Criando uma marca com propósito: do insight à identidade

Por Carina Litholdo*

Construir uma marca do zero é muito mais do que definir uma paleta de cores ou desenhar um logotipo. É um exercício de tradução: transformar a essência de uma empresa em uma identidade que inspire, conecte e perdure.

Eu tive recentemente o privilégio de liderar essa jornada de branding – da estratégia ao posicionamento, da ideia à execução. Cada decisão foi guiada por um propósito claro: criar uma marca autêntica, coerente e preparada para o futuro.

Tudo começou com a escuta. Antes de falar sobre produtos, mergulhamos em propósito. Buscamos entender quem somos, o que defendemos e onde queremos chegar. A partir dessa imersão, cada insight se transformou em elemento tangível da identidade:

● Cores e paleta visual: escolhidas para refletir personalidade, propósito e posicionamento.

●Aplicações e consistência: de apresentações à presença digital, tudo planejado para garantir coerência e força de marca.

●Tom de voz e comunicação: pensado para gerar conexão genuína, transmitir confiança e traduzir a cultura que nos move.

Da essência à forma: o design resolve muito problema

A partir dessa imersão, cada insight se transformou em elemento tangível da identidade. E aqui entra o poder do design como ferramenta estratégica de solução de problemas.

Muitas vezes, o design é visto apenas como um exercício estético. Mas, na verdade, ele é uma linguagem que resolve desafios complexos de comunicação, percepção e experiência.

Um bom design traduz ideias em emoções, simplifica o que é confuso e torna o invisível compreensível. Ele organiza, direciona e potencializa — e foi exatamente isso que buscamos ao desenhar a marca.

O resultado é uma marca sólida, com identidade clara e emocionalmente inteligente. Uma marca pronta para evoluir, crescer e se conectar com seu público de forma autêntica e memorável.

Porque, no fim, marca é sobre experiência – e a nossa missão é construir experiências que inspirem, transformem e deixem legado.

*Carina Litholdo é co-founder e CMO da We Are Group, responsável por orquestrar growth, dados, branding e gestão. Executiva de marketing e inovação com ampla experiência em construção de marcas, estratégias digitais e posicionamento de empresas.

A pressa em gerar resultados está matando a construção de marca no marketing B2B

Por Mário Soma*

Todo mundo quer vender. Poucos querem construir algo que dure.

Esse é o retrato do marketing B2B atual: um ecossistema viciado em métricas de curtíssimo prazo. O imediatismo se tornou o motor de um modelo que privilegia números fáceis em detrimento de resultados sustentáveis.

KPIs de cliques, MQLs inflados e dashboards que brilham em relatórios semanais mascaram uma verdade incômoda: as marcas estão desaparecendo.

De acordo com o estudo State of B2B Marketing 2025, da Marketing Week, 58% das empresas B2B acreditam que marca não gera ROI. Mais da metade (50,7%) afirma que branding não é prioridade. E entre CMOs, esse número sobe para 61,2%. Nas grandes companhias, o dado é ainda mais alarmante: 41,7% dos diretores de marketing admitem não entender o valor da marca.

O resultado é previsível. Um mercado que persegue o clique e ignora o legado. Investimentos pulverizados em ações táticas, enquanto a diferenciação e o posicionamento se diluem. Marcas desaparecem da memória do comprador assim que a verba é cortada.

Os números mostram a mesma tendência. 32% das empresas concentram esforços em campanhas com retorno de até seis meses, enquanto apenas 7,4% planejam estratégias com impacto além de um ano. O orçamento, quase sempre, vai para o que entrega resultado imediato: redes sociais (56%), busca paga (53%) e e-mail marketing (46%).

Mas o que realmente constrói valor, como Relações Públicas, eventos, conteúdo de autoridade e experiências de marca, fica para depois.

A raiz do problema está na falta de visão de longo prazo: 37% das empresas reconhecem essa limitação e 25,9% classificam o branding como “caro demais”. O que muitas ignoram é que o custo real não está em investir na marca, mas em perdê-la.

Quando a marca some, o preço se torna o único diferencial. E marca não é custo. É capital de confiança.

O futuro não pertence a quem tem pressa. Pertence a quem entende que, no B2B, a compra não é impulso e sim consequência. Reputação, preferência e confiança são construídas com consistência, e não com pressa.

O estudo da Marketing Week é claro: a obsessão por ROI imediato está destruindo o pipeline futuro.

No fim, a pergunta é simples: se a marca é o ativo que sustenta todo o negócio, como crescer sem acreditar nela?

Se você quer vender amanhã, comece a construir sua marca hoje. Porque o legado não se constrói com pressa.

*Mário Soma é CEO e Head B2B da Pólvora Comunicação

Em 2026: regeneração, cocriação e pertencimento

Especialista em branding Caroline Jurdi aponta que o próximo ano será marcado por regeneração, cocriação e pertencimento — com a Geração Z liderando uma nova era de autenticidade e propósito.

As marcas estão prestes a entrar em um novo capítulo. Depois de uma década dominada pela aceleração digital e pelo consumo em massa, 2026 chega com uma promessa clara: reorientar o marketing.

Imagem gerada pela IA do Canva

De acordo com relatórios recentes da WGSN, Harvard Business Review e Bloomberg, o comportamento da Geração Z está reformulando os fundamentos da comunicação e do consumo. E as empresas que entenderem esse movimento sairão na frente.

“A Geração Z não quer apenas consumir. Ela quer participar, cocriar e transformar. As marcas que prosperarem serão as que unirem propósito, fluidez e humanidade”, afirma Caroline Jurdi, fundadora da CJ Hub e especialista em comportamento e branding.”

O marketing da regeneração e do pertencimento

Para Caroline, o próximo ano será marcado pela transição da sustentabilidade para a regeneração — um novo patamar de responsabilidade das marcas, que passam a devolver mais do que retiram.

Transparência radical, economia circular e impacto positivo deixam de ser diferenciais e se tornam obrigações éticas.

Paralelamente, o foco deixa de ser o mainstream e se volta para microcomunidades e tribos culturais, os chamados minorStones — pequenos marcos e micromomentos que conectam pessoas por valores e narrativas locais.

“A Gen Z valoriza autenticidade. Ela quer se ver representada nas marcas que consome — não por estereótipos, mas por afinidade real com valores, estética e propósito”, explica Caroline.

Tecnologia com propósito e leveza digital

O uso de inteligência artificial continuará crescendo, mas com uma nova lente: IA com propósito (AI for Good).

Segundo Caroline, não se trata apenas de eficiência, mas de humanizar o uso da tecnologia: “As pessoas querem entender o porquê por trás da IA. As marcas que comunicarem com clareza seu impacto e ética terão mais confiança.”

Ao mesmo tempo, o fenômeno global da Great Exhaustion, apontado pela WGSN, mostra que o público está cansado de estímulos incessantes.

“Vivemos um paradoxo: buscamos conexão, mas também paz. O marketing precisa respeitar o tempo do consumidor”, destaca.

O consumo funcional e a estética híbrida

Em meio à instabilidade econômica global, cresce o desejo por produtos multifuncionais — o famoso “3 em 1” da nova geração.

Funcionalidade, estética e propósito se tornam o tripé do consumo inteligente.

E visualmente, 2026 será o ano do cultural hybrid branding: um mix entre artesanato e tecnologia, nostalgia e futurismo, imperfeição e inovação.

Fim da segmentação etária e início do diálogo intergeracional

Estudos da Harvard Business Review apontam uma transição importante: o marketing deixa de falar para gerações e passa a criar pontes entre elas.

A autenticidade se torna o idioma comum.

“Não existe mais a marca da Gen Z ou dos Millennials. Existe a marca que entende pessoas. E isso é atemporal”, conclui Caroline.

Sobre Caroline Jurdi

Caroline Jurdi é especialista em branding e comportamento de consumo, fundadora da CJ Hub, agência que atua no modelo Marketing as a Service, unindo estratégia, criatividade e tecnologia.
Trend Hunter e pesquisadora de comportamento, percorreu polos de inovação como Coreia do Sul, Japão, Nova York e Cingapura, estudando de perto as transformações do varejo e do consumo global.
Formada em Comunicação pela Universidade de Gutenberg (Alemanha), em Publicidade pela ESPM, e pós-graduada em Administração pela FGV, Caroline traduz tendências globais em estratégias reais e aplicáveis para o mercado brasileiro.

Fonte: Gabi Oliveira

Coluna “Discutindo a relação…”

Marketing e Branding: muito mais amigos do que você imagina

Por Josué Brazil (com uma ajuda de IA)

Imagem gerada pela IA do Canva

Tem gente por aí que ainda insiste em colocar marketing e branding em lados opostos do ringue, como se fossem rivais históricos disputando quem tem mais razão. Mas a verdade é que eles jogam no mesmo time — e quando trabalham juntos, o resultado é muito mais potente.

Marketing é a engrenagem que movimenta o negócio, abre caminho, conecta, mede e ajusta. Já o branding é aquele fio condutor que dá sentido à jornada, define a identidade e garante que a marca não se perca no meio da correria diária. Se o marketing pensa em como chegar ao público, o branding responde à pergunta: por que o público deveria se importar com você?

O problema é que, nos últimos anos, o marketing ficou “encurtado” no imaginário de muita gente, reduzido quase que exclusivamente a métricas de performance: CAC, ROI, CTR, CPC, CPA, KPI (ufa!). A ideia de marketing, pra muita gente, passou a ser apenas a do marketing operacional, tático e de performance (muito em função do crescimento do chamado marketing digital). Claro, tudo isso é importante — ninguém aqui está demonizando relatórios ou dashboards. Mas marketing estratégico de verdade vai muito além de apertar botões e otimizar anúncios.

É aqui que o branding entra como parceiro indispensável. Ele é o responsável por dar consistência, por construir marcas que não apenas vendem, mas permanecem relevantes, desejadas e lembradas. Enquanto a performance olha para o clique de hoje, o branding trabalha para que exista alguém interessado em clicar amanhã.

O marketing estratégico olha para o longo prazo, preparara-se para o futuro e cria diferenciação sustentável. O marketing estratégico não é sobre campanhas isoladas, mas sobre posicionamento, consistência e geração de valor sustentável. E para tanto, o branding é peça fundamental.

Em resumo: marketing sem branding pode até dar resultados de curto prazo, mas é como correr uma maratona de fôlego curto. Branding sem marketing, por sua vez, corre o risco de ser só discurso bonito em PowerPoint. Juntos, eles garantem o equilíbrio entre o agora e o futuro, entre a necessidade de vender e o desejo de permanecer.

No fim das contas, o que chamamos de marketing estratégico nada mais é do que essa dança bem coreografada: performance sem perder de vista a essência, vendas sem abrir mão de valores, resultados que não sacrificam a história que a marca está construindo.

E, convenhamos, se o branding fosse apenas “antagônico” ao marketing, não haveria tanta marca que atravessa décadas, gerações e mudanças de mercado. A sobrevivência delas é a prova de que branding é — e sempre será — a alma de um marketing que pensa grande e pensa longe.