Segundo o estudo global da Rakuten Advertising, 84% dos entrevistados afirmam que deixam de acompanhar um criador de conteúdo assim que percebem falta de originalidade
As redes sociais são parte essencial de estratégia de marca, alcançando diversos públicos. E por mais que os consumidores aprovem a influência desse meio, o levantamento global da Rakuten Advertising, rede líder de marketing de afiliados, revela que 84% dos entrevistados deixam de acompanhar um influenciador assim que percebem falta de criatividade. Ou seja, quando aquele conteúdo parece ser uma propaganda.
O dado reforça a importância da comunicação genuína, autenticidade e transparência, especialmente no cenário digital, em que a confiança é construída diariamente por meio da percepção do público. A pesquisa, realizada em seis países, mostra que esses três critérios são fundamentais para decidir quem seguir nas redes sociais e com quem engajar.
Entre os países analisados, o Brasil se destaca com 64% dos usuários de mídias sociais valorizando a originalidade dos criadores de conteúdo e 60% dando grande importância à sinceridade sobre as relações comerciais com marcas. Em outros mercados, como Alemanha e Reino Unido, esses índices também são elevados, chegando a 64% para autenticidade e até 61% para clareza.
“Os consumidores não querem apenas conteúdos bonitos ou campanhas elaboradas, eles querem se conectar com pessoas reais, que compartilham valores e experiências de forma honesta. Isso mostra uma mudança clara na forma como as marcas devem pensar suas estratégias de marketing de influência”, explica Salomão Araújo, VP Comercial da Rakuten Advertising.
A pesquisa ainda mostra que influenciadores que mantêm uma postura autêntica e deixam claro quando há parcerias comerciais tendem a gerar maior engajamento e lealdade de seus seguidores, tornando seus endossos mais eficazes e impactantes.
Crescimento da desconfiança reforça a importância da autenticidade, da transparência e da profissionalização dos creators
Uma pesquisa realizada pela Typeform revelou um dado preocupante: 71% dos consumidores já se arrependeram de uma compra feita com base na recomendação de um influenciador digital. O levantamento acende um alerta sobre a crescente desconfiança entre o público e os criadores, mesmo em um cenário onde o marketing de influência segue em expansão.
De acordo com o estudo, as maiores reclamações que, consequentemente, estão gerando esse arrependimento estão ligados à falta de autenticidade no engajamento (380 respostas) e a falta de transparência (294 respostas), seguidas pelo excesso de postagens patrocinadas (237 respostas) e pelo uso excessivo de conteúdo gerado por IA (215 respostas).
Outro dado que chama atenção no levantamento é que 56% dos influenciadores admitiram divulgar produtos que, na verdade, não gostam. Para Fabio Gonçalves, diretor de talentos internacionais da Viral Nation e especialista no mercado de marketing de influência há mais de dez anos, esses dados refletem uma transformação no comportamento dos consumidores e um alerta para o setor.
“O público amadureceu. As pessoas estão mais críticas, mais informadas e muito mais conscientes do seu poder de escolha. O problema é que ainda existem muitos influenciadores que não entenderam que audiência não é sinônimo de influência. Quando o criador faz publicidade sem critério, sem conexão real com a marca e sem pensar na dor ou na necessidade da audiência, o resultado é esse: frustração, quebra de confiança e arrependimento de compra”, explica.
Fabio também pontua que parte desse problema tem a ver com o despreparo de certas marcas e vem de uma prática excessiva de publis que não fazem sentido para o nicho do criador. “Existe uma visão equivocada, por parte de alguns influenciadores e até de algumas marcas, de que basta ter números altos para vender qualquer coisa. Só que o consumidor de hoje é muito mais exigente. Ele percebe quando é só uma publicidade vazia. E isso não só prejudica a conversão, como também desgasta a imagem do influenciador no longo prazo. É importante ressaltar que nem sempre o erro é do influenciador; em muitos casos, as marcas não estão atentas ao mercado e, dessa forma, erram na escolha dos creators que não fazem sentido para a campanha desejada”, destaca.
Segundo o especialista, o mercado vive um ponto de virada, em que não basta mais ter seguidores ou entregar alcance. Na opinião do profissional, o que vai sustentar o marketing de influência daqui pra frente são três pilares: relevância, credibilidade e coerência. Ele explica que o criador precisa entender profundamente o seu público, escolher com responsabilidade as marcas com as quais se associa e priorizar parcerias que façam sentido na vida dele e na dos seguidores.
Na visão de Gonçalves, esse cenário tem levado as agências e plataformas do setor a adotarem uma postura muito mais criteriosa na gestão de campanhas e na curadoria de talentos. “Aqui na Viral Nation, nosso trabalho é garantir que os criadores que representamos estejam preparados para esse novo cenário, onde construir comunidade, gerar valor e ser relevante vem antes de qualquer conversão. Trabalhamos para que cada campanha faça sentido na vida do creator e, principalmente, na jornada do consumidor. O mercado vai continuar crescendo, mas quem não entender que influência é sobre confiança, e não só sobre alcance, vai ficar para trás”.
METODOLOGIA
A pesquisa realizada pela Typeform, plataforma de criação de formulários e questionários online, obteve 1.300 respostas de influenciadores digitais, profissionais de marketing e consumidores. O estudo completo pode ser acessado aqui
Devido a evolução das redes sociais, criou-se um mercado que tem se mostrado bastante diversificado e lucrativo: o de influenciadores digitais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen, o número de brasileiros que trabalham na área, no Instagram, já passa de 500 mil. O dado coloca o país em primeiro lugar no ranking mundial, com influenciadores cobrindo praticamente todos os nichos e temáticas.
Neste cenário, ao desenvolver uma estratégia de influência para uma marca, Flávio Santos, CEO e co-fundador da MField, especializada em estratégias de ativação de influenciadores e conteúdos nas redes sociais, entende que, na hora de fechar uma parceria, é preciso encontrar aqueles que possuam os valores alinhados com a empresa. “Trabalhar com criação humanizada não é simples, especialmente quando o objetivo é influenciar a massa. Assim, colocar um produto ou serviço nas mãos de um criador de conteúdo precisa ser muito bem pensado. É necessário que a empresa converse com o público desse creator, pois qualquer erro pode desgastar a imagem de ambos”, pontua.
Pensando nisso, o executivo aponta seis dicas de como evitar crises na hora de escolher um influenciador para atrelar a uma marca, ou vice-versa:
1. Monitoramento contínuo
Acompanhar o conteúdo do criador e compreender a forma de interação e engajamento com seus seguidores é o ponto de partida, afinal, é preciso saber se as opiniões e o modo de se comunicar se encaixam com o que a marca espera. Assim, ferramentas de monitoramento de mídias ajudam a identificar tendências negativas ou comentários críticos.
2. Planejamento e comunicação
Antes de iniciar uma parceria, é preciso definir um planejamento interno, já prevendo possíveis crises. É crucial a criação de um canal de comunicação transparente com o público caso ocorra algum problema. Uma forma de se precaver é deixar mensagens e respostas dos mais diferentes cenários já preparadas.
3. Plano de Gestão de Crise
É essencial que seja elaborado um plano de gestão de crise bastante detalhado, incluindo etapas como a identificação do problema e avaliação do impacto; comunicação interna e externa; resposta rápida e transparente ao público; tomada de medidas corretivas e preventivas; monitoramento contínuo da situação; e avaliação dos resultados.
4. Escolha do influenciador
Para ter certeza de que o produto ou serviço estará em boas mãos, é preciso pesquisar a história do influenciador antes de fechar o contrato. Assim, verificar se o perfil está alinhado com os valores e com a identidade da marca é o determinante. Provavelmente, o criador de conteúdo fará o mesmo em relação a marca. Dessa forma, é garantido que o público poderá confiar tanto no creator, quanto na empresa.
5. Transparência e autenticidade
Ter uma boa comunicação é extremamente importante quando se lida com pessoas, especialmente em grande escala. Ser transparente com o que se espera da parceria e como a marca gostaria de ser apresentada ao público é crucial. Além disso, também é imprescindível que isso seja feito com os seguidores caso ocorra algum imprevisto. Assim, priorize a autenticidade nas campanhas, evitando a manipulação ou produção de um conteúdo enganoso.
6. Resiliência e aprendizado
Por fim, quando se trabalha com a mídia, é impossível ter o controle sobre comentários e a reação alheia. Sendo assim, crises são muito comuns. É importante aprender com elas, buscando entender as causas para que não ocorram novamente. Adaptar a estratégia de acordo com a resposta do público melhora a gestão de crise e protege a reputação da marca.
O modelo tradicional de vendas, estruturado em um funil linear que vai da conscientização à conversão, está sendo rapidamente substituído pelo Social Commerce. Redes sociais, influenciadores e conteúdo gerado pelo usuário (UGC) estão reduzindo etapas na jornada de compra e tornando a aquisição de produtos mais orgânica, imersiva e instantânea.
Com o crescimento acelerado do TikTok, Instagram, YouTube e outras plataformas, o Social Commerce já movimenta trilhões globalmente. No Brasil, segundo dados da eMarketer, o volume de compras via redes sociais cresce a taxas superiores a 30% ao ano. O que antes demandava uma sequência de etapas – pesquisa, consideração, comparação de preços, avaliação de reviews e decisão de compra –, agora pode acontecer instantaneamente em um vídeo de poucos segundos.
As redes sociais transformaram-se em verdadeiros marketplaces. É possível fazer compras diretas por meio de botões de ações, transmissões ao vivo e catálogos integrados. Na China, o live commerce já está amplamente consolidado, com milhões de consumidores participando de vendas ao vivo diariamente. No Brasil, as plataformas ainda não disponibilizaram o serviço de forma massiva, o que torna esse formato mais incipiente por aqui. Mesmo assim, a tendência aponta para um futuro próximo onde influenciadores apresentarão produtos e, com um clique, o consumidor concluirá a compra sem sequer sair do aplicativo. A jornada de compra não é mais sequencial, é um ecossistema dinâmico com inspiração, influência e conversão.
Se antes os consumidores confiavam em publicidade tradicional e avaliações escritas, hoje, a recomendação de influenciadores tem peso decisivo na tomada de decisão. O storytelling envolvente e a interação com seguidores criam um vínculo emocional que acelera a conversão e coloca em xeque os tradicionais funis. Mais do que gerar cliques, eles encurtam a jornada de compra ao eliminar barreiras como desconfiança, necessidade de pesquisa aprofundada e hesitação.
Empresas estão adotando cada vez mais novas estratégias para potencializar o Social Commerce. O Live Commerce, popularizado na China e que já movimenta bilhões no ocidente, permite que marcas e influenciadores realizem vendas ao vivo, respondendo perguntas e demonstrando produtos em tempo real. A influenciadora chinesa Viya, por exemplo, alcançou vendas impressionantes em uma única live. Durante uma sessão de 14 horas, como parte da pré-venda para o Singles’ Day em outubro de 2021, ela vendeu produtos no valor de 8,5 bilhões de yuans. Esse montante equivale a aproximadamente R$ 6,7 bilhões, considerando a taxa de câmbio da época. No ano passado, outra influencer chinesa, a Zheng Xiang Xiang, ganhou mais de US$ 14 milhões, o equivalente a mais de R$ 93 milhões, em apenas uma semana, ao fazer publicidade de produtos de luxo na velocidade impressionante de três segundos. Marcas menores também têm conquistado resultados expressivos, com transmissões de poucos minutos gerando milhares de pedidos.
Outro ponto fundamental e bem interessante é o papel da inteligência artificial na personalização das experiências de compra. Plataformas como TikTok e Instagram estão refinando seus algoritmos para oferecer conteúdo cada vez mais direcionado. O que isso significa? O Social Commerce não é somente impulsionado por influenciadores, mas também por recomendações ultra-personalizadas, feitas com base no comportamento do usuário.
Diante de tudo isso, o que as marcas precisam fazer? Repensar seu posicionamento e adotar uma abordagem mais envolvente e interativa. Em vez de simplesmente criar anúncios para capturar leads, elas devem se tornar criadoras de conteúdo e facilitadoras de experiências que realmente conectem com o público. Isso envolve investir em formatos nativos que engajem organicamente, como reviews autênticas, demonstrações ao vivo e colaborações estratégicas com influenciadores. Além disso, a experiência de compra deve ser cada vez mais fluida, permitindo checkouts diretos dentro das plataformas para minimizar abandonos de carrinho – ponto ainda em desenvolvimento no Brasil. A construção de comunidades e a promoção da interatividade entre consumidores também desempenham um papel fundamental, criando espaços onde as pessoas possam trocar opiniões e fortalecer a autenticidade da marca.
O Social Commerce é a próxima fase da evolução do varejo digital. A interseção entre redes sociais, influenciadores e compras imediatas está transformando o comportamento do consumidor. O futuro do e-commerce está na experiência integrada, na autenticidade das interações e na rapidez da conversão, o que permite com que as marcas construam conexões reais e duradouras com seu público.
*Felipe Attílio é Head de Comunicação & Marketing do E-Commerce Brasil