Geral da Criteo para o Brasil e América Latina

Fonte: Cíntia Yamashiro – FirstCom Comunicação