Entre o clique e a conversão: o papel da IA na disputa por atenção durante a Black Friday

Por Camilla Veiga*

A temporada de Black Friday volta a pressionar o mercado publicitário com uma intensidade que desafia tanto a criatividade quanto a capacidade analítica das marcas. À medida que o investimento em mídia digital cresce, o ambiente competitivo se torna mais complexo, e os consumidores, mais seletivos. Em meio a esse cenário, a promessa da inteligência artificial (IA) como solução definitiva para os desafios de atenção e conversão aparece com força. Mas, por trás do entusiasmo, emerge uma questão estratégica: o sucesso vem da tecnologia ou da forma como ela é aplicada?

Segundo o Painel Cenp-Meios, do Fórum de Autorregulamentação do Mercado Publicitário (Cenp), no primeiro semestre de 2025 os investimentos totais em publicidade no Brasil cresceram 12,5% em relação ao ano anterior, sendo a internet o segundo meio de comunicação em participação de investimento, com 40,2% do total (R$ 4,8 bilhões). Embora os investimentos em publicidade digital estejam crescendo, esse movimento nem sempre se traduz em ganhos proporcionais de eficiência, evidenciando que o verdadeiro diferencial não está em adotar tecnologia, mas em integrá-la de forma estratégica.

Existe uma lacuna entre o discurso e a prática: o mercado evoluiu na adoção de ferramentas, mas ainda engatinha na integração entre dados, estratégia e execução. De acordo com o estudo global da Deloitte “State of Generative AI in the Enterprise”, apenas 28% das empresas afirmam usar IA de forma estruturada e alinhada a objetivos de negócio, enquanto a maioria ainda opera de forma experimental ou isolada.

Quando a interpretação falha, o resultado também falha, e isso se torna ainda mais evidente em períodos de alta competição, como a Black Friday, quando o tempo de atenção do consumidor é mínimo e o custo por clique dispara nos leilões de mídia paga. Nesse contexto, a IA se consolida como uma aliada de precisão, não como substituta das decisões humanas.

A tecnologia pode identificar pequenas variações de comportamento, prever quedas de desempenho e otimizar campanhas em tempo real. Mas, sem direcionamento humano, tende a apenas amplificar padrões existentes. Esse é o paradoxo da automação: quanto mais ela cresce, mais dependente se torna uma estratégia clara para gerar impacto real.

Em experimentos conduzidos pela MGID em setores como e-commerce, finanças e saúde, os resultados positivos observados foram impulsionados não apenas pelo uso estratégico da IA, mas também pela eficácia superior dos anúncios em vídeo em comparação aos criativos estáticos. Em testes A/B, vídeos gerados por IA apresentaram aumento de até 92% na taxa de cliques por visualização (vCTR), além de ganhos médios de 6 a 10% em visibilidade e até 5% em conversão. Os testes foram desenhados para explorar ao máximo o potencial da tecnologia, o que também contribuiu para os resultados alcançados.

Essa mesma lógica sustenta soluções de automação mais avançadas, como o CTR Guard, que usa machine learning e IA generativa para detectar a fadiga de criativos. Segundo levantamento da eMarketer, 41% dos profissionais de marketing apontam a fadiga de anúncios como uma grande preocupação, além disso o CTR tende a cair cerca de 15% já na primeira semana de campanha. A IA pode atuar antes desse ponto de inflexão, sinalizando quedas de engajamento e sugerindo variações criativas em tempo real. Testes recentes indicam que a ferramenta obteve mais de 90% de precisão preditiva e ganhos de cerca de 29% em vCTR.

Esses avanços refletem a evolução do uso da IA, que deixa de ser vista como mera ferramenta de automação e se consolida como um sistema de suporte à decisão. Com aplicação estruturada e intencional, a tecnologia permite que os times de marketing respondam na velocidade do consumidor e não apenas no ritmo das campanhas.

A mesma transformação se observa na etapa pós-clique. O CPA Tune, algoritmo proprietário da MGID que otimiza os lances automaticamente, tem demonstrado que a inteligência artificial pode atuar de forma decisiva na redução de custos e no aumento das taxas de conversão, não apenas na atração de atenção. Em diferentes verticais e regiões, a tecnologia tem registrado crescimento de até 300% na taxa de conversão (CVR) e média de 155% acima do desempenho padrão, além de CPAs mais baixos obtidos por meio de segmentação de audiência mais inteligente. Esses resultados mostram como a automação orientada por dados transforma o orçamento em um ativo mais eficiente, capaz de gerar conversões reais e sustentáveis.

Esses casos mostram que a eficiência em publicidade digital está migrando do volume de cliques para a qualidade da jornada. Isso exige um novo tipo de mentalidade de liderança, os executivos de marketing precisam olhar para a IA como parte de uma arquitetura de decisão, expandindo a capacidade de antecipar ações e ajustar a estratégia.

Assim, à medida que a tecnologia se consolida como infraestrutura transversal do marketing, o desafio das marcas passa a ser conectar dados, mídia e experiência de usuário. A Black Friday é um termômetro da maturidade do mercado, pois além de testar preços ou formatos, o volume de vendas desafia e revela a capacidade das marcas de transformar dados em decisões rápidas e relevantes.

A edição de 2025 deve consolidar um novo estágio da publicidade digital: um modelo híbrido em que a IA atua como motor analítico, enquanto o fator humano define a direção. A disputa por atenção seguirá intensa, mas a diferença entre o clique e a conversão estará, cada vez mais, nas mãos de quem souber combinar precisão algorítmica com sensibilidade de mercado

*Camilla Veiga é Head of Sales da MGID no Brasil.

Coluna “Discutindo a relação…”

Seja analítico e estratégico e dê um passo a frente no mercado

Por Josué Brazil

Em várias conversas com profissionais mais maduros de nosso mercado uma constatação tem ficado evidente: a falta de pensamento analítico e estratégico dos jovens que chegam para atuar em agências, empresas e veículos de comunicação.

Foto de RF._.studio

Parece faltar aquela capacidade de olhar para um cenário, um mercado de atuação, um produto/serviço e formular questões e problemas que auxiliem na condução de estratégias.

A comunicação, a propaganda e o marketing são campos em constante evolução, impulsionados por mudanças tecnológicas, sociais e culturais. Para conseguir sucesso nesses segmentos, é essencial ampliar a capacidade analítica e estratégica. Vamos discutir a importância dessa expansão, com base nas ideias de dois autores de renome: Philip Kotler e Marshall McLuhan.

Philip Kotler, um dos principais nomes na área de marketing, enfatiza a necessidade de uma abordagem estratégica sólida em seu livro “Administração de Marketing”. Ele argumenta que o marketing vai muito além da simples venda de produtos ou serviços. É um processo complexo que envolve a compreensão profunda dos clientes, dos concorrentes e do ambiente de negócios. Kotler defende que os profissionais de marketing precisam ser analíticos para coletar e interpretar dados sobre o mercado e estratégias para criar planos práticos que atendam às necessidades dos clientes.

Marshall McLuhan, por outro lado, é conhecido por suas ideias revolucionárias sobre a mídia e a comunicação. Em sua obra “Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem”, ele argumenta que os meios de comunicação têm impacto profundo na sociedade e na cultura. McLuhan acreditava que entender como os meios de comunicação afetavam a percepção e o comportamento das pessoas era fundamental para qualquer pessoa envolvida na comunicação e na propaganda. Ele incentivou os profissionais e futuros profissionais a serem analíticos ao examinar o impacto dos meios de comunicação e estratégias ao usar esses insights para criar estratégias eficazes e mensagens úteis.

Ampliar a capacidade analítica e estratégica é crucial em um mundo onde a concorrência é terrível e as expectativas e necessidades dos consumidores estão em constante mudança. Os profissionais de comunicação, propaganda e marketing precisam ser capazes de analisar dados, identificar tendências, compreender o público-alvo e desenvolver estratégias que se adaptem às circunstâncias em evolução. Para além disso, devem estar cientes de como os meios de comunicação moldam a sociedade e serem estratégicos ao criar mensagens persuasivas que interajam com o público.

Os ensinamentos de Philip Kotler e Marshall McLuhan destacam a importância da capacidade analítica e estratégica para o sucesso em comunicação, propaganda e marketing. Essas habilidades são essenciais para navegar no ambiente dinâmico e cada vez mais exigente desses campos e para criar estratégias estratégicas que alcancem e envolvam o público-alvo.

É preciso que as faculdades e universidades promovam e despertem interesse pela capacidade analítica, trabalhando habilidades relacionadas a isso em diferentes disciplinas e atividades e usando novos recursos pedagógicos que possam extrapolar as aulas tradicionais.