É preciso praticar a diversidade da porta para dentro

Por Rui Piranda*

Há alguns anos, se você me pedisse para fazer uma projeção das maiores campanhas publicitárias que estariam em circulação no século XXI, certamente, eu apostaria nas que destacam produtos extremamente inovadores, como veículos voando ou com autonomia para andar sozinhos. No entanto, a inovação tem dividido a atenção com outro tema que há muito tempo já deveria estar inserido em nossas vidas: a diversidade. Você vai dizer que a comunicação reflete o comportamento da sociedade. Então, seja você um acelerador dessa mudança.

Felizmente, tenho visto o esforço genuíno de muitas marcas para praticar a inclusão da porta para dentro. Sei de empresas e empresários que investem fortemente na inclusão de forma anônima, por acreditar que se trata de um dever e não ferramenta de promoção. Todos são sinais claros de evolução, mas ainda há espaço para melhorarmos mais.

Tenho pensado muito nesse tema. Até mesmo porque ele permeia muitas reuniões de briefing das quais participo. E queria aproveitar esse espaço para convidar você a refletir alguns pontos que tenho observado:

Quem pratica e divulga acaba incentivando!

Respeito quem promove, financia ou incentiva a inclusão de maneira anônima. Mas a empresa que divulga as boas ações que pratica, de certa forma, inspira os funcionários, os consumidores e a sociedade a perceber o assunto como relevante e, quem sabe, se engajar no tema. Digo isso como cidadão e não como um profissional da área de comunicação.

Valorizar a diversidade é um caminho para a inovação!

Ter diversidade dentro da empresa é uma oportunidade singular de ter uma visão ampla do mundo, das necessidades das pessoas e de soluções para diversos problemas e desafios. É um caminho tanto para ser mais assertivo com o público-alvo quanto para conquistar novos clientes. No final do dia, isso tudo tende a se reverter em melhor performance da equipe e do negócio diante da concorrência e, consequentemente, resulta em mais lucratividade – que, apesar de não ser o foco principal da ação, é algo importante.

Isolada, a estética da inclusão é uma ilusão!

Para propagar uma crença ou um princípio para o público externo, é muito importante que o discurso seja praticado da porta para dentro. É mais genuíno direcionar o discurso para comunidades diversas quando você tem representantes desse grupo no seu time interno. E não para por aí. Se, por exemplo, você deseja promover a inclusão de um cadeirante no seu grupo, é importante que ele consiga transitar por todos os espaços da sua empresa e não apenas por áreas específicas adaptadas para ele. Reconheço que a estética externa já é um primeiro passo para iniciar a discussão da diversidade na companhia. Mas, passada essa primeira fase, é muito importante acelerar o passo para que o discurso vire prática no dia a dia da organização, algo que, no longo prazo, contribui, inclusive, para a atração e retenção de talentos.

O checklist da inclusão está com os dias contados!

É comum a construção de campanhas com base em fotos extraídas de banco de imagens. Felizmente, hoje, nesses arquivos já não é difícil encontrar retratos que traduzem a diversidade em diferentes situações cotidianas. A composição das imagens, porém, precisam ser feitas com bom senso. Do contrário, corre-se o risco de passar a impressão de que havia a necessidade de gabaritar um checklist. Ideal mesmo, é poder entrar em uma organização fotografando ou filmando a diversidade enquanto ela acontece, em tempo real.

Os estereótipos podem minar uma ação!

Um risco de não ter diversidade dentro da companhia e cair na armadilha de criar produtos, serviços, discursos ou campanhas com base em estereótipos. Então, no lugar de abrir o canal de comunicação com um grupo, sem querer, você acaba por ofender essas pessoas.

O ideal é ter representatividade para construir a base conceitual do que deseja comunicar. Na sequência, contar com a diversidade para criar ou co-criar e dar forma a tudo isso é fundamental. Assim, teremos algo verdadeiro: diversidade genuína somada aos valores e ao tom de voz da marca. Para dar os primeiros passos seguros e pertinentes, há boas empresas de consultoria para o assunto.

Este é um tema urgente e precisa de discussões produtivas e – principalmente – de ações genuinamente interessadas na igualdade. Lembre-se: a diversidade inclui você.

*Rui Piranda é sócio-diretor da agência ForAll

Programas de aceleração e incubação de startups apostam em iniciativas voltadas para a diversidade e inclusão

5/11/2020 –

Inclusão é um passo além da diversidade. É o que dizem os especialistas. O tema está sendo explorado com muita dedicação por diferentes iniciativas e cresce até mesmo no ecossistema de startups.

Mudanças culturais numa sociedade costumam ser precedidas por movimentos de luta, emancipação ou como expressão de coragem daquelas pessoas que não se conformam com o status quo. E aos movimentos da sociedade se seguem os movimentos das empresas. Com cada vez maior frequência, tem sido observadas ações afirmativas de empresas, promovendo processos de seleção orientados para captar profissionais de determinados grupos minorizados. Este passo é sem dúvida importante para que as organizações consigam ter uma distribuição de profissionais mais equilibrada, no ponto de vista demográfico, em seu quadro funcional, o que demonstra uma preocupação com a representatividade, na busca de se ter uma população que seja uma espécie de espelho do que é a composição demográfica de nossa sociedade.

Comprovadamente, por meio de diversos estudos de consultorias renomadas mundo a fora, como a Mckinsey , a Boston Consulting Group, dentre outras , uma equipe plural, composta de membros de diversas origens, cores de pele, religiões, gêneros, gerações e graus de deficiência, tende a ampliar a profundidade das análises, a enriquecer as soluções, e a proporcionar melhores resultados para as organizações.

Mas, para que isto seja possível, é igualmente necessário dar-se outro passo, tão ou mais relevante quanto o primeiro: dar espaço e voz ativa a cada um dos novos participantes do grupo organizacional, como apontou Sofia Esteves numa matéria publicada em 28/09/20 na revista Exame publicou mostrando o valor da Inclusão para as organizações – “Entenda a diferença entre diversidade e inclusão nas empresas”.

Com este cenário ambíguo, onde é sabido que o melhor resultado vem de um time plural mas ainda não se sabe como dar voz aos diferentes participantes de um grupo, é natural que empresas consolidadas, consultorias que trabalham cultura e comportamento e startups que geram inovação para todo este ecossistema queiram unir forças para trabalhar o tema.

A dificuldade de avançar neste sentido reside no fato de que todas as pessoas possuem vieses inconscientes, que obstruem involuntariamente um olhar isento sobre as outras. Para que estes vieses sejam quebrados, é preciso estar alerta, perceber que eles estão presentes em todos nós, e atuar proativamente para que eles sejam freados no dia a dia de uma organização, criando-se pouco a pouco, uma cultura inclusiva. Neste sentido, faz-se necessário um exercício do convívio, uma dinâmica de interação contínua, para que a percepção distorcida do outro seja desfeita, fazendo emergir todas as suas dimensões e seu potencial.

Esta preocupação não é nova e as estudiosas do tema Lee Gardenswartz e Anita Rowe, em 2003, trouxeram para discussão em seu livro Diverse Teams at Work: Capitalising on the power of diversity, formas de agir e processos que ajudariam nesta jornada para potencializar os times diversos dentro de organizações.

Uma nova solução digital desponta nesta direção, com o intuito de trabalhar estes vieses de maneira inteligente. O iPlurAll é um produto desenvolvido pela consultoria FourAll que se preocupou em atender esta necessidade cada vez mais presente no mercado corporativo.

– Em nossas pesquisas percebemos que uma dor latente é a garantia de que todas as pessoas dentro de uma equipe possam expressar-se e serem realmente ouvidas, sem bloqueios, comenta Leonardo Carvalho, sócio fundador da FourAll. Ele lembra ainda do potencial desta solução, que pelo grau de inovação nela contida, vem sendo desenvolvida com o apoio de duas aceleradoras de renome do Rio (Startup RIO e Pólen), que se dispuseram a apostar no iPlurAll.

Desenvolvido de acordo com esta perspectiva, o iPlurAll é uma aplicação tipo “game” de troca de conhecimentos e experiências realizada a partir de um processo de micromentoria mútua. O mais interessante é que o objetivo é aumentar o engajamento e a colaboração entre todos, impactando a criatividade, inovação, a produtividade das pessoas de uma organização, entre redes de organizações, ou em comunidades específicas. O match entre usuários é feito de forma automática usando como métrica o grau de diversidades ou pluralidade, baseado no chamado “Índice de Pluralidade”, igualmente desenvolvido pela FourAll, que leva em consideração 6 critérios: geração, gênero, background, raça/ cor da pele, deficiência e religião. A solução foi concebida com a premissa de que qualquer pessoa pode ser mentora e mentorada, considerando que todas têm algo a compartilhar e algo a aprender. Para inibir o aparecimento dos vieses inconscientes, as pessoas navegam de forma anônima e as micromentorias se realizam sem que as pessoas sejam identificadas, evitando que a união entre mentor(a) e mentorado(a) seja premeditada entre usuários, por afinidade, por exemplo. Ao término da micromentoria, usuários podem escolher se revelarem entre si, potencializando a oportunidade de conhecerem perspectivas diferentes e mesmo se surpreenderem com pessoas de seu próprio grupo.

A mudança em qualquer organização se inicia por uma transformação dos mindsets. Estar aberto ao novo, ao outro e às suas perspectivas, que involuntariamente ofuscamos, pode trazer maiores e melhores possibilidades para todos. Esse é o caminho da transformação!

Website: https://fourall.com.br/

Natal de inclusão e diversidade

Papai Noel que se comunica por Libras e assistente de Noel com síndrome de Down levam inclusão e representatividade ao Colinas Shopping

José Mario Graciano e Isis Pontes têm emocionado e inspirado público que passa pelo centro de compras, em São José dos Campos (SP)

Isis Pontes e José Mário Graciano

Na fila para conhecer a Mamãe Noel e o Papai Noel, crianças observam a movimentação próxima ao trono quando uma delas aponta uma das assistentes da família Noel: “Olha, uma princesa!”. Momentos assim têm feito os dias de trabalho de Isis Pontes, assistente com síndrome de Down, ainda mais felizes.

“É uma experiência maravilhosa. Quando fiquei sabendo que eu ia ser noelete, fiquei super contente. Estou gostando muito de fazer um bom trabalho com as crianças. A parte que eu mais gosto é tirar fotos. Elas pedem muito para tirar fotos comigo”, conta Isis.

A jovem de 19 anos, que atende no Colinas Shopping, em São José dos Campos (a 90 quilômetros de São Paulo), chegou ao trabalho por meio de uma oficina de empregabilidade da Asin (Associação Síndrome de Down) – instituição que atualmente atende cerca de 120 pessoas, de 5 a 56 anos, na mesma cidade.

“O objetivo é fortalecer a autonomia de jovens e adultos com síndrome de Down e promover a inclusão deles no mercado de trabalho. Temos diversas oficinas, entre elas a de trabalho, na qual os jovens têm aulas de boas práticas, que vão de comportamento e postura no trabalho a possíveis situações e suas soluções. É um exercício semanal. Quando entram no mercado de trabalho, continuamos acompanhando”, explica Tiago Araujo, coordenador do projeto de empregabilidade da Asin, que existe há 10 anos e já inseriu diversos jovens no mercado.

Segundo Araujo, o nome de Isis foi escolhido pela boa verbalização e comunicação com o público, e sua atuação já tem inspirado outros jovens da Asin. “Ao ver o trabalho da Isis, um dos atendidos pela Asin decidiu que quer trabalhar no shopping. Isso é importante, porque eles enxergam que também são capazes”, conclui.

Isis também compartilha a mesma opinião. “Meus amigos da Asin também vieram me ver. Falam: ‘Como ela está linda, estou amando ver ela trabalhando’. Quando eles me falam sobre trabalhar, eu converso e apoio.”

Libras

Ao lado de Isis, estreante como noelete, está o experiente Papai Noel José Mario Graciano, 70, que já contabiliza 14 anos de carreira natalina. Entretanto, foi há quatro anos que o Natal ganhou um significado ainda mais profundo para ele, quando decidiu aprender Libras – a linguagem brasileira de sinais – após um encontro marcante.

“Duas irmãs gêmeas se aproximaram, mas estavam muito tímidas. O pai delas fez um sinal, mostrando que elas eram surdas, e aquilo me comoveu. Por instinto, tentei fazer gestos de um abraço e elas retribuíram. Foi muito especial e pensei que poderia fazer algo para receber melhor esse público”, disse.

Logo em seguida, ele fez um curso básico de Libras na AADA (Associação de Apoio ao Deficiente Auditivo), em São José dos Campos, passou a manter contato com grupos de jovens da Pastoral do Surdo, inscreveu-se no curso de nível intermediário e pesquisa constantemente sobre o tema na internet.

No Colinas Shopping, ele já é figura conhecida e diariamente atende ao público de surdos e mudos da cidade.

Para quem quiser visitar Isis, ela está no Colinas Shopping às quartas e quintas, das 10h às 16h, e aos sábados, das 14h às 20h. Já o Papai Noel que se comunica em Libras atende todos os dias: de segunda a sábado, das 10h às 14h; domingos e feriados, no período vespertino e noturno.

Fonte: CABANA – Suzane Rodrigues Ferreira

As cidades inteligentes

Smart Cities: cidades cada vez mais inteligentes

por Carlos Rodolfo Sandrini

Nas cidades inteligentes, o cidadão e os serviços essenciais estão conectados, utilizam energia limpa, reaproveitam a água, tratam o lixo, compartilham produtos, serviços e espaços, se deslocam com facilidade e usufruem de serviços públicos de qualidade. Além disso, a cidade inteligente cria laços culturais que une seus habitantes, propicia desenvolvimento econômico e melhoria da qualidade de vida.

Barcelona

Em busca do status de Smart City, cidades de todas as regiões do planeta irão investir entre US$ 930 bilhões e US$ 1,7 trilhões ao ano até 2025. Porém, mais do que investimentos, a cidade para ser inteligente, necessita de iniciativas inteligentes do poder executivo e legislativo.

A iniciativa privada tem se reunido em fóruns mundiais, como o SmartCity Business America, para apontar soluções e oportunidades de negócios no mercado das Smart Cities. Entre as adaptações, que seguem o desejo da população, estão a adoção de conceitos e tecnologias sustentáveis; inclusão urbana, ao contrário do isolamento das periferias; educação agregadora para evitar a radicalização; foco total na educação presencial e inclusiva até os 18 anos; e planejamento urbano que contemple os espaços para ensino e educação, que hoje não é apenas uma questão acadêmica.

Com essas novas características, as cidades inteligentes terão um aumento da oferta de emprego nos setores públicos, de hospitalidade e, principalmente, da economia criativa, área que tem crescido exponencialmente, tendo como processo principal o ato criativo e resultando, entre outros, na transformação da cultura local em riqueza econômica.

Seul

Essa evolução social e cultural promete gerar novo desejos, fazendo com que a cidade seja utilizada cada vez mais por prazer e promovendo ideais como inclusão, aproximação, conectividade, relacionamento e compartilhamento. O conceito aborda, também, a verticalização das cidades, com práticas sustentáveis e encurtando distâncias com soluções inteligentes de transporte, com o carro deixando de ser sonho de consumo; e uma transformação legislativa, que deverá possibilitar e encurtar caminhos para o desejo da maioria.

As novas tecnologias vão permitir, ainda, que as pessoas possam trabalhar em casa, além de não precisarem se deslocar para adquirir o básico ou resolverem problemas burocráticos. Não tem mais lógica as pessoas se dividirem diariamente entre dois ambientes (residencial e comercial). Assim como não existe lógica no horário comercial padrão. Por qual motivo a maioria das pessoas é obrigada a se deslocar nos mesmos horários? Veremos, em breve, o fim dos prédios comerciais como conhecemos. Já os prédios residenciais ganharão novos conceitos e funcionalidades.

Fica claro que os próximos anos serão de transformações intensas nos grandes centros urbanos. O conceito das Smart Cities tem ganhado força em todos os continentes e, em breve, seus benefícios estarão presentes em nossas vidas. Em um ambiente cada vez mais degradado e com dicotomias religiosas e políticas, as cidades inteligentes, apostando na inclusão, em soluções compartilhadas e em serviços públicos eficazes, podem representar a oportunidade de viver numa sociedade ideal.

Carlos Rodolfo Sandrini é arquiteto, urbanista e presidente do Centro Europeu (www.centroeuropeu.com.br).