Cidades, assim como pessoas, também têm personalidade. Cada destino carrega símbolos, histórias e vocações que o tornam único. Quando esses elementos são organizados e comunicados de forma estratégica, surge o que chamamos no marketing de “Place Branding”, uma ferramenta capaz de transformar lugares em marcas reconhecidas, despertando desejo, orgulho, pertencimento e conexões afetivas.
Recentemente, vimos esse debate ganhar força no Brasil com o anúncio do prefeito Eduardo Paes sobre a criação de uma marca oficial para o Rio de Janeiro, inspirada na icônica campanha “I ❤ NY”, criada nos anos 70 e que perdura até hoje. A proposta é dar ao Rio uma identidade visual capaz de ampliar sua projeção nacional e internacional.
Esse movimento não é isolado. Outras cidades já investiram em place branding. Foz do Iguaçu, por exemplo, tem a campanha “Foz do Iguaçu: Destino do Mundo”, posicionando-se como um polo global de turismo. Palmas (TO) trabalha com o slogan “Quem conhece Palmas se apaixona”, que remete a uma experiência de descoberta e afeto. Fora do Brasil, temos exemplos criativos como Amsterdã, com o famoso “I amsterdam”, que transformou um jogo de palavras em um dos maiores cases internacionais de comunicação de destino.
O grande diferencial do place branding está na capacidade de unir todos os atores envolvidos no turismo em torno de uma narrativa única, com poder público, trade turístico, comunidade local e até investidores trabalhando juntos. Quando bem estruturada, essa narrativa fortalece a cultura local, valoriza a identidade do território e abre espaço para novos ciclos de desenvolvimento econômico e social.
Mas é importante reforçar que o place branding não é uma fórmula pronta. O que funciona em Nova York ou em Amsterdã pode não ter o mesmo efeito em outras cidades. Cada destino possui singularidades, vocações e desafios próprios. O segredo está em identificar aquilo que o torna único e transformar esses elementos em pilares de comunicação e experiência.
Além disso, trata-se de um processo de longo prazo. Não se trata de resultados imediatos, mas de uma estratégia contínua, que evolui com o tempo e com a participação ativa da comunidade.
Mas de uma coisa eu não tenho dúvidas: o place branding é um investimento que vale a pena e que vai muito além do turismo, porque impacta a economia, a cultura e o sentimento de identidade de quem vive e de quem visita.
*Thais Medina é CEO da agência de Marketing e representação de destinos Business Factory e professora na pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas e Senac-SP.
Diante de um mercado repleto de soluções tecnológicas, a ideia de que o “melhor software vence a concorrência” se tornou um mito. Atualmente, a competição pelos clientes não é travada com base nos recursos que uma solução possui, mas na jornada que a empresa oferece. É nesse contexto que a experiência do cliente, mais conhecida como Customer Experience (CX), e Customer Engagement (CE), uma nomenclatura nova, surgem como importantes atrativo para o negócio.
Quando falamos sobre esses conceitos, é importante destacar que essas abordagens não se tratam apenas de ter um bom atendimento, mas de consolidar parcerias duradouras, garantindo que, no longo prazo, o consumidor chegue à conclusão de que permanecer com o produto é tão estratégico quanto a decisão de adquiri-lo.
Como prova do protagonismo da experiência do cliente no dia a dia das organizações, um levantamento da Genesys revelou que, para 93% dos participantes, “uma empresa só é tão boa quanto seu atendimento”. A pesquisa ainda mostrou que 34% abandonaram a organização após alguma experiência negativa e 75% estão dispostos a pagar mais por um serviço que ofereça um atendimento de qualidade.
O estudo corrobora o atual cenário, marcado pela mudança de comportamento dos usuários. Ou seja, não é mais apenas a qualidade de um produto que determina a fidelização do cliente, mas sim as interações humanizadas e voltadas a assegurar a melhor experiência para o usuário.
Em se tratando de softwares, falar em migração de sistemas causa arrepios em boa parte do empresariado. Isso porque situações anteriores ou, até mesmo, relatos de dificuldades enfrentadas, desafios, mau atendimento, entre outros fatores, acaba criando uma impressão errada sobre a execução do projeto e gerando resistência para investir na adoção.
Todavia, é importante ressaltar que a experiência do cliente não deve ser uma preocupação apenas antes e durante o projeto. Também é preciso dar atenção ao pós-atendimento. Em projetos de implementação de ERP, é comum que, com o tempo, alguns usuários passem a subutilizar a ferramenta, por razões que variam desde a rotatividade de colaboradores até dificuldades na adoção de novos recursos.
Sendo assim, é crucial que, mesmo com a finalização de um projeto, o time continue engajado em garantir ao usuário todo o respaldo necessário. É essa ação que irá assegurar a fidelização, bem como permitir que o cliente, quando satisfeito, faça indicações, contribuindo para o aumento da cartela de usuários.
Dessa forma, mais do que investir em diversas soluções, é essencial que as organizações tenham um olhar estratégico para o CX e CE, a fim de promover ao cliente um atendimento humanizado que coloque sua satisfação no centro das operações.
Por outro lado, para o consumidor, na hora de escolher um produto ou serviço, principalmente um software de gestão, é essencial optar por uma consultoria que tenha o engajamento do usuário entre as prioridades. É primordial escolher a equipe que, além de ofertar, garanta a satisfação da base por meio de ações de monitoramento e aplicação de melhorias indicadas pelo próprio usuário.
Cada vez mais, a experiência do cliente tem se tornado um elemento estratégico indispensável para as organizações que querem se sobressair diante do cenário de alta concorrência. É esse olhar humanizado que irá determinar o sucesso das operações e, consequentemente, o maior nível de satisfação dos clientes. Afinal, mais do que tecnologia, é importante investir no bem-estar das pessoas.
Halisson Tadeu Pontarola, presidente da Central de Outdoor – Crédito: Divulgação
Por Halisson Tadeu Pontarola*
Há algo de único em caminhar por uma cidade e perceber como a mídia exterior faz parte da nossa vida cotidiana. Seja um painel no meio do trânsito, uma mensagem no caminho para o trabalho ou uma campanha que se torna assunto nas rodas de conversa, o outdoor é presença viva na paisagem urbana. Ele acompanha o ritmo das cidades, muda com elas e, muitas vezes, ajuda a contar suas histórias. É por isso que, quando chega 31 de agosto, o Dia Nacional do Outdoor, não comemoramos apenas um formato publicitário, celebramos uma tradição que se reinventa e segue relevante em um mundo cada vez mais digital e conectado.
No Brasil, evoluímos para um cenário onde o físico e o digital se misturam, criando novas possibilidades de interação e impacto. Adaptar-se às particularidades regionais e ao perfil de cada público continua sendo essencial, mas o futuro traz oportunidades ainda mais ousadas. Segundo a PQ Media, em 2026 o Digital Out of Home (DOOH) deve representar 36,5% do bolo publicitário global, contra 28,8% em 2021. Esse avanço será impulsionado por tendências como hiper personalização por meio de inteligência artificial e dados, integração com a digitalização urbana, uso de geolocalização e dados em tempo real e o fortalecimento da sustentabilidade nas campanhas e conteúdos interativos.
Tenho abordado sobre a mídia regenerativa como um caminho para o futuro do OOH. Essa visão permanece firme: mais do que comunicar, podemos regenerar e cuidar dos espaços onde estamos presentes, entregando valor real para as cidades e para as pessoas. É alinhar criatividade, tecnologia e responsabilidade para que nossos ativos publicitários contribuam com o ordenamento urbano, a valorização da paisagem e o bem-estar coletivo. Isso inclui olhar com prioridade para projetos de recuperação de ambientes que já tiveram grande valor no passado, mas que hoje demandam ações para retomar a vitalidade, o uso e o pertencimento.
A mídia, nesse contexto, atua como facilitadora, ela estrutura a presença responsável, organiza e conecta marcas ao interesse público de recuperar o espaço. Quando entramos como parceiros na zeladoria, cria-se um ciclo positivo: à noite, o local se mantém iluminado e convidativo; durante o dia, ganha um novo atrativo, e as pessoas se sentem à vontade para permanecer, porque o ambiente está limpo e seguro. Isso incentiva o uso qualificado do espaço e ajuda a transformar a cultura e os hábitos de circulação.
Em São Paulo, considerada uma das capitais com o maior índice de pixação do mundo e também reconhecida pelo grafite em seus muros, muitas vezes o OOH é colocado no centro de um debate sobre o que chamam de poluição visual. Mas, se analisarmos com atenção, veremos que existem ao menos quatro elementos que causam muito mais desconforto visual do que outdoors planejados e regulamentados. A pixação, quando feita de forma ilegal, degrada fachadas e muros, transmitindo a sensação de abandono e insegurança. A sinalização mal colocada ou mal dimensionada confunde motoristas e pedestres, além de gerar sobreposição de informações que poluem a paisagem. A fiação exposta, muitas vezes emaranhada nos postes, cria um cenário caótico e perigoso, interferindo na estética e na segurança urbana. Já a ausência ou má conservação de calçadas prejudica a mobilidade, compromete a acessibilidade e impacta diretamente a qualidade de vida.
Em contraste, quando bem inserida, com curadoria estética, integração ao espaço e respeito, a mídia OOH evita o desconforto visual e atua como parceira na preservação e valorização da paisagem. A iluminação qualificada de um ativo de OOH gera efeito imediato de segurança e orientação, enquanto padrões técnicos, manutenção contínua e responsabilidade compartilhada viabilizam ações de zeladoria e requalificação, tornando as cidades mais organizadas, seguras e funcionais.
O Dia Nacional do Outdoor é um convite para celebrar e repensar nosso papel. Seguiremos desenvolvendo campanhas que, além de gerar impacto visual, contribuam para a melhoria dos espaços urbanos e para a experiência de quem circula por eles. O futuro do OOH será definido não apenas pela tecnologia ou pelos formatos, mas pelo valor efetivo que entregarmos às cidades e às pessoas.
*Halisson Tadeu Pontarola é presidente da Central de Outdoor
Rafael Arty, Diretor Comercial da Timelens & Hike Foto: arquivo pessoal
Por Rafael Arty*
Por muito tempo, o marketing de influência viveu sob a lógica do espetáculo. Seguidores viraram sinônimo de autoridade, curtidas passaram a representar relevância, e qualquer métrica pública era suficiente para validar uma estratégia milionária. Foi um período de crescimento vertiginoso, mas também de muita miopia.
Hoje, com os orçamentos digitais sendo pressionados por performance e accountability, essa cortina de fumaça começa a se dissipar. E o que vemos por trás não é exatamente bonito: um mercado que se sofisticou na narrativa, mas ainda tropeça nos fundamentos da mensuração.
Num ambiente onde o algoritmo dita comportamentos e o hype substitui a estratégia, ninguém mais se pergunta: quem está do outro lado da tela? E pior: essa audiência realmente existe?
Estudos indicam que de 15% a 20% dos perfis no Twitter são bots, um programa de software que executa tarefas automatizadas, repetitivas e pré-definidas. O Instagram, segundo a própria Meta, tem cerca de 10% de contas falsas ou inativas. Mas o dado mais revelador vem de uma pesquisa da Timelens, que analisou os 10 maiores influenciadores do Brasil. O estudo encontrou uma média de 6,8% de seguidores com comportamento suspeito, com variações que vão de 0,6% a 16,1% dependendo do perfil.
Analisando o relatório, me chamou atenção que mesmo perfis com taxas mínimas, como 0,6%, representam volumes expressivos quando se fala em bases de dezenas de milhões. Isso não desqualifica a entrega desses criadores, apenas mostra que até os maiores também precisam de leitura qualificada. Ou seja: a presença de contas falsas ou inativas não é uma exclusividade de perfis pequenos ou questionáveis. Isso não significa que grandes criadores entregam menos resultado, muito pelo contrário. Mas reforça que, independentemente do tamanho ou prestígio, toda decisão de investimento deve considerar contexto, qualidade de audiência e estratégia de ativação.
O problema surge quando marcas seguem tomando decisões com base apenas em números brutos — muitas vezes extraídos de ferramentas automáticas ou APIs genéricas — sem qualquer curadoria de dados. Isso gera campanhas ancoradas em audiências parciais ou fictícias, inflando expectativas e distorcendo os aprendizados.
Seguidores não são audiência. E engajamento não é, necessariamente, influência. Mas o desafio vai além dos dados duvidosos, está na forma como o mercado interpreta (ou deixa de interpretar) esses insights. A “taxa de engajamento”, por exemplo, virou um mantra. Mas dependendo da metodologia usada, o resultado muda completamente: se você analisar os últimos 3 posts, sai um número; se olhar os últimos 10, muda de novo; se calcula média ou mediana, mais uma variação; e se a empresa considera só comentários e ignora curtidas, o número despenca.
Apesar disso, ainda se repete que “influenciador bom tem mais de 1% de engajamento”, como se isso bastasse para validar um investimento. A verdade? Esse tipo de métrica, usada fora de contexto, é quase uma ilusão estatística — resposta fácil para perguntas mal feitas.
O risco é claro: quando os dados são tratados como verdades absolutas, sem entender o que de fato representam, todo o funil de decisão é comprometido. E aí, a mídia de influência deixa de ser uma alavanca estratégica para virar um ponto de fricção dentro das empresas.
Já vimos isso acontecer com frequência. Empresas de grande porte, com estruturas robustas e profissionais experientes, investindo R$5 milhões em celebridades com base em uma calculadora gratuita de engajamento, sem qualquer validação metodológica. Isso não desqualifica o uso de grandes nomes — que continuam sendo peças-chave na comunicação de marca — mas mostra que mesmo investimentos altos precisam de critério técnico. Valor não se confunde com volume.
Em paralelo, também já vimos times de marketing frustrados por não conseguirem fechar um marketing mix modeling (técnica analítica que avalia o impacto de diversas iniciativas de marketing no desempenho de uma empresa), porque os dados das campanhas de influência não se conectam com o restante do funil. O topo entrega, mas o meio não explica. A conta não fecha. E a dúvida se instala.
É nesse vácuo que nasce a desconfiança. Não é o modelo de influência que está errado. É a forma como ele tem sido tratado — com pouca metodologia, excesso de simplificação e uma fé quase religiosa em indicadores frágeis.
A creator economy precisa amadurecer. E para isso, precisa parar de medir influência com régua de vaidade. É preciso olhar para o dado com seriedade, entender o contexto, tirar o ruído e conectar a entrega com o negócio. Porque enquanto seguirmos apostando em números bonitos e planilhas fáceis, vamos continuar investindo em fantasmas, e esperando que eles entreguem resultados.
*Rafael Arty é um dos principais especialistas em marketing de influência e mídia digital do Brasil, com mais de 10 anos de experiência liderando estratégias comerciais, construção de produtos e crescimento de startups do setor. Foi responsável por liderar a área de negócios da Squid, onde atuou como sócio e conduziu o crescimento da empresa até sua aquisição pela Locaweb. Na BrandLovrs, assumiu a diretoria comercial e consolidou o modelo de mídia programática com criadores de conteúdo por meio da solução CreatorAds, ajudando marcas a operarem campanhas em escala com inteligência e eficiência. Atualmente, lidera as frentes comerciais da Hike, adtech especializada em canais alternativos de mídia, e da Timelens, empresa focada em análise de dados e comportamento digital