O que o consumidor espera das marcas com a pandemia da Covid-19

Preço baixo, qualidade alta, comunicação com propósito e transparência estão entre os principais pontos

Camila Maquea Leite

Em tempos de incertezas, informações relevantes e atuais são ainda mais essenciais para os negócios, especialmente na área de vendas e marketing. Com base em recentes pesquisas de mercado, a Coordenadora de BI, Inteligência e Comunicação de Negócios da RPC, Camila Maquea Leite, analisou pontos de mudança no comportamento do consumidor em decorrência da pandemia da Covid-19. O assunto foi debatido em um webinário organizado pela Amcham Curitiba (Câmara Americana de Comércio). Confira o que o consumidor espera das marcas atualmente:

Confiança abalada

Uma pesquisa da consultoria McKinsey & Company, realizada em fevereiro e março de 2021, mostrou que a maioria dos brasileiros (46%) acreditam que a economia será impactada por seis a 12 meses ou mais. Os otimistas, que esperam que a economia vá se recuperar dentro de dois a três meses, representam 39% da população e 14% estão pessimistas, acham que a Covid-19 terá um efeito duradouro na economia. “O brasileiro tem como marca registrada o otimismo e a ideia de que tudo vai ficar bem, mas de acordo com os números da pesquisa notamos o consumidor mais com os pés no chão e fazendo escolhas mais qualitativas”, comenta a coordenadora da RPC.

Choque à fidelidade

85% dos brasileiros experimentaram novas marcas ou lojas durante a crise e o principal motivo é a busca por menor preço, de acordo com a pesquisa da McKinsey & Company. Para Camila, a área de negócios e vendas deve se preocupar mais em proteção ao consumidor fiel, explorar novos níveis de conexão afetiva entre marca e consumidor, aumentar os estímulos à experimentação para conquista de novos consumidores, especialmente oferecendo uma boa relação custo x benefício e melhorar o nível de sua execução online e experiência na loja física.

Baixo custo e qualidade alta

Na nova economia, o público busca baixo custo, alta qualidade. Exemplos disso são o Airbnb, Uber e Netflix. “Na pandemia, esse comportamento aumentou ainda mais. O poder aquisitivo da população ficou mais limitado e o cliente tolera mais os problemas com um determinado produto ou serviço desde que a empresa o resolva, prioriza a boa entrega e o investimento baixo ao mesmo tempo”, explica Camila. O crescimento de opções como cashback e período grátis de degustação de produtos são consequências desse movimento.

Propósito

Nas propagandas publicitárias, as pessoas querem ver mais o propósito das marcas do que a venda por si só. Segundo a pesquisa COVID-19 Barometer, da consultoria Kantar, o público quer saber o que as marcas estão fazendo para ajudar os seus funcionários (78%), o cliente (71%) e a comunidade (75%). Apenas 28% querem ver propagandas normais, como antes da crise. A coordenadora da RPC relembra que viemos de um período de propagandas focadas em ações de varejo, hoje vemos que o público se importa muito mais com o propósito das empresas.

Marcas fortes, recuperação rápida

Um estudo da BrandZ mostrou que as marcas mais valiosas tiveram menores perdas nas ações quando a pandemia começou. A análise também indicou que marcas mais fortes se recuperam nove vezes mais rapidamente de períodos de crise do que a média. “O consumidor está mais consciente e atualmente quer fazer boas escolhas e prefere ter poucos e bons produtos. Prefere ter um bom tênis, que não dê problemas, do que vários que durem poucos meses”, destaca Camila.

Fonte: Página 1 Comunicação

Coluna “Discutindo a relação…”

A propaganda tem que mudar
A propaganda está mudando
A propaganda já mudou

Vivemos tempos difíceis em função da pandemia. Todos já estamos cientes e até cansados disso. Mas esse período permitiu uma série de descobertas e oportunidades de mudança. De fato, muitas das mudanças foram forçadas e aconteceram num ritmo muito maior do que se previa. Daí o título deste texto.

Ficou ainda mais claro pra todo mundo – eu acho que ao menos para uma maioria – que modelos que antes eram sinônimo de sucesso agora são o caminho para o fracasso. A propaganda tem que mudar porque não dá mais para ficar repetindo coisas que têm afastado clientes e determinado perda de valor. Sim, vivemos momentos de glória, mas isso passou. A discussão em torno do BV, por exemplo, foi retomada em função da decisão do Cade de não permitir seu pagamento. Pois bem, configurou-se aí uma ótima oportunidade de pensar em alternativas e de romper um ciclo que julgo – já escrevi sobre isso diversas outras vezes – vicioso para a propaganda. Mas me parece que não será esse o caminho tomado pelos players de nosso mercado.

Por outro lado temos visto uma profusão de novos modelos de “agências” e “consultorias” surgindo no mercado. Várias propostas muito interessantes já são realidade e sucesso empresarial. Isto prova que a propaganda está mudando. Outra coisa: mesmo as agências mais tradicionais abriram os olhos para a questão da diversidade e da co-criação. Prova de que a propaganda está mudando. E uma última coisa: agências e anunciantes tem buscado desenvolver comunicação baseada em propósito. Um propósito verdadeiro e praticado em todos os níveis e momentos da marca.

Image by Gerd Altmann from Pixabay

Quando vemos uma nova geração de publicitários apostando muito mais num trabalho coletivo e colaborativo e menos na figura do grande líder e messias criativo, numa nova forma de encarar a realidade brasileira e se valendo de dados, plataformas e recursos digitais; quando vemos a diversidade de novos cargos e funções em propaganda/comunicação e quando vemos a presença inquestionável e definitiva do digital entendemos que a propaganda mudou.

Tudo isso só nos faz pensar que a propaganda tem que continuar mudando, que temos que entender e abraçar as mudanças que já estão em curso e que temos que estar prontos para tudo que já mudou!

E só há um jeito de lidar com tudo isso: enfiar na cabeça que mudanças vão ocorrer em ritmo cada vez mais acelerado, que teremos que deixar de ser super especialistas e passar a entender muito bem todo o processo e extrair disso as melhores oportunidades para fazer trabalhos relevantes; que temos que nos acostumar a aprender para sempre.

Um bom 2021 pra todos os players de nosso mercado!!!

Marcas que investem em propósito e responsabilidade social têm resistido melhor à pandemia

Análise da Kantar também mostrou que campanhas engajadas geram mais buzz online

Um dos legados que a pandemia deixará é o da importância que os consumidores dão à responsabilidade e ao propósito das marcas. No Brasil, a expectativa dos consumidores foi que as marcas se engajassem em relação à pandemia na quarentena, que começou no final de março: segundo o Barômetro Covid-19, principal pesquisa sobre o tema, na época, 25% dos brasileiros esperavam que as marcas servissem de exemplo e guiassem a mudança.

Foto de Serpstat no Pexels

Três meses depois, em meados de junho, perguntamos para os entrevistados quais marcas estavam adotando ações positivas para a sociedade em relação ao tema da pandemia gerada pelo coronavírus. Entre as mais citadas estão Ambev, iFood, Banco do Brasil e Magazine Luiza.

Mais recentemente, na oitava onda realizada no final de agosto, 32% dos entrevistados ainda querem que as marcas guiem a mudança; 23% que mostrem que a crise pode ser derrotada; e 16% que sejam práticas e realistas. “Com a evolução do cenário esse desejo por parte dos consumidores se amplia, mas ainda é necessário que as marcas estejam engajadas na mudança e sejam líderes”, afirma Luciana Piedemonte, diretora e líder de Brand Strategy da Kantar Brasil.

Campanhas engajadas no Brasil geram mais buzz online

Nessa mesma linha, a Kantar Brasil analisou o começo da pandemia com sua ferramenta de inteligência de dados e identificou que os maiores picos de mensagens no Twitter foram gerados durante campanhas socialmente responsáveis e com propósito.

Logo no começo da pandemia, no fim de março, a Magazine Luíza conseguiu vários picos de buzz online ao lançar uma campanha de frete grátis para produtos relacionados à pandemia (como máscaras, álcool em gel e nebulizadores); já o iFood, teve um número recorde de mensagens nesse mesmo período ao anunciar seus fundos de auxílio a restaurantes e entregadores; em maio, o Banco do Brasil protagonizou outra elevação no número de mensagens ao estrear sua campanha de apoio a empreendedores e pequenas empresas durante a pandemia; já a Ambev teve um grande pico em março ao anunciar a produção de 500 mil unidades de álcool gel para distribuir a hospitais da rede pública nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e no Distrito Federal.

Algumas das marcas citadas pelos consumidores no Barômetro também tiveram um crescimento em menções durante a pandemia em relação aos três meses anteriores: Ambev teve quase o dobro de posts nas redes sociais enquanto Banco do Brasil teve um crescimento de 240%.

“A pandemia e todas as suas dificuldades confirmaram que os consumidores procuram muito mais em uma marca do que apenas descontos. O jeito como ela se comporta em relação à comunidade à sua volta e, por consequência, seus problemas diários, determina o nível de engajamento que as pessoas têm com ela”, diz Luciana.

Dentro da análise da Kantar, foi identificado que todas as marcas avaliadas tiveram um volume de mensagens acima da média nos primeiros meses da pandemia, e marcas de varejo com forte presença online, como Magazine Luiza e Americanas, tiveram um sentimento positivo acima da média. Isso pode ter acontecido por essas marcas conseguirem aliar propósito com um modelo de negócio – com forte presença digital – muito utilizado pelos consumidores durante a pandemia.

Fonte: Tamer Comunicação – Karina Rodrigues

Coluna “Discutindo a relação…”

Uma estratégia para um propósito ou um propósito para uma estratégia?

Sim, eu sei.. num primeiro momento isso lembra aquele famosíssimo slogan: “A Tostines vende mais porque tá sempre fresquinha ou tá sempre fresquinha porque vende mais?”.  Além de bom, esse slogan sempre me soou muito engraçado…

O papo aqui, entretanto, é sério. Muito sério!

Muita gente tem dado entrevista, falado em podcasts e em lives que as marcas que tiverem um propósito firme e verdadeiro se darão bem neste momento de crise. E eu concordo 100%. Super! Mas o que ninguém consegue dizer com clareza é que devemos buscar uma estratégia que gere um propósito ou se devemos ter um propósito que gere uma estratégia de marketing e comunicação?

Eu digo que fico com a segunda hipótese. E não estou apenas chutando ou dando palpite (o que também está muito em alta nos dias atuais). O que eu penso e verbalizo está apoiado (e muito bem apoiado) nas ideias de Cynthia A. Montgomery, professora da Harvard Business School e autora do ótimo livro “O Estrategista – Seja o líder de que sua empresa precisa”.

A “roda da estratégia”

Neste livro a Cynthia (desculpa a intimidade) defende que o propósito deva ser o ponto central de toda empresa de destaque em seu segmento de atuação. Ela propõe o que chama de “roda da estratégia”, um sistema de criação de valor pensado em torno do propósito e que direciona toda a estratégia da empresa. Incluindo marketing e comunicação.

Ela traz exemplos bastante práticos de empresas como Ikea, Nike, Gucci e outras, que
estabeleceram estratégias de mercado e comunicação a partir de uma forte compreensão de seu propósito.

O interessante da proposta da autora é que ela não fecha um modelo único da “roda da estratégia”. Ao contrário. Ela propõe que cada empresa e cada propósito demandem um sistema diferente de apoio e consecução da estratégia.

Então, acredito que devemos ter o propósito para depois ter uma estratégia de comunicação do mesmo. Ache seu propósito e crie sua estratégia em torno dele.