Coluna “Discutindo a relação…”

O novo zapping da atenção

Por Josué Brazil (com um empurrãozinho amigo da IA)

Imagem gerada pela IA do Canva

Ligar a TV, abrir o celular, rolar o feed, pular um anúncio, clicar no carrinho. Tudo isso pode acontecer em menos de um minuto — e, para o consumidor, é absolutamente natural. O que antes era uma jornada linear entre ver, gostar e comprar virou uma sequência de micro-momentos: pequenas oportunidades de conexão que exigem rapidez, empatia e relevância das marcas. A publicidade brasileira está aprendendo a se equilibrar nesse novo ritmo — um zapping digital em que a atenção é o bem mais disputado.

Segundo o Think with Google Brasil (2024), 68% dos consumidores afirmam que suas decisões de compra são influenciadas por conteúdos que consomem “no meio de outras atividades”, especialmente em redes sociais. São fragmentos de segundos: um vídeo que inspira, um link que convence, um clique que finaliza. O chamado social commerce — a compra dentro das próprias plataformas — cresceu 35% no Brasil em 2024, de acordo com levantamento da Ebit|Nielsen, mostrando que o consumidor está cada vez mais confortável em transformar o entretenimento em transação.

Connected TV (CTV) e os streamings

Enquanto isso, a Connected TV (CTV) e os streamings com anúncios começam a mudar o cenário da mídia tradicional. Um estudo da Kantar IBOPE Media (2024) aponta que 61% dos lares brasileiros com acesso à internet já consomem conteúdo por meio de TVs conectadas. E, mais importante: 54% dos usuários afirmam que prestam mais atenção aos anúncios nesses ambientes do que em outras telas. É o velho hábito de ver TV, agora com novas métricas, novos formatos e — claro — novas expectativas.

Essa fragmentação desafia marcas e agências a repensarem o que é uma boa história. Não basta mais “aparecer” em todos os lugares; é preciso aparecer bem, de forma coerente, respeitando o contexto de cada plataforma. Um conteúdo que encanta no TikTok pode soar deslocado no YouTube, e um vídeo pensado para o streaming pode perder força se não for adaptado ao mobile. O desafio, portanto, não é apenas tecnológico — é narrativo. Como contar uma história consistente em um mundo de atenção intermitente?

A resposta talvez esteja menos na obsessão por formatos e mais no entendimento das pessoas. A publicidade que funciona hoje é a que entende o ritmo da vida real — feita de interrupções, de descobertas casuais, de momentos curtos mas significativos. O grande segredo dos novos formatos está justamente nisso: em transformar segundos em experiências memoráveis.

Um verdadeiro convite à conversa

No fim, “discutir a relação” entre marcas e consumidores nunca foi tão literal. Cada toque na tela é um convite à conversa. E, como em qualquer relação, o que faz diferença não é falar o tempo todo — é saber o que dizer, quando e como dizer.

Coluna Propaganda&Arte

Conteúdo raso ou profundo? O desafio de ser autoridade na “Era do clique”

Por R. Guerra Cruz

Vivemos em um tempo onde o consumo de informação se tornou massivo, veloz e, muitas vezes, superficial.

No marketing, na publicidade, no ensino e na produção de conteúdo para autorreconhecimento profissional, surge uma questão essencial: devemos privilegiar a simplicidade para garantir alcance e engajamento ou aprofundar a complexidade para elevar o repertório e estimular a cognição?

O equilíbrio entre a facilidade e a complexidade

No universo da propaganda, há uma tendência a optar pelo caminho do clichê e da simplicidade.

Isso porque o tempo de atenção é curto e o público busca algo intuitivo, que não exija grande esforço para ser compreendido. Mas, ao nos rendermos apenas ao básico, corremos o risco de produzir uma audiência passiva, que consome sem se aprofundar, sem construir repertório ou senso crítico.

Por outro lado, conteúdos mais ricos e provocativos podem demandar maior tempo de digestão e gerar uma segmentação natural do público.

No entanto, são esses conteúdos que impulsionam a evolução intelectual, estimulam reflexão e consolidam a autoridade de quem os produz.

Comunicação cotidiana: simplificar ou expandir?

No dia a dia, a comunicação é um jogo de ajustes. Se o objetivo é criar conexão imediata, é natural recorrer a abordagens mais acessíveis. Mas, se queremos evoluir a forma como as pessoas pensam e interagem com o mundo, devemos constantemente introduzir novas perspectivas e desafiar o conforto cognitivo.

O mesmo ocorre no consumo de entretenimento. Devemos nos limitar a livros e séries de fácil digestão, ou buscar conteúdos mais instigantes e complexos? O ideal é uma combinação: dosamos a leveza com o aprofundamento, equilibrando prazer e aprendizado.

Criar conteúdo para ser autoridade: qual estratégia adotar?

Nas redes sociais, onde a efemeridade impera, muitos optam por adaptar seu discurso ao que gera clique e engajamento. Mas essa abordagem, embora traga visibilidade, pode comprometer a construção de uma autoridade real.

Autoridade não se faz apenas com números, mas com conteúdo relevante, que desafia, educa e provoca reflexão.

Isso significa que, em vez de apenas cativar pelo fácil, devemos estimular o cognitivo e a formação de um público mais qualificado. Mesmo que isso signifique um alcance menor a princípio, o impacto e a relevância serão muito mais duradouros.

Em um mundo saturado de informação rasa, a verdadeira autoridade está na coragem de oferecer algo mais profundo, provocador e enriquecedor.

Se queremos evoluir como sociedade, não podemos nos limitar ao que é fácil e rápido.

A educação e a comunicação não devem apenas refletir a realidade, mas transformá-la.

Os 5 principais desafios das marcas na era da baixa atenção – e como a IA pode resolvê-los

Vidmob lista os principais obstáculos na criação, que vão desde divergência entre os times envolvidos até o tempo gasto para personalizar criativos para diversas plataformas

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Enquanto as equipes de marketing levam meses para desenvolver e lançar um anúncio, as pessoas podem perder o foco em segundos. Segundo uma pesquisa liderada pela psicóloga americana, Gloria Mark, professora da Universidade da Califórnia, em Irvine, o tempo que as pessoas permanecem em uma única tela antes de mudar para outra diminuiu de 2,5 minutos para 47 segundos nas últimas duas décadas.

A chamada síndrome do cérebro de pipoca, termo utilizado por psicólogos para descrever a tendência de saltar rapidamente de uma tela para outra – como grãos de milho estourando –, tornou-se ainda mais comum com a popularização das redes sociais. Em um cenário desafiador, é natural que as marcas se perguntem se realmente vale a pena investir tanto tempo na criação de campanhas, mas a Inteligência Artificial (IA) se torna uma forte aliada.

“É fundamental identificar os obstáculos e desenvolver estratégias que aprimorem a qualidade criativa e otimizem o tempo. Uma campanha bem-sucedida não precisa ser algo complicado”, diz Miguel Caeiro, Head Latam da Vidmob, plataforma global líder em desempenho criativo com base em IA. “A Inteligência Artificial é capaz de decifrar a criatividade e reconhecer os elementos que fazem um vídeo se destacar em uma rede social, mas não em outra.”

Para acelerar e aprimorar o trabalho criativo, a Vidmob, que usa análise de dados para impulsionar os resultados de marketing de grandes marcas, identificou os cinco principais gargalos enfrentados por profissionais da área. Confira:

1 – Dúvidas sobre qual tipo de anúncio engaja o consumidor
Novas plataformas surgem a todo momento e cada uma delas tem um perfil específico de conteúdo. Outro ponto é que existem diversos formatos de anúncios. Embora os “marqueteiros” saibam onde querem chegar, nem sempre sabem qual é o melhor caminho a percorrer. Afinal, é preciso pensar em quais tipos de anúncios alcança os seus objetivos e qual plataforma conversa melhor com o seu público.

2 – Divergências entre o time criativo e os profissionais de marketing
Estrategistas de marketing e criativos geralmente têm prioridades diferentes. Enquanto os estrategistas são movidos pelos resultados, os criativos se preocupam mais com a produção de ideias legais e menos sobre como podem, de fato, gerar lucro.

3 – Excesso de tempo gasto com a personalização de anúncios para cada plataforma
Cada rede social tem seus algoritmos e bases de usuários com preferências únicas, isso significa que os times criativos devem gastar mais tempo analisando as preferências e personalizando anúncios para cada uma plataforma. Muitas vezes, a equipe de criação só tem tempo para redimensionar os recursos, não para considerar cuidadosamente como um determinado anúncio deve ser ajustado para obter os melhores resultados.

4 – Tendência a refazer o projeto durante a revisão final
É normal que ao final do processo de criação o anúncio não atenda às expectativas dos estrategistas de marketing. O instinto de alguns profissionais é começar todo o projeto do zero, quando pequenos ajustes são suficientes para transformar completamente uma campanha.

5 – Revisões do cliente levam dias ou semanas
Um dos aspectos mais demorados para ter anúncios criativos aprovados e prontos para inclusão em campanhas é a revisão do cliente. Isso porque, muitas vezes, não consideram explicações e dados que comprovam a eficiência de cada elemento na peça e acreditam ser um capricho ou “achismo” do criativo.

A IA permite desconstruir uma peça criativa, como um vídeo, em um conjunto de dados sequenciais, gerenciáveis e capazes de interpretação. Como a existência ou não de pessoas, a posição delas, se estão ao ar livre ou em um ambiente fechado, se estão sorrindo, chorando, se há plantas, animais, quais as cores utilizadas e todas as possíveis informações da imagem que, mais tarde, podem ser cruzada com dados sobre o comportamento da audiência enquanto assiste ao mesmo vídeo em diferentes redes sociais.

“Para resolver todos esses gargalos, temos que usar a força dos dados que a tecnologia consegue transformar em insights, que empoderam o criativo humano em suas decisões. O grande poder dos algoritmos de IA é a capacidade de, finalmente, abrir o que geralmente é chamado de caixa preta da criatividade”, diz Caeiro.

O valor da atenção na publicidade digital

Por Marcia Byrne*

Foi-se o tempo em que a criatividade determinava o destaque e o sucesso de uma campanha publicitária. Com o cenário digital mais expansivo do que nunca, capturar a atenção do consumidor se tornou um dos maiores desafios do marketing. Seja na palma da mão, nos smartphones e tablets, ou na open web, as marcas de todos os segmentos de mercado vivem uma disputa acirrada pela atenção do consumidor.

Segmentação e personalização de mídia, juntamente com métricas de desempenho como visibilidade, tempo de visualização e volume de impressões em um anúncio, permitiram um refinamento na forma como planejamos estratégias e gerenciamos campanhas em tempo real. Mas ainda há uma lacuna em determinar o paralelo entre a atenção de um espectador e o desempenho da campanha.

MEDINDO A ATENÇÃO

A prevalência de métricas de atenção nas estratégias de marketing –e nas discussões públicas no nosso segmento– explodiu no último ano. E por um bom motivo: as métricas de atenção fornecem insights práticos que os profissionais de marketing podem usar para preparar suas campanhas para o momento futuro. O problema é que o setor ainda está batalhando por uma base concreta de como definir e mensurar a atenção.

Para este fim, empresas como a IAS investiram em soluções de medição como o Quality Attention. O objetivo de produtos como esse é conectar os pontos entre a atenção do consumidor e o desempenho da campanha, de forma escalável.

Também precisamos reformular a nossa percepção sobre atenção do consumidor. Podemos entendê-la como uma série de sinais. Alguns modelos usam IA e machine learning para assimilar indicadores de qualidade –como visibilidade, tipo de mídia, tipo de tráfego e interações do usuário– e vincular esses sinais de atenção à propensão de eventos de sucesso. Esse processo oferece insights mais práticos do que as métricas tradicionais de proxy, como, por exemplo, o tempo de exibição.

Uma série de testes com Quality Attention detectou um aumento médio de 130% no desempenho geral de anúncios que tiveram pontuação alta de atenção. Essas mídias publicitárias mais atraentes registraram o dobro de impressões e uma redução de 51% no custo por conversão. Dois estudos de caso com clientes do setor varejista registraram um aumento de 26% no awareness da marca e uma alta de 69% na intenção de compra, além de elevação nos indicadores de vendas (40%), vendas incrementais (15%) e retorno sobre o investimento em publicidade (6%).

PARTINDO PARA A AÇÃO

Usando métricas de atenção, os anunciantes podem, por exemplo, comparar a pontuação média (de 0 a 100) de suas campanhas de marketing com os valores médios globais, permitindo-lhes detectar campanhas de baixo desempenho, bem como a necessidade de aprimoramentos para torná-las mais eficazes.

Com essas informações, os profissionais podem identificar suas melhores e piores mídias publicitárias para ajustar seus investimentos consequentemente. Também podem identificar páginas onde o desempenho está constantemente abaixo da meta e adicioná-las em listas de exclusão. Ainda, podem orientar mudanças criativas no conceito e na mensagem da peça, ou mesmo em tamanhos e formatos de mídia.

Hoje, a tecnologia já está disponível para analisar e rastrear a atenção das campanhas na open web, tanto em computadores quanto em dispositivos móveis. Não há um consenso total entre os profissionais do setor sobre como mensurar a atenção, mas defendo que as métricas orientadas por dados são a chave para estabelecer um referencial sobre como definir e medir a atenção. As métricas de atenção devem estar no primeiro plano da estratégia de qualquer profissional bem preparado. Aqueles que adotarem essas práticas poderão navegar melhor pelas complexidades do cenário digital e orientar resultados comerciais.

*Marcia Byrne é Managing Director para a América Latina da Integral Ad Science (IAS)